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14.3.16

MANEL DA LENHA - PARTE XXXI


                         Foto de Luís Miguel Correia


Apesar de todas as vicissitudes da vida,  pouco depois do Ano Novo,  já andava às voltas com o seu fato e máscara de Carnaval.  Ele sempre fora um homem alegre, brincalhão e a época carnavalesca sempre lhe permitia extravasar essa alegria. Sempre fazia máscaras estranhas, deuses ou demónios de um qualquer mundo imaginário, muito parecidas com as máscaras tribais que hoje vemos na televisão. A morte da mãe, e os problemas de saúde da esposa, levaram-no a interromper essa prática, que retomara  nesse ano da graça de 1958
Em Abril, a safra já tinha terminado e o pessoal que ali trabalhava todo o ano, voltara à rotina de reparar tinas, caiar armazéns, reparar arames partidos e cortar o canavial. A 19 desse mês, é lançado à água a nova aquisição da seca, um dos navios mais bonitos da pesca do bacalhau. O Neptuno, o navio-motor em aço, construído nos estaleiros de São Jacinto em Aveiro.
Na seca, um dos cunhados do Manuel continua na tropa, e o outro conseguiu por esses dias empregar-se na CUF, e embora continuasse a viver no barracão, como trabalhava no turno da noite, dormia de dia, e Manuel deixou de contar com a sua ajuda. Os filhos estavam na escola. A mulher cuidava da casa, e  da criação que entretanto fora conseguindo, e por vezes dava uma ajuda na rega. Mas ele não gostava muito de a ver no quintal. Ela continuava com problemas de saúde. Agora de vez em quando tinha uns ataques que ninguém a segurava. Os vizinhos já falavam que ela devia ter algum “encosto”, quem sabe, alguma promessa que decerto a Piedade fizera e não pagara, e agora andava a atormentar a nora.
Manuel não sabia se havia de acreditar ou não. Mas lá que eram uns ataques esquisitos eram. No último esteve largos minutos desacordada e depois de repente, começara a gritar, rasgara a roupa, arranhava-se e mordia-se e ele aflito até mandara as crianças para casa do cunhado, para elas não verem assim a mãe. Depois que recuperou, andou quase uma semana prostrada e sem forças. Agora estava bem mas e até quando?
No terminar das aulas, a filha ficou bem no exame da 4ª classe e Manuel sentiu-se feliz por isso. Pena que o filho não tivesse passado. Mas ele sabia que a culpa não era do miúdo, se ele não conseguia fazer-se entender.

19 comentários:

madrugadas disse...

Vidas duras que aqui nos transmite com uma escrita agradável.
Boa semana.

Tintinaine disse...

Interessei-me pelo Neptuno e fiz uma publicação a respeito no meu blog.
Vou esperando que a história chegue aos capítulos que não conheço.

Marina Filgueira disse...

¡Hola Elvira!!!

Nos dejas un texto cómo para reflexionar, la vida no siempre es de color de rosa, mas tu personaje, Manuel, si está feliz con una cosa, no lo está otras, pero es así la vida, a veces toca sufrir y otras reír. Todos o casi todos en este mundo, tenemos un tiempo para cada cosa.
Está más que bien el relato. Tengo pena por no poder seguir todos, pero me es imposible. Haber si puedo entrar un poco más a menudo.

Ha sido un place leerte, eres fantástica escribiendo relatos, y te felicito por tu buen hacer.

Te dejo mi cálido abrazo, mi estima y gratitud.
Feliz semana, amiga.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Está a ficar interessante o texto.
Um abraço e boa semana.

Anete disse...

Muitas novidades li agora na vida do Manuel...
Fiquei pensativa quanto a saúde da sua esposa!
Vamos adiante... Surpresas vêm por aí...

Boa semana, Elvira. Bjs

LopesCaBlog disse...

Vidas.
Coitada da esposa :(

Blog LopesCa/Facebook 

chica disse...

Tão bom acompanhar essas tuas histórias...Gosto muito! beijos, chica

Os olhares da Gracinha! disse...

O desenrolar de uma vida...igual a muitos "manéis"!
Estou a gostar...bj

Isa Sá disse...

a passar para acompanhar a história.


Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Oi Elvira, boa tarde!
Que dó eu tenho do Manuel, com tantos problemas e ainda a saúde da esposa...
Uma ótima semana!
Abraços,
Mariangela

Edum@nes disse...

A vida do Manuel da lenha. Naquele tempo má de gramar, assim como ainda é hoje, a vida de quem não tem pão para aos filhos dar?

Tenha uma boa tarde, amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

aluap disse...

Boa noite Elvira,
Continuo a acompanhar a história do Manel e tenho a dizer que documenta muito bem cada texto, com fotos do google ou fotos suas, Parabéns.
Beijinho, Boa Semana!

Gaja Maria disse...

A luta de Manuel continua. Tem uma força incrível. Beijinho Elvira

Laura Santos disse...

Como se não existissem problemas, a debilidade e esses ataques da esposa acabam por ser mais uma preocupação para Manuel, mas a verdade é que ele parece aguentar tudo estoicamente. Felizmente a filha passou no exame da 4ª classe; uma alegria.
xx

Elisa disse...

Adoro ler o texto e os comentários :) que grande interação ;) adoro !! É o meu momento zen ❤️
Beijinhos
elisaumarapariganormal.blogspot.pt

Pedro Coimbra disse...

Epilepsia, uma mal terrível.

Unknown disse...

Tanta tristeza amenizada por tão bela escrita.
Beijo*

Rosemildo Sales Furtado disse...

Continuo lendo, gostando e aguardando os próximos acontecimentos.

Abraços,

Furtado.

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
MANUEL ERA UM GRANDE LUTADOR, DIGNO DE RESPEITO.
http://zilanicelia.blogspot.com.br/