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22.4.20

À MÉDIA LUZ - PARTE VIII



Gabriel, que até aí permanecera em pé, sentou-se a seu lado. Apesar de toda a  sua fama de homem sem escrúpulos nem sentimentos, nas relações com o sexo oposto, vê-la a chorar,  desestabilizou o seu sistema emocional.  
Estava atordoado. Primeiro tinha sido a surpresa, de descobrir que a sua eficiente mas insignificante secretária, era a lindíssima bailarina. Depois a ideia de que havia alguma coisa por trás daquela insólita atitude, e agora aquela confissão, seguida de um choro angustiante.
Sentia-se enganado, estava furioso e ao mesmo tempo desconcertado. Principalmente porque um estranho desejo de abraçá-la, e confortá-la, lutava contra a vontade que sentia de denunciá-la à polícia. 
Tirou do bolso das calças um lenço imaculadamente branco. 
- Toma. Enxuga esse rosto, e vamos embora. Precisas ir buscar alguma coisa lá dentro?
- Não. Só trouxe a bolsa e tenho-a aqui. 
-Ótimo. Espera aqui por mim, vou só despedir-me do casal com quem estava. 
Levantou-lhe o queixo obrigando-a a fitá-lo.
- Não te passe pela cabeça fugir. Estou tentado a confiar em ti. Não me faças acreditar, que todo esse choro,  é apenas mais uma demonstração da tua arte de fingimento. Acredita que posso ser muito pior do pensas que sou, se descobrir que me tentas enganar.
Afastou-se. Encontrou os amigos no bar, desculpou-se com uma dor de cabeça, o que fez o amigo soltar uma gargalhada, sinal evidente de que pensava que ele tinha arranjado companhia para o resto da noite, mas não se preocupou em dar explicações e voltou ao jardim.
Encontrou-a exatamente no mesmo lugar, os olhos vermelhos, o olhar perdido. Uma tal expressão de sofrimento era impressionante. Não era possível que fosse fingimento. Ninguém conseguia fingir com tal arte, sem que a sua expressão corporal o denunciasse.
Ajudou-a a levantar-se, e caminharam juntos até ao estacionamento.
- Trouxeste o carro?
- Não. Vim com uma colega.
- E não tens que a avisar?
- Quando terminamos a exibição, disse-lhe que estava muito cansada e ia chamar um táxi. Deve pensar que já estou em casa.
Abriu a porta do carro.
-Entra. Vamos conversar como dois adultos. Na tua casa, ou na minha, tu escolhes.
- Num lugar público.
- Não! Ou confias em mim, ou não. E se não confias, também não tenho qualquer interesse no que tenhas para me dizer. De qualquer modo vou levar-te a casa, se me disseres onde moras.
Ela disse-lho e ele dirigiu em silêncio até à porta. Ela também se manteve em silêncio, perdida nos seus pensamentos. Não sabia se podia confiar nele. Mas sentia-se tão perdida e tão cansada!
- Chegamos - disse ele estacionando o carro. 
Virou-se para a olhar. A jovem continuava absorta, como se estivesse ausente. Pálida, os olhos vermelhos, o rosto borrado pela maquilhagem desfeita pelas lágrimas, era a expressão do desalento. Gabriel saiu do carro, deu a volta ao mesmo, abriu a porta e estendeu-lhe a mão. Voltou a sentir uma impressão estranha. Raios, tinha razão para estar zangado, ela acabara por confessar que estava na empresa para o espiar. No entanto passado o choque inicial, e principalmente depois que a vira chorar, sentia  a sua raiva amolecer.  Ouviu-se a dizer:
- Queres deixar para amanhã? Deves estar cansada!
- Não. Se tenho que o fazer, quanto mais depressa melhor.
Pegou nas chaves, mas sentindo as mãos trementes estendeu-lhas:
- Por favor, abra o senhor!

14 comentários:

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
A história está ao rubro.
Muito emocionante. Estou a gostar imenso.
Beijinhos e bom descanso.
Ailime

aluap disse...

Agora é que vão pôr os pontos nos i's ou não.

Abraço.

noname disse...

adoro este mistério que faz querer já o próximo capitulo eheheheh


Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Como já vi um namora começar depois do gajo enfiar uma bofetada na rapariga não digo nada...
Abraço

Os olhares da Gracinha! disse...

A cada capítulo fica mais interessante... 👏👏👏👏👏

Cidália Ferreira disse...

O que será que ainda ainda para lhe dizer? Hummm gostei

Bom dia

" R y k @ r d o " disse...

Bom dia:- Cada vez mais as coisas mudam entre patrão e secretária. Se calhar ambos vão amolecer os seus comportamentos de um para com o outro e...........

Vamos continuar a acompanhar
.
Um dia feliz

Maria João Brito de Sousa disse...

Passando para acompanhar a história, deixo-lhe um forte abraço, amiga!

Teresa Isabel Silva disse...

E agora? Será que vai resolver tudo?

Bjxxx
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Edum@nes disse...

O que se está passando entre Gabriel e Sandra, faz-me lembrar o filme. "Ódio que gerou o Amor".

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Gaja Maria disse...

Abraço Elvira, fique bem :)

teresa dias disse...

Muito bom, Elvira!
Continuo entusiasmada com a trama.
Beijo.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

História maravilhosa, envolvente e misteriosa!
Beijinhos!

João Santana Pinto disse...

Ainda estou com dúvidas quanto ao personagem masculino… a ameaça teria sido desnecessária e tal reforça a má "fama".

é um texto de transição, e os próximos podem dar um novo rumo ao enredo.