Dez anos depois…
Era noite de Natal. A casa estava em festa, havia um enorme
presépio montado no átrio entre as plantas. Em casa, na sala, num grande vaso
de cerâmica um pinheiro natural enfeitado com bolas de várias cores e muita
luz, sob a qual se viam vários embrulhos.
No salão de jogos, João e o irmão, Gustavo e Mário, marido
e pai de Inês, disputavam um renhido jogo de snooker. No antigo quarto dos
bebés, hoje o quarto dos rapazes, estes brincavam com Martim, o filho mais
velho de Inês, agora com doze anos. Apesar dos quase dois anos que os separava,
os três sempre se deram muito bem, assim como com Bernardo, de onze anos, enteado
de Olga.
No quarto de Maria esta também estava entretida com Marta,
a irmã de Martim, e Sofia a filha de David e Helena. Desde muito nova Maria
sempre mostrara um grande sentido de responsabilidade e sentia-se muito feliz e protetora por ser a mais velha das três.
Na casa de jantar a grande mesa já estava posta, e na
cozinha a ceia que fora encomendada num conhecido restaurante aguardava a hora
de ir para a mesa. A cozinheira, fora
dispensada de cozinhar, mas por ser viúva e os filhos terem emigrado para o Canadá, tinha sido convidada para jantar com eles. Afinal eles, não tinham nascido
em berço de ouro, muito pelo contrário. Apenas muito trabalho e alguma sorte,
os enriquecera, mas sabiam bem o que era viver com dificuldades, e sobretudo o que era a solidão.
Enquanto se arranjava para o jantar, Teresa, pensava na mãe e na avó. Como ela gostaria que as duas tivessem visto o rumo que a sua vida tinha tomado, e que tivessem partilhado um pouco da sua felicidade.
Dez anos se tinham passado e nesse tempo quanta coisa acontecera. Para trás ficara, aquele maravilhoso fim de semana, que fora a sua mini lua de mel e dera verdadeiramente início `vida deles enquanto casal, o casamento religioso e o batizado dos meninos no dia em que eles festejavam o seu primeiro aniversário. A bonita festa, primeiro no hotel com alguns convidados e clientes importantes e depois muito mais emotiva, no refeitório da empresa com todos os trabalhadores.
A ida dos filhos aos dois anos, para a creche da empresa, pois João dissera que preferia tê-los ali, não só porque estava mais perto deles, como porque eles deviam aprender de pequeninos a conviver com os filhos dos trabalhadores como seus iguais. A sua volta à vida empresarial, quando Inês decidira que era hora de deixar a gerência da "Flor da Avenida", para voltar a engravidar.
A venda da sua casa, e a concretização do sonho de construir
no terreno que tinha na aldeia, um pequeno hotel rural, cuja gerência estava a
cargo de Júlia Matias, uma das suas amigas de infância, filha do dono, do único
café da aldeia. O hotel, onde eles já por várias vezes, tinham passado alguns
dias de descanso e onde ela tinha uma certa vaidade, em se mostrar com o marido e filhos,
mostrando a todos que não acabara sozinha como a mãe e avó.
Por causa da amizade dos seus filhos, com Bernardo, filho de um dos engenheiros da empresa, o menino tornara-se visita habitual da sua casa, assim como Olga que era considerada como uma irmã, não só pelo que ela e a mãe representaram no passado do seu marido, mas também porque ela era sua madrinha de casamento, e madrinha de batismo de Maria. E foi na sua casa que Olga e Duarte, o pai do Bernardo, se conheceram num dia em que ele foi buscar o filho e se apaixonaram. Com cinquenta e dois anos, Duarte não fora muito feliz até aí. A sua primeira mulher nunca quisera ter filhos, vivera mais para a carreira do que para ele, tanto assim, que quando lhe ofereceram um lugar de destaque na sede da empresa em Madrid, ela aceitou, e quando ele se negou a acompanhá-la não hesitou em pedir-lhe o divórcio. A segunda mulher morrera de desastre seis meses depois do nascimento de Bernardo, deixando-o sozinho com o filho.
A relação entre os dois podia ser tardia, mas foi tão rápida e tão apaixonada, que Olga na altura com quarenta e nove anos, se mudou
para casa de Duarte, três meses depois de se conhecerem. E seis meses depois
estavam casados e ela criava Bernardo com todo o amor, com se fosse sua mãe. Isso
fora há sete anos e o casal continuava a irradiar felicidade.
- Então querida, ainda estás demorada? – perguntou João ao
entrar no quarto. Já acabámos o jogo e as crianças estão com fome. Estão todos
à tua espera.
-Vou já, estava relembrando o que foram estes dez anos, como somos
felizes e de repente lembrei que a minha avó sempre dizia que “Deus escreve
direito por linhas tortas” Já pensaste que se não tivesses estado doente, não
terias feito a reserva de sémen, os médicos não se teriam enganado e nós nunca
nos teríamos conhecido?
-E tu já pensaste
que aquilo que pensávamos ser uma cilada que a vida nos tinha armado, foi
afinal a porta para uma nova vida, plena e feliz? – disse João abraçando-a e beijando-a.
