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29.6.19

UM PRESENTE INESPERADO - PARTE XXXVI



A tradicional ceia, de batatas com bacalhau, couves e ovos, acompanhado por um  tinto, Herdade das Servas, decorreu animada.  
Depois, na sobremesa, chegaram os doces tradicionais, que Isabel e a amiga tinham confecionado. Arroz-doce, pudim de ovos, filhós de abóbora, de cenoura e de maçã reineta, azevias de batata-doce, coscorões; o bolo-rei, comprado nessa tarde na pastelaria da esquina, e os frutos secos.
Perto da meia-noite, passaram à sala, e enquanto saboreavam um licor, trocaram os presentes.
O casal ofereceu a Natália, uma bonita echarpe de lã macia, bem própria para a época, e a Artur, um estojo de couro,com um bloco e uma caneta esferográfica, para os seus apontamentos, de detetive. Por sua vez receberam da amiga, um conjunto com duas canecas personalizadas, para o pequeno-almoço, e do amigo um quadro com um poster de uma fotografia que lhes tirara, quatro dias antes no casamento.
Por fim, Isabel ofereceu ao marido, um moderno relógio de pulso e recebeu dele, um fio com o símbolo do infinito.
Pouco depois, Natália disse que estava na hora de se ir embora, e quando Ricardo se preparava para ir levá-la, Artur ofereceu-se para o fazer e ela aceitou com agrado. Despediram-se então até à manhã seguinte, já que o casal os convidara para passarem juntos, o dia de Natal.
Quando eles saíram, Ricardo abraçou a esposa dizendo:
-Ou eu me engano muito, ou aqueles dois, estão a caminho do altar, um dia destes. Vamos, vou ajudar-te a levantar a mesa.
- Não. A mesa fica posta toda a noite. Levamos apenas os pires e copos sujos para a máquina, e colocamos outros limpos na mesa.
- Fica posta para amanhã? – perguntou ele admirado.
- Vê-se que não estás habituado, a passar esta noite em casa- respondeu Isabel. Diz a tradição, ou será uma lenda, não sei bem, que nesta noite, as almas recebem de Deus a permissão para visitarem aqueles que amaram. Assim a mesa fica posta para que eles saibam que os amamos e não os esquecemos.
- Acreditas nisso? – perguntou Ricardo.
- Não importa, se acredito ou não. Minha mãe ensinou-me isto quando eu era pequenita. Ela sempre o fazia, e depois que partiu eu continuei a fazê-lo. A minha parte racional diz-me, que é uma parvoíce, um mito que alguém se lembrou de inventar, mas o meu coração gosta de acreditar que pode ser verdade.  
Enquanto conversavam levaram as loiças sujas para a máquina. Arranjada a mesa, Ricardo abraçou a mulher e beijou-a.
- Agora senhora minha, vamos para a cama? Estou ansioso por te agradecer esta maravilhosa noite.
- Ainda não levei o biberão de leite à Matilde. E se o não fizer, daqui a pouco ela está a chorar, - disse desprendendo-se dos seus braços e dirigindo-se para a cozinha.
Ao colocar o biberão no micro-ondas, deparou com o marido atrás de si.
- Ainda não te contei. Esta noite quando lhe levei a boneca, pela primeira vez a Matilde chamou-me pai. Senti uma tal emoção que nem sei como explicar-te.
- Deve ter sido igual à que eu senti a primeira vez que me chamou mãe, - respondeu Isabel retirando o biberão do aparelho e salpicando uma gota de leite nas costas da mão para experimentar se não estaria demasiado quente. Depois dirigiu-se ao quarto da menina, seguida pelo marido.



As notícias sobre a minha consulta estão no post de ontem.Estou muito grata a todos pelo carinho que me têm dispensado.
Bom fim-de-semana.

E o habitual aviso. Esta história volta segunda-feira.


11 comentários:

noname disse...

Aguarda-se milagre de Natal :-)

E só por curiosidade, também eu deixo a mesa posta na noite de consoada. Se acredito? O racional diz-me que sou doida, o coração deseja que eles venham e se sintam em casa.

Boa noite, Elvira

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Todos os episódios são sempre bonitos e relevantes , mas este foi com certeza para todos muito especial , pois relata uma noite de Natal do mais lindo que se pode ter .
JAFR

Maria João Brito de Sousa disse...

Cá estou e a não ser que a saúde me pregue nova partida, cá estarei amanhã, muito embora esta história só continue na próxima segunda-feira :)

Em nossa casa e reportando-me à minha primeira infância, a tradição era um pouco diferente; deixava-se, na copa, uma cadeira e uma mesinha com uma fatia de bolo-rei e um cálice de Porto, para o pai Natal poder sentar-se a descansar e a retemperar as forças, quando viesse colocar os presentes nos sapatinhos que eram previamente colocados sobre a pedra mármore na qual assentava o fogão de cozinha.

Abraço grande, Elvira.

chica disse...

Adorei a noite de Natal e todos os detalhes! E vamos acompanhando e nos delicindo! beijos, lindo dia! chica

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Está a ficar interessante minha amiga e aproveito para desejar um bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados

Larissa Santos disse...

Fui ler os atrasados até aqui. Adorei. Este é mesmo bom:))

Hoje:-Inconsciência Desmedida

Bjos
Votos de bom sábado e um óptimo fim-de-semana.

( desejo-lhe as melhoras)

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Continua linda a história.
Depois de um fim de semana fora estou a atualizar a leitura.
Um beijinho.
Ailime

Os olhares da Gracinha! disse...

Detalhes que gosto no seu jeito de narrar... Bj

teresa dias disse...

Elvira, gosto do seu jeito minucioso de contar. Cativa e encanta.
Bjs.

Gaja Maria disse...

Estão felizes. O amor está a fazer das suas:)

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

É visível o amor os contornando em cada atitude deles.
Beijos!