- Muito bem, Teresa. Suponho que não tenha inconveniente em
que nos tratemos pelo nome. Vamos resolver o assunto com calma entre os dois,
pelo menos durante a gravidez, de modo algum, quero ser o motivo, de um
possível aborto. Deseja tomar alguma coisa?
- Uma água por favor.
Ele carregou no intercomunicador e disse:
- Olga, por favor, traz-me um café. E um copo de água para a
dona Teresa!
Enquanto aguardavam pelas bebidas, ficaram em silêncio,
observando-se mutuamente. Era como se cada um estudasse o outro, na tentativa
de descobrir se eram ou não confiáveis.
Pouco depois, Olga entrou trazendo um tabuleiro com as
bebidas que poisou sobre a secretária.
- Mais alguma coisa? – perguntou Olga ao
poisar sobre a secretária o tabuleiro com as bebidas.
-Localiza o Afonso e diz-lhe que
abandone a missão, e regresse à empresa.
-Sem nenhuma explicação? –
perguntou.
-Mais tarde, falo com ele.
Quando a porta se fechou atrás
da assistente, João disse:
- Como deve calcular, quando o
Centro Clínico entrou em contato comigo, fiquei revoltado, aquela era a minha única
hipótese de ser pai, de ter um herdeiro, que desse sentido ao trabalho, de toda
uma vida, de sentir o que é ter nos braços um pequeno ser, a quem amar, proteger e educar. Quero esse filho. Pelo que me disse há pouco, você deseja-o de igual
modo, pelo que não vou correr o risco de a ofender, oferecendo-lhe dinheiro
para que mo entregue quando nascer. De modo que temos um problema para
resolver. O que pensa fazer?
- Como bem disse, é um
problema que temos de resolver, mas de momento a única coisa que quero é paz. Quase mal acabei de saber, que o filho que tanto desejara, estava a caminho; e sem ter sequer tempo para festejar, dizem-me que houve um erro, que o pai dessa criança está disposto a tudo para
ma tirar, que por causa disso posso ver-me envolvida numa longa batalha judicial, que a
imprensa vai levar meses a alimentar-se do escândalo, vai esmiuçar a minha vida
até ao meu nascimento, quiçá para além disso. Não preciso do seu dinheiro,
tenho mais do que suficiente para criar e educar sem esforço, um ou dois filhos, porém podia
precisar muito, trabalhar sem descanso, dia e noite até à exaustão, que não aceitaria nunca dinheiro, para ceder os meus direitos de mãe.
Fez uma ligeira pausa, como
que tentando reorganizar os seus pensamentos, enquanto o empresário a olhava
admirado com a paixão que ela punha nas palavras, e mentalmente se interrogava, se ela
usaria a mesma paixão na intimidade da sua cama. Passou a mão pela testa, tentando afastar
tão inoportunos pensamentos, enquanto Teresa alheia aos seus pensamentos, continuava:
- Não sei se sabe, mas a maior
parte dos abortos espontâneos acontecem nos primeiros três meses de gravidez,
razão porque nós, mulheres, não gostamos de falar do nosso estado, antes de decorrido
esse tempo. Compreendo o seu desespero, e em consciência sei que não lhe posso
negar o direito de ver, e conviver com a criança, tal como os casais que se
separam não o podem fazer. Seria uma crueldade, e eu não sou cruel.