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29.2.16

MANEL DA LENHA - PARTE XX

                                                                  foto do google


O Inverno foi mais difícil que nunca para o Manuel e família. A mulher continuava débil sem forças, três crianças pequenas, mais a mãe,  a casa sem comida e o bolso sem dinheiro.
O Bernardino, amigo de há muito tempo e caseiro de uma das quintas da Seca, levava alguns legumes. As galinhas que ele fora criando, foram aos poucos desaparecendo para completar as refeições. A mulher não tinha forças para ir lavar as roupas ao tanque na quinta. E a toda a hora era preciso lavar fraldas.  De uma barrica que já não era usada na Seca, Manuel fizera uma celha para ela lavar a roupa em casa. Fora só serrá-la ao meio e betumar as frinchas para não perder a água. Mas então… e a água? Como encher a celha, indo buscar a água longe e com uma bilha de cada vez? Aí o ti’Abel deu uma ajuda, levando a água num barril na carroça. O pessoal, residente na Seca, tentava ajudar como podia, mas podia muito pouco, pois todos viviam irmanados, numa vida difícil, embora uns mais que outros, dado o número de filhos e a casa que habitavam, pois o pessoal mais antigo, habitava casa com luz e água, e só isso já facilitava muito a vida. 
Completamente dedicado à família, mal termina o trabalho no armazém da lenha, que como sabemos era duríssimo, Manuel vai fazer (quando os há) o serão na seca. 
Em Março com o final do trabalho na Seca do Bacalhau, deixa de fazer os serões e se por um lado tem mais tempo livre, por outro o dinheiro minga ainda mais no seu bolso. 
O Manuel tem assegurado o seu trabalho de lenhador, mas a mulher, como todos os anos,  fica sem ganhar, até que voltem os navios, e este ano há mais uma pessoa a sustentar, Piedade, a mãe que viera para cuidar dos netos.
Felizmente o ti’Luís Estaca, dono da mercearia da Telha onde Manuel vai buscar o”avio” para a casa, sempre lhe facilita os bens essenciais tenha ou não dinheiro para pagar. Ele tem pena da vida daquele homem, e ao mesmo tempo confia em que ele lhe pagará logo que tenha dinheiro. Afinal, já lhe fiou noutras alturas quando ainda solteiro era um estroina, e nunca deixara de lhe pagar, não era agora, que o ia fazer.
E tem razão, porque o Manuel assim que recebe vai pagar o que deve, mesmo que fique outra vez de bolsos vazios para a próxima semana.
Entretanto a mulher do Manel, parece ter perdido a alegria e a saúde. O filho faz o seu primeiro ano de vida, e as miúdas estão com dois e três anos.
Manuel fez ao lado do barracão, um pequeno chiqueiro, e sonha com o dia em que possa comprar um bacorito, que ele pudesse criar e lhe desse carne para a família. Manuel só sabe fazer duas coisas na vida. Trabalhar que nem besta de carga, e sonhar com tudo o que possa impedir a sua família de passar fome.
Durante o Verão a mulher do Manuel parece ter melhorado bastante, e assim quando os navios chegam com o bacalhau, ela está pronta para trabalhar e ajudar as despesas. Ele também pode agora ganhar um pouco mais aproveitando os serões. 
Porém pouco tempo depois de começar a trabalhar a mulher do Manuel voltou a piorar. Não largou o trabalho mas era visível o seu esforço e a sua debilidade.

17 comentários:

Tintinaine disse...

Hoje fez serão para acrescentar mais um capítulo à história.
Felizmente não é pelos mesmos motivos que o Manel os fazia. Outros tempos!

Laura Santos disse...

Apesar de ter sido um "estróina", Manuel paga sempre o que deve o que é de enaltecer. Pena que a mulher embora tenha melhorado com O Verão, voltasse a piorar.
xx

madrugadas disse...

A coragem desta gente envergonha os que deixam de sonhar e de lutar contra tantas adversidades.

Pedro Coimbra disse...

Gente que luta contra todas as adversidades.
Não é ficção, existe mesmo gente assim.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Vidas e tempos difíceis.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

chica disse...

Rico em detalhes daqueles tempos duros, trabalhos pesados e então suportados! Vamos te seguindo! bjs, chica

Blog da Gigi disse...

ótima semana!!!!!!!!! Beijos

Bell disse...

Querida

Um abençoado março pra vc.
Antigamente as pessoas se esforçavam mais para ter as coisas e até nas conquistas amorosas.
Hoje estamos buscando facilidades.

bjokas =)

Silenciosamente ouvindo... disse...

Estou seguindo atentamente mais esta sua história.
Já sabe que gosto da sua forma de escrever e da
capacidade de narrar acontecimentos.
Desejo que se encontre bem.
Bjs.
Irene Alves

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Pior de tudo amiga, é que muitas pessoas se acovardam diante da primeira dificuldade. A maioria das pessoas, não sabem o que é lutar pra familia sobreviver!Pra conquistar um lugar ao sol!!
Amo tuas hiostórias!
Beijão amiga!
Mariangela

Zé Povinho disse...

A vida dos pobres é sempre difícil mas alguns são mesmo avessos à sorte, ou vice versa...
Abraço do Zé

Portuguesinha disse...

Enternece-me essa honra de gente humilde. Tendo dinheiro faz questão de pagar as dívidas. São poucos os que mantêm esse tipo de integridade. E se calhar, esses poucos continuam a ser os pobres?

Unknown disse...

Apesar de todas as agruras, a gente humilde se enaltece.
Elvira, vc escreve rápido demais, porém é um gosto ler a sua escrita.
Beijo*

Rosemildo Sales Furtado disse...

Apesar das adversidades que a vida se lhe impõe, o Manel honra o nome e a calça que veste. Continuo gostando e aguardando.

Abraços,

Furtado.

Elisa disse...

Beijinho querida Elvira
elisaumarapariganormal.blogspot.pt

Zilani Célia disse...

CONTINUO AQUI.

http://zilanicelia.blogspot.com.br/

Lua Singular disse...

Desculpa a demora, estava longe no médico longe, vou operar os pés
Ninguém sabia o que a mulher tinha?
Beijos
Lua Singular