Quando às oito horas da manhã, Anabela entrou na cozinha, encontrou a mesa
posta para tomar o pequeno-almoço mas apenas Joaquim se encontrava ali.
-Bom dia, - saudou.
-Bom dia, menina - respondeu o homem com tristeza.
-Anabela, por favor! Aconteceu alguma coisa? A sua esposa?
-Está arrumando o quarto do doutor.
-Tão cedo? - estranhou a jovem. E como ele está?
-Mal. Deve ter tido outro daqueles pesadelos.
-Que pesadelos, Joaquim?
- Não sei, menina. Quando ele saiu do hospital, nos primeiros tempos, eu
dormia na sala ao lado com a porta entreaberta de modo a atendê-lo se ele
precisasse de mim, durante a noite. E quase todas as noites o ouvia gritar,
entrava no quarto e encontrava-o em grande sofrimento embora estivesse a
dormir.
Dizem que não se devem acordar as
pessoas com pesadelos, mas eu, que Deus me perdoe, acordava-o sempre, pois não
tinha coragem de ver o seu sofrimento. Porém, ele nunca comentou comigo o que o
atormentava e a menina sabe como é, se ele quisesse contar tentaria ajudar, mas
se não o fazia eu não me ia pôr com perguntas. Afinal ele é o nosso patrão, não
um familiar.
- Provavelmente tem a ver com o acidente, - refletiu Anabela. Acontece
muitas vezes, que pessoas que sofrem acidentes traumáticos, como o que o doutor
Tiago sofreu, revivem em sonhos a tragédia. Às vezes, se não têm ajuda
psicológica, até durante anos.
- É horrível, o doutor grita, treme como se estivesse a arder em febre, e o
suor encharca-o. E depois que acorda o
olhar está esgazeado e ele olha para nós como se não soubesse onde está e não
nos conhecesse.
Naquele momento Isilda entrou na cozinha dizendo:
- O doutor fechou agora o chuveiro.
Joaquim afastou-se em direção ao quarto enquanto a esposa lavava as mãos e
começava a preparar o pequeno-almoço para o patrão.
Anabela acabou de comer, levantou-se da mesa e disse:
-Vou caminhar um pouco. Estarei de volta antes da hora do tratamento do
doutor.
Saiu pensando no que o caseiro lhe contara sobre o doente. Os pesadelos não eram incomuns em vítimas de
acidentes traumáticos. Porém quando se tornavam recorrentes, quebravam o animo
do doente e atrasavam a recuperação.
Tinha de falar com o doutor Azevedo,
ele devia insistir com o sobrinho para aceitar a ajuda de um psicólogo.
7 comentários:
Um ser humano atormentado.
As dores são mais físicas ou emocionais?
Boa semana
Ora cá temos a Anabela de volta!
Depois das festas e dos excessos, disto ou daquilo, é bom regressar à normalidade.
Vim, li, e vou seguir caminho, algo atormentada com tanto sofrimento. Este é fictício, mas e os outros de que nos chegam notícias? Mundo cruel este!
Um abraço, Elvira!
Após um trauma, ficam essas sequelas... Tratá-las é preciso!
beijos, linda semana, chica
Boa tarde Elvira,
Anabela uma profissional a sério e sempre atenta que não descura os problemas.
Gostando e seguindo esta história que tantos traumas provocou.
Beijinhos e uma boa semana com saúde.
Ailime
Uma enfermeira valente, que não se deixa amedrontar pelo mau humor do doente e um doente que está a começar a "amolecer". A coisa ainda se vai compor para os dois. O que virá aí a seguir?
Bjs
Dá para sentir o sofrimento do Tiago.
Bjs
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