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13.12.20

CILADAS DA VIDA - PARTE LXXIV



Dez anos depois…

Era noite de Natal.  A casa estava em festa, havia um enorme presépio montado no átrio entre as plantas. Em casa, na sala, num grande vaso de cerâmica um pinheiro natural enfeitado com bolas de várias cores e muita luz, sob a qual se viam vários embrulhos.

No salão de jogos, João e o irmão, Gustavo e Mário, marido e pai de Inês, disputavam um renhido jogo de snooker. No antigo quarto dos bebés, hoje o quarto dos rapazes, estes brincavam com Martim, o filho mais velho de Inês, agora com doze anos. Apesar dos quase dois anos que os separava, os três sempre se deram muito bem, assim como com Bernardo, de onze anos, enteado de Olga.

No quarto de Maria esta também estava entretida com Marta, a irmã de Martim, e Sofia a filha de David e Helena. Desde muito nova Maria sempre mostrara um grande sentido de responsabilidade e sentia-se muito feliz  e protetora por ser a mais velha das três.

Na casa de jantar a grande mesa já estava posta, e na cozinha a ceia que fora encomendada num conhecido restaurante aguardava a hora de ir para a mesa. A cozinheira, fora dispensada de cozinhar, mas por ser viúva e os filhos terem emigrado para o Canadá, tinha sido convidada para jantar com eles. Afinal eles, não tinham nascido em berço de ouro, muito pelo contrário. Apenas muito trabalho e alguma sorte, os enriquecera, mas sabiam bem o que era viver com dificuldades, e sobretudo o que era a solidão.

Enquanto se arranjava para o jantar, Teresa, pensava na mãe e na avó. Como ela gostaria que as duas tivessem visto o rumo que a sua vida tinha tomado, e que tivessem partilhado um pouco da sua felicidade. 

Dez anos se tinham passado e nesse tempo quanta coisa acontecera.  Para trás ficara, aquele maravilhoso fim de semana, que fora a sua mini lua de mel e dera  verdadeiramente início `vida deles enquanto casal,  o  casamento religioso e o batizado dos meninos no dia em que eles festejavam o seu primeiro aniversário. A bonita festa, primeiro no hotel com alguns convidados e clientes importantes e depois muito mais emotiva, no refeitório da empresa com todos os trabalhadores.

 A ida dos filhos aos dois anos, para a creche da empresa, pois João dissera que preferia tê-los ali, não só porque estava mais perto deles, como porque eles deviam aprender de pequeninos a conviver com os filhos dos trabalhadores como seus iguais. A sua volta à vida empresarial,  quando Inês decidira que era hora de deixar a gerência da "Flor da Avenida", para voltar a engravidar. 

A venda da sua casa, e a concretização do sonho de construir no terreno que tinha na aldeia, um pequeno hotel rural, cuja gerência estava a cargo de Júlia Matias, uma das suas amigas de infância, filha do dono, do único café da aldeia. O hotel, onde eles já por várias vezes, tinham passado alguns dias de descanso e onde ela tinha uma certa vaidade, em se mostrar com o marido e filhos, mostrando a todos que não acabara sozinha como a mãe e avó.

Por causa da amizade dos seus filhos, com Bernardo, filho de um dos engenheiros da empresa, o menino tornara-se visita habitual da sua casa, assim como Olga que era considerada como uma irmã, não só pelo que ela e a mãe representaram no passado do seu marido, mas também porque ela era sua madrinha de casamento, e madrinha de batismo de Maria. E foi na sua casa que Olga e Duarte, o pai do Bernardo, se conheceram num dia em que ele foi buscar o filho e se apaixonaram. Com cinquenta e dois anos, Duarte não fora muito feliz até aí. A sua primeira mulher nunca quisera ter filhos, vivera mais para a carreira do que para ele, tanto assim, que quando lhe ofereceram um lugar de destaque na sede da empresa em Madrid, ela aceitou, e quando ele se negou a acompanhá-la não hesitou em pedir-lhe o divórcio. A segunda mulher morrera de desastre seis meses depois do nascimento de Bernardo, deixando-o sozinho com o filho.

A relação entre os dois podia ser tardia, mas foi tão rápida e tão apaixonada, que Olga na altura com quarenta e nove anos, se mudou para casa de Duarte, três meses depois de se conhecerem. E seis meses depois estavam casados e ela criava Bernardo com todo o amor, com se fosse sua mãe. Isso fora há sete anos e o casal continuava a irradiar felicidade.

- Então querida, ainda estás demorada? – perguntou João ao entrar no quarto. Já acabámos o jogo e as crianças estão com fome. Estão todos à tua espera.

-Vou já, estava relembrando o que foram estes dez anos, como somos felizes e de repente lembrei que a minha avó sempre dizia que “Deus escreve direito por linhas tortas” Já pensaste que se não tivesses estado doente, não terias feito a reserva de sémen, os médicos não se teriam enganado e nós nunca nos teríamos conhecido?

 -E tu já pensaste que aquilo que pensávamos ser uma cilada que a vida nos tinha armado, foi afinal a porta para uma nova vida, plena e feliz? – disse João abraçando-a e beijando-a.

Segundos depois ouviu-se uma batida na porta e a voz de David soou trocista.

-Se os pombinhos não têm fome, nós pudemos ir jantando?

