Nos dez dias que se seguiram, até à antevéspera do Natal, a rotina dos
tratamentos mudou muito. Anabela não dava descanso ao doente, mas este
respondia amável a tudo o que ela lhe dizia, e por vezes até com algum humor. Anabela
estava satisfeita, já via melhoras no seu estado geral e embora ainda fosse
demasiado cedo para o pôr na passadeira e tentar que conseguisse dar alguns passos, notava
que Tiago movimentava com mais facilidade o braço esquerdo, tinha mais força nos
braços, e nas pernas, o corpo não estava tão magro e a musculatura estava voltando a
evidenciar-se. Para ela era essencial exercitar e fortalecer a musculatura do
doente antes de passar a outro tipo de tratamentos.
Também estava contente, porque segundo
Joaquim, o doente mostrava-se mais animado, conversava mais e o empregado
acreditava, que mais uns dias e Tiago seria capaz de sair enfim do quarto,
quanto mais não fosse para ir tomar as refeições com eles.
Porém no dia seguinte era véspera de Natal, e ela partiria logo após terminar
os tratamentos da manhã, pois iria passar o Natal com a comadre em Lisboa, e
ainda tinha de comprar os presentes.
Voltaria no dia vinte e seis bem cedinho de modo a estar na quinta à hora do início dos tratamentos de Tiago, pois entendia que parte do êxito ou do fracasso de qualquer doente, estava na persistência e força de vontade com que se encarava o tratamento.
Por isso antes de se deitar naquela noite separou e colocou numa pequena mala, algumas peças de roupa e objetos pessoais, o necessário para as duas noites que estaria fora, de
modo a não perder tempo no dia seguinte.
Anabela ajudara Isilda a decorar a árvore de Natal, e a preparar a casa
para receber os pais de Tiago. Não que isso fosse a sua obrigação, ou que
alguém lhe tivesse pedido, mas a casa era grande, e mantê-la limpa e arrumada e
ainda cozinhar era difícil e muito cansativo para alguém que já deixara os
melhores anos da sua vida no passado.
Com a sua ajuda, a empregada ficava com mais tempo livre, para preparar as
iguarias natalícias.
Nessa noite, Tiago não conseguia dormir. Novamente.
Mas dava as boas-vindas à insónia, porque era melhor do que sonhar. Sonhos eram
uma das poucas coisas que ele não podia controlar. Eles vinham espontaneamente,
penetravam seu cérebro e o envenenavam com as terríveis memórias. Pelo menos, a mente
consciente estava sob seu comando. Assim depois do pequeno-almoço e antes de
iniciar os tratamentos, pegou no Smartphone e mandou uma mensagem ao tio
pedindo que lhe indicasse um bom psicólogo para uma consulta.
Pouco
depois estava na sala para a sessão de fisioterapia, e logo depois que esta terminou, Anabela
desejou-lhe um feliz Natal, despediu-se com um abraço de Isilda e do marido,
entrou no carro e dirigiu-se à cidade.
6 comentários:
Com a distância vem a saudade??
Que tenha um bom Natal e volte com coragem para continuar a luta!
Como Pedro lembrou, talvez nessa ausência panorama mude...beijos, chica
São sempre duras, as lutas contra os grandes traumas, mas valem a pena!
Forte abraço, Elvira!
Boa noite Elvira
As coisas parecem estar no bom caminho.
Vamos ver o que nos diz o próximo
Capítulo.
Beijinhos e saúde.
Ailime
Tudo a correr bem...
E Tiago vai certamente sentir falta da Anabela.
Bjs.
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