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7.3.22

ARMADILHAS DO DESTINO - PARTE XXI

 



Às oito horas, Nuno tocava à campainha da casa de Luísa. A porta abriu-se, e a jovem saiu. Envergava um conjunto de calça e casaco em seda azul e umas sandálias de salto alto. Os cabelos não muito compridos caíam sobre os ombros e no rosto uma leve maquilhagem. Estava muito bonita.
- Continuas a ser pontual, - disse ao chegar junto dele.
- Há coisas que fazem parte de nós,- respondeu apertando a mão feminina entre as suas. E acrescentou de seguida. – Estás linda.
- Obrigado. Tu também não estás mal, - disse entrando no carro.
Nuno pôs o carro em marcha. Fez-se um silêncio estranho, pesado.
Ele mantinha-se atento à estrada, ela perdida nos seus pensamentos. Tanta coisa que gostaria de lhe perguntar. Tanta coisa que gostaria de lhe dizer. Precisava arranjar coragem. Não podia encarar o futuro sem esclarecer o passado.
-É estranho, que morando na mesma cidade e relativamente perto não nos tenhamos encontrado mais vezes. Regressaste há muito?
- Pouco mais de três meses. E provavelmente o único local que ambos frequentamos, é o supermercado. Não me encontrarás em locais noturnos, só saio à noite quando estou de serviço no hospital.
- Também não frequento esses locais.
- Não? Não deve ser por falta de convites, - disse mordaz
Ela lançou-lhe um rápido olhar e virou a cabeça para olhar a rua por onde circulavam
- Este jantar, é a minha primeira saída noturna,- se é que se pode chamar noturna, quando o sol ainda brilha radioso,- desde há catorze anos.
Ele estacionou o carro junto ao restaurante. Ela abriu a porta, e saiu sem lhe dar tempo a que ele tivesse qualquer ato de cavalheirismo.
Colocou-lhe o braço sobre os ombros e entraram. Deu o nome ao empregado que os recebeu e ele levou-os até uma mesa discreta, de onde retirou um retângulo onde se podia ler, “reservada”.
Sentaram-se e logo apareceu outro empregado que colocou algumas entradas sobre a mesa, e lhes entregou a ementa.
Escolheram caldeirada de marisco acompanhada por um rosé Quinta Romaneira, e só depois que o empregado se retirou, Nuno perguntou:
- Porquê, Luísa?
- Porquê, o quê, Nuno?
- Disseste que eras muito jovem, querias viver a vida e no entanto casaste poucos meses depois. O que é que ele tinha de especial para mudares de ideia?
- Queres mesmo saber? Não achas uma perda de tempo, passados todos estes anos?
- Sim e não respondendo às duas questões. 
Às vezes precisamos escarafunchar na ferida, para retirar tudo o que não a deixa cicatrizar.
- Era muito nova, ainda nem tinha feito dezoito anos. Meu pai obrigou-me a romper contigo, ameaçando mandar-me para casa dos meus avós numa aldeia esquecida no Minho. Ele tratou do meu casamento com o Álvaro, e eu não pude nem soube como impedi-lo
- E não te ocorreu seres sincera comigo? Tu que juravas amar-me, não confiaste em mim para me dizeres a verdade? Que grande amor era o teu – disse amargo.
- Esqueces que eu era quase uma menina – defendeu-se. E não teria sido diferente. Eu era menor, precisava da autorização dele para me casar. Ele tinha cancro, sabia que tinha pouco tempo de vida, e tinha medo de que fosses para África e me levasses contigo. Tinha medo que eu tivesse uma vida de privações por causa do teu idealismo. Por isso me casou com um homem mais velho que ele conhecia há muito tempo e julgava que me faria feliz.
-E fez?
- Não. - A resposta saiu seca e rápida como um tiro.
A chegada do empregado com o pedido, interrompeu a conversa


13 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Conversar, dialogar.
É o essencial em tudo na vida.
Boa semana

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Mais um excelente capitulo de que gostei.
Um abraço e boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Tintinaine disse...

Bom dia e uma boa semana que parece que nos vai trazer chuva que será bem vinda.
Quanto aos amantes desavindos, acredito que eles acabarão por se entender!

chica disse...

Há muito a contar, conversar, acertar...Linda semana! beijos, chica

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história.

noname disse...

Hora de pôr as cartas na mesa, mostrar o jogo. Vamos ver, no que dá.

Boa tarde, Elvira

Duarte disse...

Os meios necessários para uma boa comunicação, estão aí.
Como sempre, magnífico.
Abraço de vida

Cidália Ferreira disse...

Passados que estão cravados como feridas abertas!
-
Passando para desejar boa noite
Beijos...

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Gostei imenso deste capítulo.
É essencial que conversem sobre as causas da separação.
Beijinhos,
Ailime

teresadias disse...

Agora sim, tudo será esclarecido.
Excelente capítulo, rico de pormenores.
Beijo.

Rosemildo Sales Furtado disse...

É! A coisa começou a ser esclarecida. Resta-nos somente esperar.

Abraços,

Furtado

João Santana Pinto disse...

Um texto em duas partes, uma primeira que delicia com pormenores de muito gosto, mesmo uma ou outra provocação das boas, com diálogos que agradam e uma segunda parte, mais sérias, mas que teria de acontecer mais tarde ou mais cedo. Tudo o que fica por “resolver” não permite avançar.
Vou passar ao próximo

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Que esse diálogo os levem a um desfecho esclarecedor!
Abraços!