Dando o beijo por terminado, os dois saíram enlaçados em direção à casa de jantar.

 

 Fim


Elvira Carvalho

 

22 comentários:

noname disse...

Um belíssimo desfecho, até Olga encontrou o amor. Bem bonita e interessante que foi esta história. Parabéns Elvira.

Janita disse...

Quanta emoção!

Muito Obrigada por este final de sonho, Elvira.

Que bom seria se a vida fosse também assim.
Nem seria precisa tanta fartura de bens materiais.

Um grande Abraço e os meus sinceros Parabéns.

Emília Pinto disse...

Querida Elvira, precisavamos todos deste final, deste natal semelhante ao que costumavamos ter, com a casa cheia e crianças tornando-o mágico. Muito obrigada pelo belo conto e espero que tenhas junto de ti as tuas netas para alegrarem essa noite tão especial. Eu vou ter a pequenina, mas não vou ter o Lucas e a Eduarda, pois vamos dividir a familia Tem de ser; do lado da minha nora há o pai de grande risco e pt seria arriscado juntarmo-nos todos. Não importa, pois a saúde está em primeiro lugar. Um abraço e SAÚDE para todos.
Emilia 🙏 🎄 ☃️ 🌈

chica disse...

Que beleza de momentocom essa leitura aqui. Belo desfecho, leve, pra cima ,como precisamos nessa época de tantas turbulências! Adorei e agradeço! beijos, tudo de bom,chica

Tintinaine disse...

Tudo está bem quando acaba bem e a nossa noelista soube dar-nos esta alegria, em tempos tão conturbados.
Bom domingo!!!

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Mais uma historia fantastica que nos deixou uma grande lição , como todas as que temos acompanhado por esta grande autora .
Parabéns !!!!!!

JR

teresadias disse...

Um final lindo, lindo, lindo!!!
E uma lagriminha rolou (sou chorona, confesso).
Parabéns, Elvira, pela qualidade da escrita.
Beijo, bom domingo, MUITA SAÚDE.

Edum@nes disse...

Foi isso que aconteceu com João e Teresa. Há males que vêm por bem. Em abono da sua felicidade.

Tenha um bom dia de Domingo amiga Elvira. Um abraço.

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Uma história muito bela, muito bem escrita e com um final feliz e bem merecido pelo casal.
Obrigada por partilhar o seu dom para a escrita que nos proporciona bons momentos de leitura.
Um beijinho e bom domingo, com saúde
Ailime

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Elvira

Um final muito bem acabado.

gostei muito de todo este conto.

Beijinhos

:)

Cidália Ferreira disse...

Um final muito feliz. Adorei. Muito obrigada pelos belos contos que nos têm mandado! :)
--
Nos labirintos da minha alma.
-
Beijo e um excelente fim de semana.

aluap disse...

Um FIM cheio de FELICIDADE!!!

Adorei não ter esquecido o terreno da aldeia.

BOAS FESTAS

Isabel disse...

Que belo final minha querida Elvira!
Confesso que tenho pena que tenha chegado ao fim esta história encantadora.
Que este final simbolize inspire a maioria das relações a encontrar o seu equilibro

lourdes disse...

E pronto. Acabou muito bem para os dois. Tudo está bem quando acaba bem. Houve muita volta, muito esperar, mas por fim tudo se resolveu a bem.
Parabens e venha outro.
Bjs.

lis disse...

Um final feliz era o que esperávamos mesmo Elvira _ muitos acontecimentos, dúvidas e os bebês criados num clima harmonioso e um casalzinho celebrando o Natal, reunidos e felizes.
Parabéns pela temporada que adorei!
Um Feliz Natal, Elvira
muita saúde e prosseguimos a espera de novos contos de amor .
abraços

Fá menor disse...

Muito bonito, amiga Elvira!
Gostei muito de seguir mais este romance. Parabéns!

Aproveito para, desde já, deixar os meus votos de um feliz e Santo Natal, com saúde, paz e alegria.

Beijinhos.

Pedro Coimbra disse...

Um romance cheio de curvas e contracurvas que acabou na lisura de uma estrada que se quer sem fim.
Boa semana

Isa Sá disse...

A passar para acompanhar a história.

Manu disse...

Um final feliz e emocionante.
Como é bom quando todas as histórias de amor acabam bem!

Abraço Elvira

João Santana Pinto disse...

Uma história de amor, algo que eu já tinha referido algumas vezes no passado.
Com contornos de vida real, em particular nas dificuldades de um passado que deixou marcas, nas exigências do dia a dia, na importância dos valores, na importância da família e da amizade.
Vários temas foram referidos e tratados ao longo dos textos, muitos momentos altos e leitores a aguardar por um final de sorrisos. Que felizmente acabou por acontecer.
Ainda não escrevi um romance, não tentei sequer, mas não consigo visualizar uma história de amor com um final que não tenha contornos de felicidade e esta teve muitos…
Um abraço para a autora, foi uma maratona num ano complicado, mas valeu cada texto e ficou com mais esta bela história para contar.
Um beijinho para si

Rosemildo Sales Furtado disse...

Parabéns Elvira! Lindo! Fiquei muito feliz com o feliz desfecho.


Abraços,

Furtado

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Parabéns por mais uma história encantadora, recheada de emoções e bem real.
Abraços fraternos!