Segundos depois ouviu-se uma batida na porta e a voz de
David soou trocista.
-Se os pombinhos não têm fome, nós pudemos ir jantando?
Dando o beijo por terminado, os dois saíram enlaçados em
direção à casa de jantar.
22 comentários:
Um belíssimo desfecho, até Olga encontrou o amor. Bem bonita e interessante que foi esta história. Parabéns Elvira.
Quanta emoção!
Muito Obrigada por este final de sonho, Elvira.
Que bom seria se a vida fosse também assim.
Nem seria precisa tanta fartura de bens materiais.
Um grande Abraço e os meus sinceros Parabéns.
Querida Elvira, precisavamos todos deste final, deste natal semelhante ao que costumavamos ter, com a casa cheia e crianças tornando-o mágico. Muito obrigada pelo belo conto e espero que tenhas junto de ti as tuas netas para alegrarem essa noite tão especial. Eu vou ter a pequenina, mas não vou ter o Lucas e a Eduarda, pois vamos dividir a familia Tem de ser; do lado da minha nora há o pai de grande risco e pt seria arriscado juntarmo-nos todos. Não importa, pois a saúde está em primeiro lugar. Um abraço e SAÚDE para todos.
Emilia 🙏 🎄 ☃️ 🌈
Que beleza de momentocom essa leitura aqui. Belo desfecho, leve, pra cima ,como precisamos nessa época de tantas turbulências! Adorei e agradeço! beijos, tudo de bom,chica
Tudo está bem quando acaba bem e a nossa noelista soube dar-nos esta alegria, em tempos tão conturbados.
Bom domingo!!!
Bom dia
Mais uma historia fantastica que nos deixou uma grande lição , como todas as que temos acompanhado por esta grande autora .
Parabéns !!!!!!
JR
Um final lindo, lindo, lindo!!!
E uma lagriminha rolou (sou chorona, confesso).
Parabéns, Elvira, pela qualidade da escrita.
Beijo, bom domingo, MUITA SAÚDE.
Foi isso que aconteceu com João e Teresa. Há males que vêm por bem. Em abono da sua felicidade.
Tenha um bom dia de Domingo amiga Elvira. Um abraço.
Boa tarde Elvira,
Uma história muito bela, muito bem escrita e com um final feliz e bem merecido pelo casal.
Obrigada por partilhar o seu dom para a escrita que nos proporciona bons momentos de leitura.
Um beijinho e bom domingo, com saúde
Ailime
Elvira
Um final muito bem acabado.
gostei muito de todo este conto.
Beijinhos
:)
Um final muito feliz. Adorei. Muito obrigada pelos belos contos que nos têm mandado! :)
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Nos labirintos da minha alma.
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Beijo e um excelente fim de semana.
Um FIM cheio de FELICIDADE!!!
Adorei não ter esquecido o terreno da aldeia.
BOAS FESTAS
Que belo final minha querida Elvira!
Confesso que tenho pena que tenha chegado ao fim esta história encantadora.
Que este final simbolize inspire a maioria das relações a encontrar o seu equilibro
E pronto. Acabou muito bem para os dois. Tudo está bem quando acaba bem. Houve muita volta, muito esperar, mas por fim tudo se resolveu a bem.
Parabens e venha outro.
Bjs.
Um final feliz era o que esperávamos mesmo Elvira _ muitos acontecimentos, dúvidas e os bebês criados num clima harmonioso e um casalzinho celebrando o Natal, reunidos e felizes.
Parabéns pela temporada que adorei!
Um Feliz Natal, Elvira
muita saúde e prosseguimos a espera de novos contos de amor .
abraços
Muito bonito, amiga Elvira!
Gostei muito de seguir mais este romance. Parabéns!
Aproveito para, desde já, deixar os meus votos de um feliz e Santo Natal, com saúde, paz e alegria.
Beijinhos.
Um romance cheio de curvas e contracurvas que acabou na lisura de uma estrada que se quer sem fim.
Boa semana
A passar para acompanhar a história.
Um final feliz e emocionante.
Como é bom quando todas as histórias de amor acabam bem!
Abraço Elvira
Uma história de amor, algo que eu já tinha referido algumas vezes no passado.
Com contornos de vida real, em particular nas dificuldades de um passado que deixou marcas, nas exigências do dia a dia, na importância dos valores, na importância da família e da amizade.
Vários temas foram referidos e tratados ao longo dos textos, muitos momentos altos e leitores a aguardar por um final de sorrisos. Que felizmente acabou por acontecer.
Ainda não escrevi um romance, não tentei sequer, mas não consigo visualizar uma história de amor com um final que não tenha contornos de felicidade e esta teve muitos…
Um abraço para a autora, foi uma maratona num ano complicado, mas valeu cada texto e ficou com mais esta bela história para contar.
Um beijinho para si
Parabéns Elvira! Lindo! Fiquei muito feliz com o feliz desfecho.
Abraços,
Furtado
Parabéns por mais uma história encantadora, recheada de emoções e bem real.
Abraços fraternos!
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