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26.10.17

A RODA DO DESTINO - PARTE XLI


Sentado à mesa na cozinha, Salvador observava a graciosidade e desenvoltura com que Anete se movimentava na preparação do jantar.
- Tens a certeza de que eu não posso ajudar-te? – Perguntou
- Sabes cozinhar?
- Pouca coisa. Mas posso por a mesa.
-Isso é uma boa ideia. Naquela gaveta, tens os talheres, e na outra ao lado, há toalhas e individuais. Escolhe o que mais te agradar. E na dispensa, deve haver uma garrafa de vinho. Podes abri-la.  
Ele levantou-se e começou a por a mesa.
-Tens falado com os teus pais?
- Quase todos os dias.
- Tens uma família muito bonita. São todos muito simpáticos.
- Espera até os meus irmãos saberem que vens cá a casa jantar, e vais ver como se acaba logo a simpatia, - disse rindo.
-Sei. Foram sempre assim tão protetores?
- Sempre, -disse colocando na mesa a travessa dos bifes, com o arroz branco.
Sentou-se e iniciaram a refeição. Só depois continuou
– Desde que fui para o infantário. Os três não me largavam.
- Os três?
- Os dois e Afonso, o meu ex-marido!
“ Quer dizer que o teu ex-marido, é um amiguinho de infância. Vamos ver se contas mais alguma coisa”
- Já estou a ver três rapazes a assaltarem o castelo para brincar com a princesa, e as suas bonecas, - disse rindo.
- Era mais assim. Três rapazes a arrastarem a princesa para ir jogar à bola, subir às árvores, ou pescar.  Fui crescendo sempre com três sombras. No recreio da escola, nas festas, nas saídas. Era tão frustrante que às vezes chegava a odiá-los. Os dois só me deixaram em paz quando fiquei noiva do Afonso.
- Um noivado com ódio ao noivo? – Perguntou franzindo as sobrancelhas.
- Ó não. Aquele ódio era só raiva de momento, por exemplo quando queria ir à discoteca com as minhas amigas, e só podia ir com os três guarda-costas.
- Então amáva-lo…
-Não. Os pais do Afonso viviam, e a mãe ainda vive, na vivenda ao lado da nossa. Os nossos pais eram amigos, e como andávamos sempre juntos eles começaram a falar em casamento, e nós deixá-mo-nos embalar pela ideia. Quando acordámos estávamos casados.
 Tinham acabado a refeição. Anete levantou-se
- Queres café? Como sabes, é do instantâneo.
- Sim. – Levantou-se para retirar a loiça da mesa, enquanto ela punha a chaleira ao lume e retirava do armário as chávenas e o frasco do café. E voltou à conversa:
- Divorciaram-se em seguida. De comum acordo?
- Não e sim. Não nos divorciámos em seguida, Porque o pai do Afonso ficou doente, e depois da sua morte, a mãe dele teve uma depressão, precisava de todo o nosso apoio e carinho, não era hora de pensar em nós. Mas sim foi de comum acordo e continuamos amigos.
Pôs a água fervente na mesa, e continuou enquanto preparava os cafés.
- Tão amigos, que me veio visitar anteontem, para me contar que está apaixonado, que pensa casar e queria que fosse a primeira a saber disso.
Escureceram os olhos masculinos.
- Tens a certeza, que foi por amizade? Não teria sido mais por retaliação, pelo divórcio?
-Não conheces, o Afonso. Se o conhecesses nem te passava pela cabeça semelhante coisa, - disse colocando a loiça na máquina.
"Que defesa tão acalorada," - surpreendeu-se. "Será que ainda gosta dele"?
Foram para a sala. A chuva continuava a cair fustigando os vidros da janela. A jovem foi até ela e desceu a persiana.
-Agora é a tua vez, - disse ao voltar-se. Nunca te casaste?
- Não.
- Mas decerto já te apaixonaste.
 -Não sei se o teu conceito de apaixonar-se é o mesmo que o meu. Se te referes ao amor, pois sim. Há uns anos, conheci uma mulher que julgava, única, especial. Amei-a tanto que estava a pensar pedi-la em casamento.




11 comentários:

Edum@nes disse...

Anete, mulher, bem, jeitosa,
utilizando jogadas de mestra
ela fala do ex-marido agora
para ver se Salvador desperta!

Tenha uma boa tarde amiga Elvira, um abraço.
Eduardo.

noname disse...

Temos que considerar que ninguém, em seu perfeito juízo, conhece alguém e uns dias depois lhe desfia toda a sua vida, não é?

Boa tarde Elvira

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

A Noname tem toda a razão.
Um abraço e continuação de boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Os olhares da Gracinha! disse...

E assim se vão conhecendo ... bj!

Anete disse...

Conversa vai, conversa vem e os dois estão se apaixonando com maturidade...
Um abraço grande nesta 5a feira...

Rosemildo Sales Furtado disse...

É, pelo menos o diálogo está mais democrático, mais brando. Promete um bom final.

Abraços,

Furtado

chica disse...

Cada um sondando a vida do outro...Vamos ver no que dá! bjs praianos,chica

Rui disse...

Cá estamos nas "confissões" e no conhecimento mútuo do passado amoroso de cada um !
Tudo se encaminha para um final feliz ! :)

Berço do Mundo disse...

Acho que ainda vai haver aqui umas reviravoltas. Como será que ela vai reagir quando souber que a tal mulher especial é a irmã gémea?
Beijinho
Ruthia d'O Berço do Mundo

Cantinho da Gaiata disse...

As perguntas da praxe,pode ser que se tornem mais íntimos.
Agora vou ter que esperar até amanhã pelo próximo post.
Hoje tive uma dose tripla, uauuuuu tão bom.
Beijinho e até amanhã.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Um diálogo amigável que vai findar em algo mais consistente, com certeza!
Abraços!