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3.2.21

SONHO AO LUAR - PARTE XII

Um mês depois, tinha-se estabelecido uma grande amizade entre os dois. O livro estava quase pronto, e era frequente vê-los, passeando, ora até à praia, ora aventurando-se pelos caminhos da serra. 

Para Isabel era como se tivesse voltado dez anos atrás, quando inseparáveis percorriam aqueles mesmos caminhos, em longas conversas.
Raro era o dia, que a avó não lhe chamava a atenção, preocupada que estava com a sua felicidade. Ela, fazia ouvidos de mercador, empenhada em desfrutar ao máximo da companhia dele. 

Tinha pedido férias sem vencimento, no escritório, e pensava todos os dias, que tinha que procurar um espaço para montar o seu escritório, mas arranjava sempre uma desculpa para adiar essa resolução.
Uma tarde, depois de terem estado durante uma hora a rever o último capítulo, ela lendo o que estava escrito, ele corrigindo frases, mudando palavras, deram enfim o livro por terminado.
No dia seguinte sairia para a editora.

Então, ele disse-lhe que ia visitar a idosa, da casa ao lado, e pediu-lhe para o acompanhar. Isabel ficou aflita, não podia avisar a avó, e receava que ela a pudesse denunciar.

Ele cumprimentou carinhosamente a senhora, que o levou para a sala, onde conversaram sobre a sua ausência, e o que tinha feito da vida durante a sua ausência.
Depois a avó disse que ia fazer um chá, e Isabel ofereceu-se para a ajudar, a fim de recomendar à avó, que não a desmascarasse.

A visita foi muito agradável, e acabou por se prolongar. Na volta, ele rompeu o silêncio para dizer.
-É uma senhora muito agradável. Tanto que me esqueci de lhe perguntar pela neta. Antigamente ela estava sempre cá, de férias, nesta altura do ano.

Isabel estremeceu. Ele lembrava-se dela. Com voz tremente, perguntou:
-Eram amigos?
- Amigos? Não. Era muito mais do que uma amiga. Era uma irmã.

Ela deu graças a Deus por ele não a poder ver. Uma irmã. Foi assim que ele sempre a viu. Por isso ficou tão zangado naquele dia. Com raiva, limpou as lágrimas que iam deixando um rasto molhado no rosto pálido. Percorreram em silêncio, o resto do caminho. Depois ele recolheu-se ao quarto, enquanto ela morta de dor, arrumou a secretária, pegou na mala e foi para casa. Ficaria muito surpreendida, se tivesse visto o sorriso enigmático do homem, quando meia hora depois regressou ao escritório.

25.1.21

SONHO AO LUAR - PARTE VIII

 


Pela primeira vez, viu no seu rosto um leve sorriso.
- Bom parece que está empenhada em mostrar serviço.
- Entusiasmei-me, nem dei pelas horas, - disse ao mesmo tempo que parava o gravador. Imprimiu a última folha, e fechou o computador. Teve vontade de lhe dizer que gostava da história, mas temeu que ele pudesse pensar que estava a intrometer-se.

- Deve estar cheia de fome. Vou pedir à Antónia que lhe faça um lanche.
- Não precisa. Daqui a pouco são horas de jantar. Bom, então até amanhã.
Ele não respondeu. Parecia perdido em qualquer mundo só dele.

Já na rua, a jovem respirou fundo. Tentava recuperar a calma, mas estava difícil. Tinha mais dez anos, era uma mulher adulta, mas no seu íntimo sentia-se como a adolescente de dezasseis anos.

Chegou a casa, tomou banho, mudou de roupa e foi para a cozinha, onde a avó se afadigava a fazer o jantar.
- Senta-te avó. Eu acabo de fazer o jantar. Desculpa, estive toda a tarde a redigir o novo livro do Hélder. Ainda não descobri o nome que usa como escritor, já que confirmei na Internet e não existe nenhum livro publicado por Hélder Figueiredo. Dizes que há dez anos não vinha cá?

