No final de Dezembro, o José Varandas era também pai de uma
menina. E começava um estranho desafio com o amigo e cunhado Manuel. Ver quem
teria primeiro o filho homem, com que ambos sonhavam.
Em Fevereiro, do ano seguinte, o Capitão e gerente da Seca, chamou o Manel, e
disse-lhe que precisava daquela "casa" para a nova porteira. Mas atendendo a
que ele tinha sido pai há pouco, se ele quisesse ir viver para o barracão junto
ao rio, já lá viviam três casais, mas o barracão era grande, e tinha quatro
quartos pelo que um estava livre, podia mudar-se para lá. Mais tarde se
veria. Claro que ele aceitou. Não tinha dinheiro para outra opção.
Na mudança, a mulher do Manuel descobre que as poucas roupas que tinham
comprado de enxoval antes do casamento se estavam a estragar todas, devido ao
salitre entranhado nas tábuas com que o marido fizera a mobília.
O casarão, como ele lhe chamava, era um enorme barracão assente em pilares
de cimento, com 1 metro de altura, para que a água passasse por baixo nas
tempestades de Inverno, ou nas marés vivas de Agosto, pois ficava bem na margem
do rio Coina. Tinha quatro quartos, com portas e chave, e um salão de 11 metros de
comprimento por 4 metros de largura. Contrariamente aos quartos, este salão não
tinha nenhum forro por baixo do telhado, pelo que não raras vezes pingava lá
dentro quando chovia. A meio do salão uma grande mesa comprida, e de cada lado
um banco corrido de madeira. A mesa era utilizada pelos quatro casais. A um
canto do salão, sobre uma bancada de cimento, dois tijolos,separados por uma grelha de ferro servia de fogão.
A luz era fornecida pelos candeeiros a petróleo, e a água, as mulheres iam buscá-la ao chafariz da Telha, em bilhas de barro, que transportavam à cabeça, sobre uma rodilha de pano, por elas chamada de sogra. Entre o barracão e o chafariz uns quinhentos metros bem medidos. Os casais
davam-se bem, eram colegas e amigos, gente da mesma terra em busca de trabalho
e uma vida melhor.
A primeira obra do Manuel no casarão, foi a construção de um forno, junto ao
fogão, para as mulheres poderem cozer pão.
Se por um lado não havia grande privacidade, pois cada casal dispunha apenas de um quarto para si e para os filhos, por outro havia sempre uma
mulher disponível para cuidar dos miúdos, dois rapazes do Aires, um casal do
António, mais um rapaz do Carlos, e a menina do Manuel.
Manuel sempre desejara um filho e tinha-se mentalizado de que assim seria, mas passada essa primeira decepção, encantou-se com a sua menina, e passa todos os momentos livres com ela, ensinando-lhe caretas e gracinhas.
Em Agosto, o Varandas veio com a novidade. A mulher estava outra vez
“prenhe”. Desta vez é que vinha um menino.
A filha do Manuel faz 1 ano, em Setembro, e é uma miúda franzina mas
saudável.
“Esta sai ao pai” dizia ele com orgulho, já esquecida a desilusão do ano
anterior.
Um mês depois, regressam os bacalhoeiros e recomeça a labuta de cerca de 400 pessoas. É a
altura em que regressam os que partiram para a aldeia, e é a festa do
reencontro.
E a mulher do Manuel, descobre que vai ser de novo mãe.
Renovam-se-lhe as esperanças do filho homem que tanto
anseia.
20 comentários:
Por aqui, a vida não para.
Beijinhos
Fosse sogra ou fosse rodilha, servia para as mulheres colocarem na cabeça e em cima dela transportarem a bilha de barro ou não cheia de água fresca tirada do poço ou da fonte.
O Manel vais ser pai outra vez, pudera, não havia pílula, nem televisão, com forno quente, tinha que se aproveitar o calor para bem cozer o pão!
Boa noite e bom fim de semana, amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
Em quantos filhos vão chegar antes de conseguir o menino?rs Lindo te ler! bjs, chica
Muitas vezes vinham as vizinhas de cantaro de barro à cabeça buscar agua a minha casa que tinha poço. Lá iam elas com a rodilha para proteger a cabeça e segurar o cantaro, . Nós tinhamos poço mas a água era puxada à mão. Usava-se um balde amarrado a uma corda. Mais tarde ja era com uma roda de ferro com uma manivela e muito mais tarde a coisa melhorou, ja havia um motor electrico que puxava a agua para um depósito. Enfim, Elvira. Muitas dificuldades naquela época e à nossa volta as coisas ainda eram piores. Beijinhos amiga e um bom fim de semana
Emilia
Colocada a leitura em dia...
Soubesse eu pintar
e este seu texto era um quadro
Como se costuma dizer, o que interessa é que venha com saúde! ehehe
Bom fim de semana Elvira.
Abraço
Adorei :)
a passar para desejam um bom fim de semana e acompanhar as histórias!
Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt
Oi Elvira
Gostei da piada dos apaixonados ,'irem a horta e nao ver as couves...' é exato assim _ ver como se a cabeça é toda coração _ rs
E essa ideia de que precisam provar alguma coisa tendo um filho homem como se diz no interior é outra piada ... e enchem a casa de pimpolhos... rs vai entender, né?
Vamos esperar pra ver o que mais aguarda ao Manel da Lenha
beijos e boa semana
Passei no "Sexta", ao sábado, para lhe desejar bom fim de semana e acompanhar o Manel da lenha! Abraço.
Oi Elvira, bom dia!
Linda história de vida, tão bem narrada!
Um ótimo sábado (aqui chuvoso)!!
Um grande abraço!!
Mariangela
Como a história já vai adiantada... fui ler os três primeiros capítulos e assim irei fazendo até me pôr em dia.
Vidas sofridas, que só quem as viveu ou delas teve conhecimento de perto é que pode avaliar a luta que representava a sobrevivência do dia a dia.
Vai dar um segundo livro... certo? :)
Bom fim de semana.
Um abraço,
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Tempos tão difíceis, e muito bem narrados.
E lá vem outro bebé a caminho, talvez o rapaz agora.
xx
Que seja saudável e homem, é escusado dizer.
Beijo*
Continuando a acompanhar e a deliciar-me, por um lado, com as peripécias, por outro algum sentimento de tristeza por estas vidas tão duras.
Obg, Elvira por estes registos.
Bjo :)
Aconteceu a tantos "manéis"...estou a gostar! Bj
Aconteceu a tantos "manéis"...estou a gostar! Bj
Parece que as coisas começam a melhorar e a esperança de um filho macho tende a aumentar. Continuo gostando e aguardando os acontecimentos.
Abraços,
Furtado.
OI ELVIRA!
AQUI, LENDO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Oi Elvira,
Já pensou se eu morasse por aí naquela época que os filhos não vinham?
Não quero nem pensar.
Gostei
Beijos
Minicontista2
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