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23.4.20

À MÉDIA LUZ - PARTE IX





Abriu a porta e desviou-se para lhe dar passagem. Ela acendeu a luz, e ele olhou com curiosidade para o apartamento. Sandra encaminhou-se para a sala. Depositou a mala numa cadeira.
- Sente-se. Posso oferecer-lhe um café?
- Agora não, obrigado. Não estamos numa visita social. Estou à espera do que tenhas para me dizer.
- É complicado. O meu nome como sabe, é Sandra Martins Machado. O apelido Machado diz-lhe alguma coisa?
- Não. É um apelido vulgar. Porquê?
- Porque há  quase quatro anos, o seu contabilista Joaquim Machado, foi acusado e condenado por ter desfalcado a sua empresa em mais de meio milhão de euros.
- Sim. E o que é que isso tem a ver contigo?
- Joaquim Machado é o meu pai. Nunca fez qualquer desfalque e está preso. É inocente, e vocês acusaram-no, - disse retomando o choro
 Ele levantou-se. Começava a perceber a dor e a raiva da jovem, mas ainda não entendia porquê, e o que pretendia ao infiltrasse na empresa.
- Desculpa, não fomos nós que julgamos e condenamos o teu pai. Nós só demos parte do desfalque. O resto foi trabalho da polícia, e do tribunal.
- O meu pai está inocente. Era incapaz de roubar um cêntimo que fosse. E se houve desfalque alguém o fez. Não ele, que na cadeia,  morre um pouco todos os dias, não de remorsos mas de vergonha.
- E se houve? O que queres dizer com isso? Julgas que não houve desfalque algum? Que nós fizemos uma participação falsa à polícia? É isso que pensas?
- Não. Acredito que tenha havido o desvio dessa verba, de outra forma a polícia tê-lo-ia descoberto. Mas qualquer outro o podia fazer. Até mesmo um dos dois sócios.
- Estás doida? - perguntou incrédulo
- Será que estou? Porque é que o senhor comprou a parte do seu sócio, menos de um ano depois de meu pai ser preso?
- Boa! Agora entendi, - Gabriel quase gritou enraivecido de tal modo se sentia insultado. - Quer dizer que pensas que eu desfalquei a empresa, para obrigar o meu sócio a vender, a sua parte, e ficar com a totalidade da mesma? Era isso que procuravas, infiltrando-te como minha secretária, e vestida daquele jeito ridículo? Uma prova para me acusares?
Tinha-se levantado, e passeava pela sala como leão enjaulado. Estava verdadeiramente zangado. Mais do que isso. Estava furioso.
 Ela começava a pensar que se excedera.
- Desculpe, - balbuciou. - Mas o senhor pediu sinceridade. Por outro lado, estou cada dia mais desesperada, já não sei o que fazer, para provar a inocência do meu pai. Porque ele está inocente, posso apostar a minha vida nisso.
Ele parou. No meio da ira que o invadia, pensou vagamente que era extraordinária, a garra com que ela defendia o seu progenitor. E de súbito, ocorreu-lhe uma ideia peregrina.  Era uma confiança assim, que ele sempre procurara, e nunca encontrara em mulher alguma. E naquele momento decidiu que faria qualquer coisa, para que ela confiasse nele com a mesma fé que depositava no pai. 
-Suponho que não acreditarás se te disser que não tenho nada a ver com esse desvio, - disse irónico, tentando esconder quanto aquela situação o estava a afetar.


16 comentários:

noname disse...

Expectante!

Boa noite, Elvira

Janita disse...

Estive a ler os três episódios, os dois em atraso e este.
Não há dúvida de que o hábito faz o monge, mas caramba, será que um simples penteado e uma forma de vestir diferente, dava direito a alguém de ser tão grosseiro e malcriado? Mas o homem julga-se dono da secretária?
Esse pranto da jovem desiludiu-me. Porquê ceder assim na frente do homem que, até prova em contrário, é o culpado da vergonha pela qual o pai passou? Sinceramente, se já tinha lido antes este conto, devo ter parado nesta altura. Há um contra-senso inexplicável no procedimento da moça. Mas, desta vez vou esperar para ver ela arrebita...:)

Boa noite, Elvira

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Muito intenso e emotivo este capítulo, Elvira.
Sensibilidades à flor da pele.
Esta história dava uma boa série de TV.
Beijinhos e fique bem
Ailime

chica disse...

Emocionante! Adorando! Bjs,chica

Pedro Coimbra disse...

Quem é que se abotoou com a ma$$a???
Abraço

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
A recordar a historia como se não a conhecesse .

JAFR

Os olhares da Gracinha! disse...

A confiança é a base de muita relação!!! Bj

Maria João Brito de Sousa disse...

A ver vamos. Quem já conseguiu transformar um jogador inveterado num agente da PJ, também há-de conseguir transmutar um empresáriozeco arrogante num ser humano minimamente decente :)

Forte abraço!

Tintinaine disse...

Já começo a ouvir os acordes dos violinos!
Bom dia, novelista, como vão esses olhos?

" R y k @ r d o " disse...

Bom dia

O " novelo " começa a desenrolar-se. Acredito que alguém irá para o lugar do Pai da jovem e, entre eles, nascerá um grande amor.
Haverá casamento, com a presença do pai, atualmente preso.

Estou a adorar a Estória, embora pense, que na vida real, nenhuma mulher aturava e suportava a "brutalidade" de um homem -. talvez seja uma capa de defesa - como aquele

Um dia feliz de fé e esperança

Jaime Portela disse...

Se o dinheiro desapareceu, alguém foi... ele não se evapora...
Mais um magnífico capítulo, tal como os anteriores. E a história está emocionante.
Elvira, um bom resto de semana.
Beijo.

Cidália Ferreira disse...

Imagino que até as unhas roeu de furioso! :)
-
Tudo desperta, como a vida, quando regressa
-
Beijos e um excelente fim de tarde.

Edum@nes disse...

Se Gabriel, seguro de si, afirma que não tem nada a ver com o desfalque. Poderá ser verdade? Mas Sandra também confia em seu pai. Um deles estará inocente ou até poderão estar os dois?

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Agora ele vai ajudá-la a provar a inocência do pai e a sua, pois seu nome está em jogo, é um dos suspeitos. Bacana demais essa história!
Beijinhos!

teresa dias disse...

Quem foi afinal?
Tudo se descobrirá, a seu tempo.
Eu espero...
Beijo.

João Santana Pinto disse...

Quando as pessoas estão vulneráveis nem sempre conseguem deixar de quebrar e demonstrar essas fragilidades.

E a página acabou de virar, ele tem a possibilidade de mostrar o que está para lá da capa.