-Mais ou menos. Lembro que há uns três anos, vi as janelas abertas, mas foi só um dia, não cheguei a vê-lo. Ou veio buscar alguma coisa e partiu de seguida, ou foi alguém a mando dele. Hoje admirei-me de o ver passar para o lado da serra, e fiquei a pensar o que é que fazias lá em casa, se ele não estava. Eu pensava que ias escrever o que ele te ditava.

- Não é preciso que esteja presente, avó. Quando ele tem ideias novas, dita-as para um gravador. Depois eu oiço e redijo. Isto quando se trate do livro. Haverá muitas outras tarefas que não a redação do livro, mas que fazem parte do trabalho de uma secretária.
- Bom, a falar verdade, eu continuo a achar esta ideia maluca. Penso que devias voltar para a cidade, e procurar dar um rumo à tua vida, esquecendo essa paixão de menina, que temo só te traga infelicidade.

- Pode ser avó. Mas tenho que tentar. Não tens ideia de quantas noites, passei sem dormir a pensar nele. Se não o esqueci, quando não sabia nada dele, como vou esquecê-lo agora, que o tenho aqui e  sei que precisa de mim.
- Temo que confundas piedade com amor, filha.
- Não te preocupes. Sei a diferença. A comida está pronta. Vamos jantar?






9.5.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE XLVI


António caminhava a passos largos no escritório, da sua casa em Sintra. Numa mão, um copo de Whisky, na outra o telemóvel. Lutava contra o desejo de ligar para Paula Maldonado.
Tinha passado o dia com o sobrinho. De manhã subiram a serra, à descoberta do Castelo dos Mouros. Foi maravilhoso ver o interesse do miúdo, o desejo de saber coisas sobre os mouros, que ali teriam vivido muitos séculos atrás, a agilidade com que subia e descia as escadas, o encanto quando do alto das suas muralhas observaram a paisagem desde o Cabo da Roca até à Ericeira, num deslumbre para os olhos. Ou quando já de regresso passaram junto  da rocha conhecida pela Cova Encantada, pelo corte que apresenta e pela lenda de Zaida, a Moura Encantada que lhe está associada.
Depois do almoço, foram para junto da piscina, onde se mantiveram até à hora do lanche, ora nadando, ora jogando à bola na relva à sua volta. Depois do lanche, tomaram banho, mudaram de roupa e viram na televisão “O rei Leão”, enquanto esperavam que os pais do menino, o viessem buscar.
Fora uma excelente maneira de passar o dia e esquecer por algumas horas, a jovem, que não lhe saía do pensamento como se fosse uma obsessão.
Tinham decorrido duas semanas depois da festa de renovação de votos da sua irmã, e desde aí não voltara a vê-la. Tinha sonhado com o dia da festa, como aquele em que mudaria toda a sua vida. Desistira da vingança contra o pai dela, desde que fora ao seu escritório, e devolvera todos os documentos na véspera, para que naquele dia, quando lhe falasse dos seus sentimentos o fizesse de alma limpa, sem qualquer sentimento menos bom, que os pudesse manchar. Amava aquela mulher e estava convencido que se o sentimento não era recíproco, pelo menos ele não lhe era indiferente. Mas vá lá um homem compreender as mulheres. Quando pensa que as conquistou, elas deixam cair sobre eles o manto da desilusão, e cortam toda a esperança, com o machado da dúvida. Foi o que aconteceu quando ela se negou a acompanhá-lo ao casamento do seu sócio, e lhe deu a entender que não acreditava nele.
Ficou magoado e involuntariamente lembrou-se daquela época em que o pai dela, se negou a escutá-lo, o acusou, e denunciou à polícia. E a partir daí a festa acabou para ele. Desde então, tentou esquecê-la, mas o sentimento que ela lhe inspirara estava demasiado entranhado no seu ser. Era como o sangue que lhe corria nas veias, ou o ar que respirava.
Paula esquecera as suas roupas no quarto de hóspedes, quando se trocara para a festa. Era um pretexto para poder falar com ela, mas ainda assim não tivera coragem de lhe ligar e pedira à sua secretária que lhe ligasse para o escritório, mas a secretária, informara  que ela fora de férias e só voltaria no fim do mês. Porém naquela tarde, quando viera buscar o filho, Gabi disse-lhe  que a encontraram no restaurante onde foram almoçar. E agora ali estava ele, quase quarentão, nervoso como um adolescente, sem saber se lhe  telefonava ou não.



