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11.7.22

OS CAMINHOS DO DESTINO

 


                                           



A mulher que percorria o enorme átrio do hospital, caminhava com passos inseguros. Era alta, e a pele morena, apresentava uma palidez típica de pessoa que está doente, ou acaba de sair de algum grave problema de saúde.

O sol forte do meio da tarde, saudou-a à saída. Percorreu com o olhar o espaço, talvez procurando alguém que não estava. Parecia indecisa.
Talvez não se sentisse com coragem para encetar uma caminhada.
Ensaiou uns passos para descer a rampa junto à porta do hospital e eis que um carro se aproxima e trava junto dela.

Aproximou-se, abriu a porta e entrou. A mulher ao volante desculpou-se ao mesmo tempo que a saudava carinhosamente.
- Desculpa, ter-me atrasado. O trânsito está infernal. Como te sentes hoje?
- Destroçada. Como se me tivessem arrancado as entranhas.

O carro arrancou e por momentos fez-se silêncio. Notava-se que a jovem fazia um grande esforço para não chorar.
Clara, a mulher ao volante do carro, perguntou:

- Deram-te alta, apenas? O médico não te aconselhou acompanhamento psicológico?
-Sim. Deu-me até uma carta para levar. Mas não sei se vou. Preciso repensar toda a minha vida.
-Porque não vais uns tempos para o Algarve, para casa dos teus pais? Mudar de ambiente, poderia ser benéfico nesta altura.

- Não sei. Sabes que casei contra a vontade deles, que não gostavam do Jorge. Meu pai rejeitou-me. Nunca mais lá voltei. Gostava de lá ir, apenas uns dias para lhes dar um abraço. Quando se vê a morte tão perto, é que damos importância, aos verdadeiros afetos. Mas não sei sequer se me receberiam.
O carro tinha chegado a uma rua, na periferia da cidade. Parou num dos estacionamentos vagos junto a um edifício de três andares.

- Vou subir contigo Beatriz.
-Não. Agradeço-te imenso, tudo o que fizeste por mim durante este tempo. O carinho e a amizade que me dispensaste. Uma irmã não teria feito melhor. Cem anos que viva, nunca me vou esquecer. Mas quero enfrentar isto, sozinha. Amanhã, se puderes, vens tomar um café comigo. Preciso saber tanta coisa. E fazermos contas, já que foste tu quem pagou os funerais.

Desatou a chorar. A amiga abraçou-a.
- Vês, porque é melhor, eu subir contigo, Beatriz? Não estás em condições de ires sozinha. E não te preocupes com as contas, isso tem tempo, não me está a fazer falta.
- Não. Já estou melhor. Diz-me só, e o outro carro? Que aconteceu aos ocupantes?
- Era uma mulher. Teve morte imediata.


7 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Continuação de boas férias

chica disse...

Lindo, instigante e forte final! beijos, tudo de bom,chica

Tintinaine disse...

Nova corrida, nova viagem!
Boas férias!

Cidália Ferreira disse...

Interessante!
-
Distancio-me de tantas coisas que gosto ...

Beijos, e uma excelente semana

Manuel Veiga disse...

Prosa limpida. Sem adiposidades ...

abraço amiga

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um história que começa com bastante emoção.
Beijinhos e boas férias, com saúde.
Ailine

noname disse...

Olá, Elvira

Tenho andado arredada, mas estou de volta e antes de tudo vou por a leitura em dia.
Até já, Beijinhos