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17.4.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XXXIX

 


O aparelho apitou e desligou-se. Anabela apressou-se a retirar as placas e a levar a mesa com o aparelho para o seu sítio junto à parede trazendo em seguida a outra mesa com o aparelho de ultrassons e iniciar o tratamento. Terminado este, aplicou os calores húmidos e  sem voltar a pronunciar uma única palavra fez-lhe a massagem 

Por fim aplicou as botas de pressoterapia e voltou para a sua mesa, reportando para a ficha os tratamentos efetuados, tentando acalmar-se e rezando mentalmente para que o doente meditasse seriamente na atitude que vinha tomando desde que ela chegara.

Quando terminou, foi buscar a cadeira e o robe e ajudou-o a descer da marquesa e instalar-se na cadeira levando-o depois para o quarto e ajudando-o a deitar-se.

 Enquanto ela se afastava para arrumar a cadeira, a sua linguagem corporal não conseguiu esconder a sua irritação para o bom observador que o doente sempre fora. 

E Tiago não pode deixar de perceber, que apesar dos gestos gentis, com que Anabela o ajudava. a jovem estava furiosa e provavelmente com vontade de lhe atirar algo à cabeça, mas acima de tudo, ela era uma profissional e como tal procedia. E nada havia que ele admirasse mais, do que uma profissional competente.

-Peço desculpa pela maneira como me tenho comportado. Não que o faça por teimosia, embora seja verdade que meu tio a contratou sem falar comigo, e numa altura em que eu estava desistindo de viver. E para ser sincero, sei que devia estar-lhe grato, porque a sua atitude, fez-me reagir e sair do poço onde me encontrava. Todavia o problema é que ainda não consigo aceitar o que aconteceu comigo e não sei se lhe estou grato por me obrigar a sair do caminho que já tinha tomado.

Calou-se e olhou para ela. E havia uma tal dor nos olhos dele que ela estremeceu. Aproximou-se e disse:

- Percebi que estava nessa fase mal entrei no quarto e por isso fui tão dura. Mesmo que não acredite eu já passei por fases muito duras, cheguei mesmo muito perto de uma grave depressão, conheço melhor os sinais por experiência própria do que pela minha profissão. Por isso, porque não esquecermos as desculpas mútuas, e estabelecemos umas tréguas? Eu tentarei de fazer tudo o que posso e sei em prol do movimento das suas pernas, e o doutor aceita a ajuda dum profissional competente, no sentido de aceitar o que aconteceu e acabar com os pesadelos que lhe minam as forças físicas e anímicas.

- Vejo que o Joaquim falou de mais.

- O Joaquim? Como assim?

-Vai-me dizer que não foi ele que lhe falou, que sofro de terríveis pesadelos ?

-Claro que não, - mentiu Anabela. Calculei que os tivesse porque sempre surgem depois de um grande trauma. Eu quase ia endoidecendo e a minha sorte foi ter recorrido à ajuda da psicóloga Fátima Correia. Ou o doutor pensa, que ter um homem enlouquecido, com uma faca encostada à minha carótida, não é trauma suficiente para ter pesadelos o resto da vida se não tivesse procurado ajuda?

-Meu Deus, Anabela! Como isso foi acontecer.

-Esqueça, doutor. Só falei nisto, para que entendesse que sei pelo que está a passar e sei, o que a ajuda de um bom profissional pode fazer por si. O resto não importa. Então temos tréguas?

 

10 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Duas almas muito doridas e muito marcadas.
Boa semana

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história e desejar uma ótima semana!
Isabel Sá
Brilhos da Moda

Tintinaine disse...

Temos tréguas e muito mais que aí vem! Sinto o romance no ar e nas mãos da Elvira é mais que certo que acaba em casamento!

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
A resiliência quase sempre dá bom resultado.

JR

chica disse...

Essa convivência será de dias bons e maus comportamentos, mas esperamos tudo se acalme! beijos, linda semana! chica

Teresa Isabel Silva disse...

Será que vai haver uma trégua? Ansiosa para saber!

Bjxxx
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Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
O diálogo iniciou-se. Vamos ver como o doente continuará a reagir.
Beijinhos e uma boa semana.
Ailime

Jaime Portela disse...

O sofrimento não é exclusivo de ninguém. Há sempre alguém que já sofreu mais do que nós...
Parece que as coisas entre os dois vão começar a carrilar.
Boa semana.
Beijos.

Maria João Brito de Sousa disse...

É neste capítulo que nasce, para o doente, a cumplicidade na dor. Soa mal. eu sei, mas a cumplicidade existe na dor, tal com existe na alegria.

Um grande abraço, minha amiga!

teresadias disse...

Já conversam e isso é bom.
Vão entender-se, sei que sim.
Bjs