Nota: Quem gostar de lendas é só clicar no link para conhecer esta bonita lenda.


30.6.18

SINTRA - A CAPITAL DO ROMANTISMO


Diz-nos a História que na Serra de Sintra se encontram vestígios de todas as épocas desde o neolítico até à actualidade. 

A história de Sintra é tão grande e variada, que não caberia neste espaço, pelo que vos remeto para este site e assim quem estiver interessado, poderá conhecê-la a fundo.




Depois da conquista de Lisboa em 1147 por D. Afonso Henriques, Sintra é definitivamente integrada no espaço cristão. Logo após a tomada do Castelo, D. Afonso Henriques funda a igreja de São Pedro de Canaferrim, outorgando Carta de Foral à Vila de Sintra em 1154. 

Nos séculos  XI e XII estabeleceram-se na zona vários conventos e ordens militares, que possuíam casas e vinhas e que fizeram prosperar a vila.Porém no século XIV, a epidemia de peste negra, chegou a Sintra, onde se propagou rapidamente devido ao clima frio e húmido da Vila, tendo dizimado uma boa parte da população. 





Conheceu um período de menos brilho, durante o domínio espanhol, quando os duques de Bragança se transferem para Vila Viçosa. Mais tarde o terramoto de 1755 causou em Sintra, como aliás em quase todo o país, avultados prejuízos e grande número de vítimas. Mas esta não foi a única tragédia que assolou Sintra. O grande ciclone de Fevereiro de 1941, provocou em Sintra uma enorme destruição. Seis anos depois, cai na serra, o bimotor Dakota, proveniente de França, em que morrem carbonizadas 16 pessoas. 
Mais recente ainda, muitos de nós lembramos o grande incêndio de Setembro de 1966, que incontrolável durante seis dias destruiu quase a totalidade da Serra. Nele morreram carbonizados, 25 militares que operavam no combate e que sem preparação conveniente, se deixaram cercar pelas chamas.
Em Sintra viveram grandes escritores nacionais e estrangeiros, como Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão, Ferreira de Castro, o poeta inglês Robert Southey, Lord Byron, que a imortalizou num dos seus poemas como "Cintra's glorious Eden" entre muitos outros, que a glorificaram e lhe deram fama de "A capital do Romantismo"


Para se encantar em Sintra, não pode deixar de visitar,  o Palácio Nacional de Sintra, também chamado Palácio da Vila, o Palácio da Pena, e o Castelo dos Mouros.



 Ainda o palácio da Regaleira, na quinta do mesmo nome, mandado construir por Monteiro de Carvalho o "Monteiro dos Milhões", em cujo espaço se encontram verdadeiras maravilhas arquitectónicas e botanicas,
o Palácio de Seteais, e o Palácio de Monserrate, o Convento dos Capuchos, a fonte da Pipa, com seus painéis de Azulejos.  As várias igrejas e capelas das quais destaco a de S. Pedro,cuja construção remonta ao século XVI.
O Museu de História Natural,


 o Museu do Ar, e a casa-museu Leal da Câmara, o Centro de Ciência Viva, o Museu das Artes de Sintra, o Museu Ferreira de Castro,


 e o recentemente inaugurado News Museu, dedicado à Comunicação Social, que ocupa as instalações do antigo Museu do Brinquedo, são outros espaços a não perder.
Bom, e praias?- Pergunta-me, quem não as dispensa.no Verão. Pois ali bem perto integrado no Parque Natural de Sintra-Cascais, existem várias e boas praias, como a das Maçãs (que deve o seu nome às maçãs que o rio que ali desagua, trazia, nos tempos em que Sintra era rodeada de extensos pomares de macieiras) Praia Grande, muito procurada pelos amantes de surf, praia da Ursa,a mais ocidental de Portugal, entre outras bem conhecidas como S. Julião, Magoito e Adraga.



