Anabela estava preocupada. Ela sabia como ninguém que os pesadelos recorrentes podiam destruir uma pessoa. Ela teve pesadelos depois daquela noite em que Óscar lhe encostara uma faca à carótida. Todavia ela procurara ajuda, fizera amizade com a psicóloga e sabia que mesmo afastada de Lisboa, podia recorrer a ela em qualquer altura se necessário mesmo pelo telefone, todavia depois da morte do marido não voltara a ter aquele pesadelo.
Era estranho, ela sempre se considerara uma pessoa de bons sentimentos, e nunca
desejara mal a ninguém, muito menos a morte do marido. Só desejava que a
deixasse em paz, aceitando o divórcio e afastando-se da sua vida. E no entanto quando
soube da sua morte, não sentiu tristeza, antes uma sensação de alívio.
Tristeza sentia e muita, quando se cruzava com uma mãe transportando um bebé ao colo, ou no carrinho, e pensava que ela nunca conheceria a sensação de gerar e dar à luz um filho. Não, que alguma coisa no seu organismo a impedisse de engravidar.
A ginecologista dissera-lhe que apenas uma trompa ficara danificada,
todo o resto do seu aparelho reprodutor estava em ótimas condições. Apenas numa
próxima gravidez, ela teria de fazer uma ecografia logo após a primeira falta,
para ver se o óvulo estava no útero e não em qualquer outro sítio, para
prevenir uma repetição do problema, embora não havendo doenças como a salpingite, associadas raramente se repetia o problema.
Porém ela estava a caminho dos vinte e nove anos, e depois da experiência
do seu casamento não tencionava nunca mais, dar a outro homem o poder de
transformar a sua vida num inferno como Óscar fizera.
Claro que ela podia recorrer à adoção e sabia que seria igualmente capaz, de
amar como sua, uma criança adotada, mas nunca sentiria todas as alegrias e inconvenientes
de uma gravidez, nem a sensação de ver pela primeira vez depois do parto, o
rostinho do ser, tanta vez imaginado ao longo dos nove meses.
A menos que recorresse à inseminação artificial, porque aí não corria o
risco de gravidez ectópica, já que o óvulo seria implantado no útero, mas conhecia
casos, em que as mulheres só conseguiam a gravidez desse jeito, depois de três ou
mais tentativas. E não se sentia com coragem para sofrer todo o processo de
deceção, cada vez que uma tentativa não resultava.
Passou a mão pela testa, como se ela fosse uma borracha com que pretendia
apagar os pensamentos e olhou o relógio. Quase dez horas. Apressada voltou a
casa.
9 comentários:
Duas almas doridas.
Destinadas a curar os seus males uma na outra.
Nem toda a mulher gosta da ideia de ser mãe.
Boa quarta-feira!
Estes dois protagonistas já passaram por muito, apesar de ainda jovens...
Recuei e pus em dia a leitura do penúltimo capítulo que anteontem "saltei" por absoluta indisponibilidade.
Obrigada e um grande abraço, Elvira!
A passar por cá para acompanhar a história!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Muito bom! Os meus parabéns!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
E assim, mais um capítulo se passou à volta dos problemas pessoais da Anabela. O seu trabalho como profissional de saúde, pelo qual já está a auferir um ordenado, ficará para segundas núpcias!! Realidade e ficção sempre de mãos dadas...:)
Um abraço.
Haja saúde.
Boa tarde Elvira,
Continuando a acompanhar o desenrolar desta bela história, em que os dois protagonistas já sofreram bastante.
Beijinhos e saúde.
Ailime
Adorei , mais um maravilhoso episódio!
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Quando as palavras são gumes...
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Beijos, e uma excelente semana.
O sofrimento dela, o sofrimento dele... tudo acabará bem.
Bjs
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