Lea já está cansada de ser sempre a mais pequena. O seu irmão, Natan, que já é grande, esse tem direito a fazer muitas coisas na hospedaria de Belém. Mas sempre que ela quer ser útil, respondem-lhe:
— Deixa lá, Lea, ainda és muito
pequenina para fazeres isso!
Empoleirada nos seus quatro
anos, Lea observa os peregrinos. São muitos, nestes últimos tempos, em Belém. O
imperador decidiu mandar recensear toda a população e as pessoas vêm
inscrever-se em longas listas. Na hospedaria, a mãe cozinha sem cessar enquanto
o pai serve os clientes.Todas as manhãs, Natan vai ao
mercado comprar legumes, regatear e discutir os preços mas, como sempre,
ninguém presta atenção a Lea, a mais pequena.
Numa bela manhã, Lea não
aguenta mais. Pega na sua manta preferida, a grande e vermelha, que a agasalha
e a reconforta de tudo, e vai procurar a mãe.
— Eu também gostava de ajudar!
Natan pode fazer tudo, mas eu… eu não sirvo para nada! Dizem sempre que sou
muito pequena!
— Ó minha querida, tu és muito
importante para todos nós! – diz a mãe surpreendida, pegando nela ao
colo. — O que é que faríamos sem ti? Ainda és muito pequenina para cozinhar ou
ir buscar água, mas se queres mesmo ajudar-nos, passo a chamar por ti quando
vir que podes fazer alguma coisa.
— Está bem! – diz Lea,
radiante. — Entretanto vou brincar.
Lá fora, Lea brinca durante
muito tempo com o cordeirinho e com a sua boneca Ana e depois vai brincar com o
irmão. Até que chegou um grupo de visitantes. Nessa altura, Natan teve de ir
para casa ajudar os pais. Nessa noite, há muita gente na hospedaria. As pessoas
entram e saem sem parar, numa barulheira infernal. O ruído é tanto, que Lea mal
ouve a mãe chamá-la do fundo do pátio:
— Lea! Lea! Podes vir
ajudar-me, por favor?
A menina atravessa a cozinha a
correr e aparece de imediato à entrada. Ali, junto da mãe, encontra um homem e
uma senhora ainda jovem, sentada em cima de um burro.
— O que posso fazer? – pergunta
Lea, esbaforida.
— Podes acompanhar estes
senhores ao estábulo? – pergunta-lhe a mãe. — A hospedaria está cheia, não
tenho nem mais uma cama livre para esta noite! Mas toma cautela para o burro
não escorregar nas pedras.
Lea desce com cuidado a
encosta. Feliz por ir à frente, guia-os devagar, muito devagarinho, até ao
fundo da vereda. Lea nunca imaginou que o estábulo pudesse agradar à jovem
mulher! Sem se lamentar, ela ajoelha-se e agradece a Deus a calma e a palha
fresquinha que ali acabam de encontrar.
Enternecida, Lea observa-a a
acariciar por muito tempo o seu cordeirinho.
De repente, o irmão surge à
porta.
— Despacha-te, Lea, são horas
de ires dormir!
— Boa noite… – murmura-lhe uma
voz suave. Lea repara como a jovem mulher parece cansada. Para ela termina ali
um longo dia.
De regresso à hospedaria, Lea
vai deitar-se. Aconchegada no calor da cama, reza as suas orações embrulhada na
manta. Os pais vêm depois dar-lhe um beijo e logo de seguida Lea voa para o
país dos sonhos. Estava a dormir profundamente quando, de repente… em plena
noite, quando tudo está calmo e silencioso, algo a faz despertar.
— É estranho – diz Lea para
consigo. — Há uma luz a brilhar no estábulo. Porque será? Precisarão os
peregrinos de alguma coisa? Tenho de ir ver…
De imediato, embrulha-se na
manta ainda quente e desce a vereda.
Devagarinho, Lea abre a porta
do estábulo, e nunca há-de esquecer o que vê ali. Deitada na palha, a jovem
mulher tem nos braços um recém-nascido, e o seu rosto brilha de alegria.
Lea não hesita um segundo…
Tira a manta das costas,
dobra-a com cuidado, uma vez, duas vezes, depois pousa-a na manjedoura.
— Tome… é para o bebé – diz
ela.
A jovem mãe vem deitar o seu
menino em cima da linda manta vermelha. O coração de Lea bate com força. Está
tão feliz!
No limiar da porta, os pastores
esperam. Contam que lhes apareceram anjos, a anunciar que um novo rei ia nascer
aquela noite, num estábulo. Uma estrela conduziu-os até ali. Lea escuta,
maravilhada. De repente, também os pais e o irmão se aproximam.
Quando a mãe vê a manta
vermelha, aperta Lea contra si. Sente orgulho na sua menina. E compreende então
que se podem fazer coisas verdadeiramente importantes, mesmo aos quatro anos de
idade.
Tina
Jähnert ; Alesssandra Roberti (ill.)
La venue du petit Jésus
Zurich, Éditions Nord.Sud, 2004
(Tradução e adaptação)
La venue du petit Jésus
Zurich, Éditions Nord.Sud, 2004
(Tradução e adaptação)
20 comentários:
Adorei mais esse,Elvira! E, tenho certeza que o teu nada deixará pra trás em beleza! Vamos esperar! beijos,chica
Elvira,
Meu comentário não entrou? Fiz ontem
bj
Lua Singular
O Natal pouco me diz,
não o senti em criança
nem sempre se alcança
o que o destino não quis!
Tenha uma boa noite amiga Elvira.
Um abraço.
Bonito.
Abraço do Zé
Querida amiga Elvira!
Que história mais linda, adorei!
Fico esperando pela de amanhã(...)
tenho a certeza que também irá ser maravilhosa!
Meus parabéns amiga você escreve muito bem.
Um beijo de paz e bem... e uma noite abençoada!
Como sempre, lindo o seu texto.
Obrigada pela dica. Vou procurar o xarope de tomilho. Muito obrigada. Beijo
Excelente matiz navideño, apreciada Elvira. Tu talento es multifacético.
Un beso austral.
Boa noite Elvira,
Um conto lindíssimo.
Obrigada por partilhar.
Beijinhos,
Ailime
Por aqui vamos vivendo o verdadeiro espírito do Natal.
Mensagens de paz, de harmonia.
Abraço
Sempre belos, os contos com que nos brinda, Elvira.
Fico a aguardar o próximo, de sua autoria.
Abraço.
Bom dia- Sempre salutares de ler as estorinhas de Natal.
.
* Sou folha escrita em poesia apagada *
.
Abraço de amizade.
Gostei minha amiga.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Bom dia
Mais um maravilhoso Conto!Amei. Obrigada
Beijos e um excelente dia
Muito bonito.
Vou aguardar ....pelo seu.
Beijinhos
O Natal, as prendas, as crianças diz-me muito e agora que se habituaram a ser eu a tocar a campainha com as prendas às costas dá-me um prazer especial.
Fico à espera do seu conto de Natal.
Olá...
Um conto bonito, todos podemos fazer "algo bom", inclusive as criancinhas...
O conto de amanhã será ÓTIMO, certamente...
Bjs
Oi Elvira,
Lindo conto do nascimento do menino Jesus, até me emocionei.
Crianças e deficientes são anjinhos que Deus enfeita a Terra.
Beijos no coração
Lua Singular
Não conhecia e gostei muito de ler!!! Bj
Os contos do Natal geralmente são muito bonitos.
Abraços,
furtado
Que lindo!...
Estou adorando estes contos de Natal, Elvira! Mais uma partilha tocante e encantadora!...
Beijinhos
Ana
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