                                Praia das Maçãs


                                 Praia Grande

                                       Praia da Ursa

Na Gastronomia, Sintra apresenta vários pratos deliciosos, entre os quais destaco a Vitela à Sintrense, o Leitão de Negrais, as Migas à Pescador e  Açorda de Bacalhau, e os Mexilhões de cebolada.
Na doçaria, destacam-se os famosos Travesseiros, e as Queijadas de Sintra, entre muitos outros igualmente deliciosos.






E então, vamos de férias para Sintra?


Fontes 
Cm de Sintra, e apontamentos das minhas visitas.

24.11.15

FOLHA EM BRANCO - XLV


O empregado conduziu-os à mesa, e estendeu-lhes a ementa, retirando-se em seguida
Voltou pouco depois, com as entradas. Perguntou se já tinham escolhido, tomou nota do pedido e afastou-se. 
Mariana olhou à sua volta. O restaurante estava completamente cheio. Gente que conversava e ria, famílias pequenas e mais numerosas, todas irmanadas na mesma alegria. Poucos casais.
Talvez recém-casados, no seu primeiro Natal a dois. Imaginou-se assim, recém-casada com Miguel, e involuntariamente corou.
- Está calor aqui dentro,- disse tentando disfarçar.
Terminado o almoço, seguiram em direcção à Boca do Inferno, depois pela marginal até à praia do Guincho. Seguiam devagar admirando a paisagem, que naquele lugar, é de cortar a respiração.
Miguel estacionou perto da praia, e ficaram algum tempo olhando as ondas de espuma branca,  que se desfaziam no areal.
Retomaram a marcha começando a subir a serra,  na estrada para o cabo da Roca, porém um pouco mais à frente, Miguel entrou numa estrada estreita, rodeada de vegetação, típica  da serra e foram sair junto do Palácio da Peninha. Estacionou aí e saíram para admirar a paisagem, verdadeiramente deslumbrante.
De volta ao carro, seguiram pela mesma estrada. Logo a seguir, encontraram o desvio para o Palácio da Pena e Castelo dos Mouros, porém seguiram em direcção ao centro, passaram pela Quinta da Regaleira, uma maravilha , misto de natureza, e talento do homem, seguindo depois para o centro histórico.
O passeio era maravilhoso, mas os dois continuavam tensos e mudos.
Estacionou à saída do centro.
Saíram.  Na rua, estava bastante frio. A jovem levantou a gola do casaco.
-Tens frio?
Ela moveu a cabeça em sinal afirmativo. E ele passou-lhe o braço pelos ombros, como se quisesse protegê-la do frio, com o calor do seu corpo. Um acto natural e tantas vezes repetido ao longo daqueles meses, mas que agora lhe transmitia uma emoção diferente.  Quebrando o silêncio, que desde a manhã, persistia em acompanhá-los disse:
- Vamos lanchar. Conheces os travesseiros de Sintra?
- Só as queijadas.
 -Experimenta os travesseiros. São uma verdadeira delícia.
Mariana, sentia cada vez mais dificuldade em aparentar uma calma que não sentia. Ela não entendia que ele estivesse a lidar com ela, como se fosse uma miúda, depois da confissão que lhe fizera na véspera, e pensou que não estava nada interessada nos travesseiros. Porem, não disse nada.
- Quando vamos ao Algarve? – Perguntou ele mudando o rumo da conversa.
-Penso que logo no dia 2. No dia 4 tenho a sessão de psicoterapia, a que não quero faltar.
Tinham chegado à pastelaria. Procuraram uma mesa vaga, mas tiveram que se contentar com um lugar ao balcão.