Depois disto, tornou-se evidente que a mulher não podia continuar a trabalhar. Era demasiado perigoso, com três crianças que já tinham provado ser capazes de aprontar.
Mas por outro lado o ordenado dela fazia falta. Até porque ela continuava doente e o marido não sabia até quando o poderia fazer.
Depois de muito matutar, Manuel decidiu mandar vir do norte um dos cunhados mais novos, um rapazito de doze anos, para ficar a tomar conta dos miúdos, para que a mulher pudesse continuar a trabalhar, muito embora ele não soubesse se ela aguentaria até ao fim da safra, dado o seu estado cada vez mais debilitado.
Três dias depois, Manuel foi a Santa Apolónia buscar o Luís. Era um miúdo alto e muito magro, mas esperto e agradecido por ter saído do monte onde guardava as cabras de um lavrador na Trapa.
Manuel nunca se arrependeu da sua decisão, já que Luís era carinhoso com os sobrinhos e muito responsável.
Quando Abril chegou, Gravelina já não andava. Arrastava-se como podia, a roupa a dançar sobre o corpo esquelético, o rosto encovado e macilento. Foi nessa altura que a mulher do capitão que geria a Seca, a viu e se compadeceu. Mandou chamar o Manuel, e dando-lhe dinheiro mandou que chamasse um carro de aluguer, e levasse a mulher ao médico no Barreiro. Porém quando o médico viu a mulher, escreveu uma carta e chamando uma ambulância mandou-a para o Hospital de S. José, em Lisboa, pois no Barreiro não havia hospital na época. Manuel foi acompanhar a mulher mas voltou sozinho. Gravelina ficou logo internada dada a gravidade do seu estado. Ele voltou para casa com o coração apertado. O médico disse que a mulher tinha que ser operada com urgência, estava com a barriga toda “podre” Bom, o médico primeiro dissera outro nome, mas como Manuel quis saber o que aquilo queria dizer, o médico respondera-lhe assim. Porém dado o estado de debilidade física, Gravelina não poderia ser operada já. Teria que ficar internada um bom tempo. Lisboa, fica longe do Barreiro para as visitas. Além disso em casa estão três crianças, e mais o cunhado que no fundo ainda é também uma criança.
À noite sentado nas escadas do casarão, enquanto as crianças dormem, Manuel eleva uma prece a Deus e afundando o rosto entre as mãos chora. Chora a angústia de não saber se a companheira, irá resistir, chora a dor de não saber o que fazer com os filhos, se a mãe não voltar, chora enfim a miséria da vida que leva, feito besta de carga, que não trabalha nunca o suficiente para uma vida digna.
17 comentários:
Pobre Manuel.Cada vez mais problemas em sua vida. Mulher doente no hospital, filhos em casa, uma outra criança para deles cuidar! Tá muito bom de ler! Que sina! beijos, chica
Trabalho e mais trabalho, em vez das condições de vida do Manel e sua família melhorarem, pioravam. A sorte não estava, mesmo nada do seu lado!
Desejo um bom dia, para você amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.
É triste a vida do pobre. Querer ter dinheiro para um tratamento e não poder, sustentar os filhos e não conseguir...
Enfim, aguardamos por boas noticias!
Abraço Elvira
Tenho pena do Manuel, ele não sossega nem um pouco dos problemas.
A vida é assim! Uns são escolhidos pra sofrerem antes... e outros depois.
Um abraço de bom dia Elvira!
Mariangela
Difíceis momentos p Manuel! Torcendo pela melhora da sua esposa... Quanta agonia!!
Obrigada pelo carinho no Vida & Plenitude, Elvira! Valeu muito!!
Bjs
Tencionava ler mais dois capítulos mas não resisti e li cinco!
A história é apaixonante (para além de comovedora) e sabendo que é uma história verídica mais prende a atenção.
Tenho que arranjar tempo para vir cá mais vezes para me actualizar e poder, depois, ir acompanhando em tempo real... :)
Mais logo, ou amanhã, escreverei email.
Um abraço
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Oh! que tristeza de a vida a de Manuel, se a compaheira lhe falta ainda vai ser pior. Espero que a história dê uma volta :))
eu bem sentia o odor a tragédia no ar.
Esperemos que depois da tempestade venha a bonança.
Bfds
Acompanhando a história... bom fim de semana!
Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt
Naqueles tempos difíceis e de miséria de falta de recursos muitas vezes as soluções era rezar e esperar pelo milagre, que na maioria das vezes não acontecia.
Um abraço e bom fim de semana.
Vida dura, que muitos dos cretinos que nos governam nem sonham sequer...
Amiga, bom fim de semana e abraços
Abençoado final de semana!!!!!!!! Beijos
Parece que a vida de Manuel em vez de melhorar, só piora. Tão triste. Mas esperemos que a mulher melhore.
Muito bem contado, Elvira.
xx
Que dó do Manel. Vicissitudes da vida. Adorei.
Beijo*
Gosto imenso de si e de ler tudo o que escreve.
Beijinho grande
elisaumarapariganormal.blogspot.pt
TEMPOS DIFÍCEIS, MAS EMBORA SEJA UMA HISTÓRIA FRUTO DE TUA FÉRTIL IMAGINAÇÃO DE ESCRITORA, É TRISTE DE SE LER, DÁ MUITA PENA DO MANUEL E DE SUA ESPOSA.
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Minha saudosa e querida mãe sempre dizia: "Quando DEUS fecha a porta, deixa sempre uma janela aberta". Com certeza, a situação vai melhorar. Continuo gostando.
Abraços,
Furtado.
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