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12.4.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XXXVII


Anabela estava preocupada. Ela sabia como ninguém que os pesadelos recorrentes podiam destruir uma pessoa. Ela teve pesadelos depois daquela noite em que Óscar lhe encostara uma faca à carótida. Todavia ela procurara ajuda, fizera amizade com a psicóloga e sabia que mesmo afastada de Lisboa, podia recorrer a ela em qualquer altura se necessário mesmo pelo telefone, todavia depois da morte do marido não voltara a ter aquele pesadelo.

Era estranho, ela sempre se considerara uma pessoa de bons sentimentos, e nunca desejara mal a ninguém, muito menos a morte do marido. Só desejava que a deixasse em paz, aceitando o divórcio e afastando-se da sua vida. E no entanto quando soube da sua morte, não sentiu tristeza, antes uma sensação de alívio.

Tristeza sentia e muita, quando se cruzava com uma mãe transportando um bebé ao colo, ou no carrinho, e pensava que ela nunca conheceria a sensação de gerar e dar à luz um filho. Não, que alguma coisa no seu organismo a impedisse de engravidar. 

A ginecologista dissera-lhe que apenas uma trompa ficara danificada, todo o resto do seu aparelho reprodutor estava em ótimas condições. Apenas numa próxima gravidez, ela teria de fazer uma ecografia logo após a primeira falta, para ver se o óvulo estava no útero e não em qualquer outro sítio, para prevenir uma repetição do problema, embora não havendo doenças como a salpingite, associadas raramente se repetia o problema.

Porém ela estava a caminho dos vinte e nove anos, e depois da experiência do seu casamento não tencionava nunca mais, dar a outro homem o poder de transformar a sua vida num inferno como Óscar fizera.

Claro que ela podia recorrer à adoção e sabia que seria igualmente capaz, de amar como sua, uma criança adotada, mas nunca sentiria todas as alegrias e inconvenientes de uma gravidez, nem a sensação de ver pela primeira vez depois do parto, o rostinho do ser, tanta vez imaginado ao longo dos nove meses.

A menos que recorresse à inseminação artificial, porque aí não corria o risco de gravidez ectópica, já que o óvulo seria implantado no útero, mas conhecia casos, em que as mulheres só conseguiam a gravidez desse jeito, depois de três ou mais tentativas. E não se sentia com coragem para sofrer todo o processo de deceção, cada vez que uma tentativa não resultava.

Passou a mão pela testa, como se ela fosse uma borracha com que pretendia apagar os pensamentos e olhou o relógio. Quase dez horas. Apressada voltou a casa.

 

 

 

9 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Duas almas doridas.
Destinadas a curar os seus males uma na outra.

Tintinaine disse...

Nem toda a mulher gosta da ideia de ser mãe.
Boa quarta-feira!

Maria João Brito de Sousa disse...

Estes dois protagonistas já passaram por muito, apesar de ainda jovens...

Recuei e pus em dia a leitura do penúltimo capítulo que anteontem "saltei" por absoluta indisponibilidade.

Obrigada e um grande abraço, Elvira!

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Teresa Isabel Silva disse...

Muito bom! Os meus parabéns!

Bjxxx
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Janita disse...

E assim, mais um capítulo se passou à volta dos problemas pessoais da Anabela. O seu trabalho como profissional de saúde, pelo qual já está a auferir um ordenado, ficará para segundas núpcias!! Realidade e ficção sempre de mãos dadas...:)

Um abraço.
Haja saúde.

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Continuando a acompanhar o desenrolar desta bela história, em que os dois protagonistas já sofreram bastante.
Beijinhos e saúde.
Ailime

Cidália Ferreira disse...

Adorei , mais um maravilhoso episódio!
.
Quando as palavras são gumes...
.
Beijos, e uma excelente semana.

teresadias disse...

O sofrimento dela, o sofrimento dele... tudo acabará bem.
Bjs