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15.4.20

À MÉDIA LUZ - PARTE III


E ali estava ela, num impasse. Até agora não tinha visto nada de suspeito no seu chefe. Confirmara a informação que tinha de que era um mulherengo incorrigível, e apercebera-se de imediato, que ela não lhe agradara nada, quando a vira pela primeira vez, contudo não pedira para a substituíram e ela tinha a certeza de que neste momento, ele estava satisfeito com a sua prestação laboral, ainda que continuasse a olhá-la como quem olha para um saco de batatas. 
Todavia era exatamente isso, o que ela tinha pretendido, quando decidiu escolher aquele look severo e antiquado. Não estava ali para o conquistar, muito embora não deixasse de reconhecer que era um homem muito atraente. Na verdade, não estava interessada em nenhum homem por muito interessante que fosse, enquanto não conseguisse provar a inocência do seu progenitor. Ele era de momento o único homem que lhe importava.
Suavizou-se-lhe o rosto com a recordação do pai por quem sentia um carinho a roçar a adoração. 
Não se lembrava da mãe. Morrera quando ela era ainda bebé. Uma gripe, que originara uma pneumonia, agravada por problemas respiratórios de que já padecia. O pai, fora pai e mãe para ela. Sacrificara a sua vida ainda jovem, à solidão para não lhe dar uma madrasta. Criara-a com todo o amor, dera-lhe a melhor educação, muitas vezes à custa de se privar até das coisas mais básicas. Trabalhava no escritório, e em casa fazia ainda contabilidade de micro empresas. Para que ela pudesse frequentar a Universidade.  Quando viu como gostava de dançar, não hesitou em escrevê-la numa academia de dança, embora isso comportasse mais uma despesa para o orçamento. Era o homem mais nobre e reto do mundo. Mas amargava os dias na cadeia. E o pior, Sandra acreditava, seria quando fosse libertado. Ela conhecia o pai. Temia que ele não aguentasse ser apontado por todos como um ladrão. Tinha muito medo, que ele procurasse no suicídio, a solução para a sua vergonha. Sandra procurara um advogado. 
A julgar pelo que pagou por uma única consulta, decerto um dos melhores do país. Mas ele fora peremptório. Sem um dado novo, não havia como reabrir o processo.


17 comentários:

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um grande desafio para Sandra: provar a inocência do pai.Estou convicta que conseguirá.
Beijinhos,
Ailime

Pedro Coimbra disse...

Faca de dois gumes - provar a inocência da vítima quando cresce a paixão pelo algoz

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Uma boa historia é como um bom filme , há sempre pormenores que gostamos de ler novamente .
Vou adorar a relembrar !!

JAFR

Tintinaine disse...

Vamos dar força à nossa heroína que ela merece. E o pai também!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Está interessante.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história.

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Maria João Brito de Sousa disse...

Gosto desta Sandra! É uma jovem muito determinada.

Forte abraço, Elvira.

chica disse...

E seguimos lendo e gostando! bjs, ótimo dia! chica

" R y k @ r d o " disse...

Bom dia:- Oxalá a Sandra consiga - e vai conseguir - provar que o Pai está preso indevidamente, por ser inocente-

Se a rapariga não queria agradar ao patrão, porque penava nele e nos seus possíveis gostos, quando se vestia de forma severa e antiquada?
.
Cumprimentos solidários

João Santana Pinto disse...

Os enredos oferecem tudo isto e o muito mais que se lhe vai seguir… ou seja, os textos de 3 parágrafos, são bonitos jogos de palavras que não dão grande trabalho à leitura, acabam por ocupar e deliciar o leitor sem esforço mas no fim do texto pouco ou nada oferecem…

Uma história propriamente dita, aumenta o número de parágrafos e páginas, desafia a memória (numa postagem de blogue) mas oferece substancialmente mais, ou melhor, oferece algo e não apenas um momento fugaz, ao permitir jogar com a ficção e com a vida e com todos os argumentos e arsenal de quem escreve.

Neste texto, a personagem principal surge com a segurança de saber a mulher que é e reforça o sentimento pelo pai.

E, nesse ponto, vem mais um pormenor que delicia. A autora dá-nos a imagem do pai da personagem principal, que num tempo ainda pouco virado para isso, foi pai, foi, mãe, foi aquilo que teve de ser… o meu avô já era assim e isso faz-me ter orgulho na história da minha família.

Novamente de volta às questões morais, temos o problema dos julgamentos populares e do problema das conotações ao registo criminal e da dificuldade em retomar a vida após liberdade.

Talvez por isso, o nosso sistema judicial acabe por representar a ideia de mais valer ter um criminoso à solta do que um inocente na cadeia, algo incompreendido e alvo de inúmeras criticas. As pessoas estão constantemente a chorar por democracia mas depois têm frequentemente desejos de regimes ditatoriais… experimentem viver num e depois digam algo.

Irrepreensível, como sempre. Abraço e boa semana

Os olhares da Gracinha! disse...

Já pus a leitura em dia... relendo a primeira parte e agora a segunda e terceira é como já disse... uma história que desperta a nossa atenção!
Bj

Teresa Isabel Silva disse...

Ainda não conhecia esta história, vou ter que ler para trás!

Bjxxx
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Cidália Ferreira disse...

Muito bom episódio! :)
-
Segue o meu imaginário ...
-
Beijos e um excelente tarde!
"Protejam-se"

Edum@nes disse...

Já comentei este conto uma vez,
mas, até posso comentar mais outra
como, alentejano, cidadão português
bem sei qual é o paladar da açorda.

Tenha uma boa tarde amiga Elvira. Um abraço.

Janita disse...

A verdade é como o azeite - diz o povo e com razão - mas, como nestes contos a contista é a Elvira, será a Elvira a desfiar este rosário, apesar de já se ir fazendo luz na minha mente...

Um abraço e saúde.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Cada novo capítulo mais interessada fico na história.
Beijos!

teresa dias disse...

Empolgada, imagino já as voltas que a trama vai dar...
Bjs.