Quando me mudei para o Alasca, fui viver com
a família do meu marido enquanto ele se encontrava em Montana, onde trabalhava.
Nunca estivera com uma família numerosa, e ele era o mais velho de dez irmãos,
a maior parte deles casados e com filhos. Todos viviam num raio de quarenta
milhas e não se escusavam a uma reunião de família.
Ninguém
tinha dinheiro. Os miúdos eram pequenos, as famílias eram jovens, e muitos dos
pais possuíam mais do que um emprego para conseguirem fazer face às despesas.
Mas naquele
primeiro ano, Natal de 1981, mostraram-me o que era dar.
Estava lá há
cerca de seis meses e ainda assustada com a força e o poder que o amor de uma
família grande pode gerar. Aquilo que fizeram nesse ano já era para eles uma
tradição muito antiga, mas eu nunca vira nada assim.
Dois dias
antes do Natal, a família inteira reuniu-se em casa da mãe. Cada casal meteu
cem dólares num pote; se pudessem, os solteiros davam cinquenta dólares; as
crianças deixavam cair as mesadas ou o dinheiro que ganhavam como baby-sitters.
A igreja
atribuiu-nos então «a nossa família». Assim que soubemos da situação, ficámos
todos ansiosos por ajudar. O pai estava sem trabalho; o bebé estava doente; a
mãe não queria fazer uma árvore de Natal para os filhos não ficarem
desapontados se o Pai Natal não viesse; a companhia cortara uma vez mais o
fornecimento de gás, mas a igreja pagara a conta.
Em primeiro
lugar, fomos às compras. Dez adultos, uma dúzia ou mais de crianças, tomámos a
loja de assalto. Sacudindo a neve das botas e tirando os chapéus e as luvas,
andámos para cima e para baixo nos corredores, com cinco carrinhos, cheios de
peru, objetos de uso pessoal, batatas, tartes e rebuçados de Natal. Alguém se
terá lembrado de coisas simples, como papel higiénico? Alguém arranjou
manteiga? E o sumo de laranja e os ovos para o pequeno-almoço?
Em seguida,
os pequenos deitaram mãos à obra. Eu observei, admirada, uma criança de seis
anos dar a sua mesada de dois dólares para que outra menina pudesse ter umas
luvas novas. Vi os olhos de uma criança de dez anos brilharem quando descobriu
a espada luminosa por que ansiara, tendo-a depois colocado no carro para a dar
a um menino que nem sequer conhecia. Um cobertor quente e felpudo para o bebé
foi a escolha do meu sobrinho de quatro anos.
De novo em
casa da mãe, para embrulhar os presentes. Havia duas caixas de roupas de vários
tamanhos, passadas e dobradas. Pouco tempo depois, juntaram-se a elas dez
caixas de mercearia, a transbordar de comida.
As crianças
criaram uma linha de montagem para embrulhar os presentes: presentes grandes,
presentes pequenos, canecas especiais e luvas quentes. Havia papel e fita por
toda a parte. O riso era tecido em laços acetinados; o amor era preso a cada
etiqueta.
Trenós de
plástico colorido foram guardados no espaço disponível nas malas dos carros, a
uma temperatura abaixo de zero. A Lua nascera, e as árvores estavam cobertas de
geada, cintilando como uma bola de neve na mão de uma criança feliz.
O tio
preferido fez de Pai Natal. Vestido com um fato vermelho-vivo, conduziu a
caravana até ao atrelado parado no meio de amieiros de pequeno porte. Tivemos
de parar uma vez porque os sulcos na neve eram demasiado fundos e um dos carros
ficou preso. Transferimos presentes e pessoas, e continuámos.
Não havia
mais casas em redor da casa pré-fabricada e gelada, mas as luzes estavam acesas
e um cão preso com uma corda comprida ladrou no alpendre de madeira quando parámos.
A maioria de nós ficou na estrada principal, mas colocámos as caixas nos
trenós, amarrámo-los e enviámos o «Pai Natal» e alguns dos miúdos mais velhos
até à porta. Deixámo-nos ficar para trás e cantámos «Noite Feliz».
O Pai Natal
e os ajudantes bateram à porta e entraram quando a porta se abriu. A jovem
família tinha, afinal, decidido arranjar uma árvore de Natal,
e estava a pendurar as lâmpadas quando lá chegámos.
Pararam,
estupefactos, quando os ajudantes do Pai Natal começaram a tirar caixa após
caixa, empilhando os presentes. Pouco tempo depois, a árvore estava com uma
montanha de presentes.
O Pai Natal
disse que a mãe começou a chorar quando tirou o casaco de lã da caixa da roupa.
Apenas disse:
— Donde vêm?
E depois,
suavemente:
— Muito
obrigada.
Com muitas
exclamações de admiração e muitos desejos de «Feliz Natal», o Pai Natal e os
ajudantes correram de novo para o carro.
Cantámos o
último verso de «Feliz Natal», saltámos para os trenós mágicos e desaparecemos
na noite.
Debby Mongeau
Jack Canfield; Mark Victor Hansen
Canja de galinha para a alma – O tesouro do
Natal
Mem Martins, Lyon Edições, 2002
(adaptação)
Mem Martins, Lyon Edições, 2002
(adaptação)
9 comentários:
Outro belo conto no qual impera a partilha, Elvira.
Espero que hoje já se esteja a sentir um pouco melhor, muito embora pense que continua a ser muito cedo para que possa verificar-se uma total recuperação.
Abraço.
Gostei de mais esse,Elvira! beijos e tudo de bom! Estás repousando teu olhinho? bjs, chica
Bom dia. Mais um conto Perfeito:)) Obrigada.
Bjos
Votos de uma óptima Quinta-Feira
Gostei minha amiga é mais um belo conto de Natal.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
É uma leveza na alma passar por aqui e ler! Obrigada
Desejo que se encontre bem!
Beijos e um excelente dia!
Mais um bom exemplo dos valores que devem estar presentes no verdadeiro espirito de Natal - e que deveriam manter-se durante todo o ano - partilha, solidariedade e fraternidade!
Um tema de longa distância que se foi deformando com o tempo.
Não conhecia e gostei.
Que sigas melhorando.
Abraços de vida.
Continuamos por aqui com contos mágicos.
Bfds
Boa noite Elvira,
Mais um belíssimo conto que reparei ter sido editado aqui onde moro, por uma editora que, entretanto, fechou. Era a Europa América de Lyon de Castro. Foi uma pena, porque era uma editora de relevo.
Beijinhos, Ailime
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