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9.3.22

ARMADILHAS DO DESTINO. PARTE XXII

 






- E se deixássemos de lado o passado, e desfrutássemos desta magnífica refeição? – perguntou Nuno
Não lhe agradava a tormenta que adivinhava nos olhos femininos, cujo azul se apresentava quase negro. Desde que falara com o pai que estava a por em causa, tudo o que pensara sobre ela durante anos.
Luísa não respondeu. Limitou-se a pegar no talher e iniciar a refeição.
Uns minutos depois ele quebrou o silêncio.
- Segundo sei, as tuas aulas acabam em breve. O que costumas fazer nas férias? Viajas?
- Não. Passeio pela cidade, visito museus e igrejas. E aproveito para ler. Não tem graça viajar sozinha. Não se tem com quem partilhar emoções.
- Às vezes encontram-se boas companhias em viagens.
-É possível. Mas os meus livros também me levam a viajar e são excelentes companhias.
- Claro que sim. Mas…chega-te? O que quero dizer é que és uma mulher jovem e bonita, estás na plenitude da vida. Não tens desejos de algo mais? Uma família, por exemplo?
- Não.
- Gostaria de te perguntar porquê. Mas penso que não tenho o direito de entrar na tua intimidade.
- E eu gostaria que tu soubesses porquê, sem precisares perguntar.
- O que nos remete de novo para o passado.
- E temos alguma coisa em comum que não seja o passado?
- Acredito que sim. Senão vejamos. Ambos adoramos crianças, ambos escolhemos profissões que nos põem ao serviço delas completando-se. Tu abres-lhes a mente com os teus ensinamentos, eu abro-lhes o corpo para lhes restituir a saúde. Ambos gostamos de ler, e… de caldeirada de marisco – completou sorrindo.
- E de vinho Rosé - disse Luísa, agora menos tensa.
- A propósito de crianças, aquele miúdo que ainda está no hospital, vai perder o ano? Pedi novos exames para segunda-feira, e se estiver tudo como espero, vou dar-lhe alta, mas será que consegue recuperar as aulas perdidas?
- Claro que sim. Tenho feito as lições com ele, todas as tardes no hospital, -respondeu Luísa.
- Devia calcular que não o ias deixar para trás. Se vais todos os dias, sabes que com a fisioterapia está a fazer grandes progressos. Mas depois de ter alta precisa de especial cuidado. Uma queda, ou pancada naquela perna, pode ser muito grave.
- Dentro da escola, não terá qualquer problema. Cuidarei dele o tempo todo. Mas as aulas estão quase a terminar, os pais estão emigrados e ele vive com os avós, que já não são novos e têm problemas de saúde especialmente o avô.
- Então provavelmente o melhor é aguentá-lo mais uma semana no hospital. Não sei se sabes, mas aquele osso teve várias fraturas, estava praticamente todo fragmentado foi necessário recorrer a placas metálicas para o reconstruir.
-Sabia que tinha sido grave, mas não imaginei semelhante quadro.
Tinham acabado a refeição, e o empregado aproximou-se para recolher os pratos e entregar-lhes a ementa dos doces.


9 comentários:

chica disse...

Um jantar acompanhado de boas conversas... Valendo a pena,agora esperar a sobremesa,rs...beijos, chica

Maria João Brito de Sousa disse...

Tudo a correr pelo melhor, até agora :)

Forte abraço, Elvira!

Teresa Isabel Silva disse...

Perdi alguns capítulo, mas voltarei para reler e acompanhar a história!

Bjxxx
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Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Atrasei-me e estou agora a tentar recuperar a leitura desta bela história.
Beijinhos
Ailime

teresadias disse...

Boa conversa.
Elvira, admiro o seu jeitinho para escrever excelentes diálogos.
Beijo.

Rosemildo Sales Furtado disse...

Gostando cada vez mais, pois o rumo da conversa está mudando.

Abraços,

Furtado

João Santana Pinto disse...

Recuperar o passado não é fácil, mas há um presente de oportunidades e um amor assim não desaparece, limita-se a ficar adormecido.
É normal algum constrangimento a recuperar a confiança que antes existia.
Vou passar ao próximo

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Episódio espetacular!
Abraços!