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16.3.22

ARMADILHAS DO DESTINO - PARTE XXV


Levantou-se e foi até á janela. Por momentos o silêncio pesou sobre eles. Depois Luísa levantou-se e foi até ele. Pôs-lhe a mão no ombro.

- Olha para mim, Nuno. Olha-me bem nos olhos e diz-me o que vês? É por acaso compaixão? Eu olho para ti e vejo o homem maravilhoso que sempre foste. Um homem bom, um idealista que pôs toda a sua vida ao serviço dos outros, salvando dezenas ou centenas de vidas. Um excelente médico que ainda há pouco tempo salvou a vida dos meus alunos. Um homem que apesar de tudo ainda me olha com amor. Isto é o que vejo, e será o que qualquer pessoa verá. A prótese? É mais um testemunho da excelente pessoa que és.

-É fácil falar assim. Estás a ver-me vestido, e graças a Deus que me adaptei bem, nem sequer claudico, ninguém imagina que não estou inteiro. Mas já me imaginaste na intimidade, quando formos para a cama? Já te imaginaste a fazer amor com um aleijado?

- Parece-me que o aleijão está mais na tua cabeça do que na perna. Imagino que o teu orgulho, não te deixou ter acompanhamento psicológico. Desde quando um homem é, ou deixa de ser inteiro, por uma perna ou um braço amputado? Se tivesses uma doença mental, que não fosses capaz de reconhecer o bem do mal, que fosses incapaz de sentir qualquer sentimento, aí sim, dir-se-ia que não estavas inteiro. Tens medo de ir para a cama comigo? Acaso pensas que eu também não tenho medo? Que eu não penso se tudo o que passei não me tornou numa mulher frígida? Disseste há pouco que o amor que nos uniu, ainda está latente entre nós. Eu sei que sempre te amei, embora tivesse perdido as esperanças de algum dia voltar a encontrar-te. Mas a vida se encarregou de nos conduzir a esta encruzilhada, e só vejo dois caminhos a seguir. Ou  damos uma hipótese, ao amor que ainda nos une, fazendo renascer os sonhos que tivemos em comum, de sermos felizes, ou nos recolhemos cada um à sua toca e levamos o resto da vida a lamber as próprias feridas.  

Calou-se. Ficaram assim frente a frente, fitando-se, olho no olho, durante largos minutos.
- Tens coragem para arriscar? – perguntou ele com voz rouca
- Pensas que te abriria o coração desta maneira se assim não fosse? Mas não se trata apenas de mim. Nem tu, nem eu sabemos como vou reagir na intimidade. Tu também tens muito a arriscar.  Agora é melhor que te vás. Pensa em tudo o que falámos, aqui, esta noite. Esquece os teus complexos. Interroga o teu coração e a tua mente, e vê se tens coragem para arriscar a única hipótese que ainda temos de ser felizes. E quando tiveres a certeza do que queres, sabes que estou sempre aqui.

Ele não respondeu. Encaminhou-se para a porta. Aí chegado, rodeou-lhe a cintura com um braço e puxou-a para si. Lentamente baixou a cabeça, e aprisionou a boca feminina, num beijo  que ele desejava fosse uma terna despedida, mas que se tornou intenso e apaixonado ao encontrar correspondência.
Subitamente largou-a, e saiu batendo a porta.



15 comentários:

J.P. Alexander disse...

Hermoso relato, es muy dificil cuando no nos sentimos como los demás sea que uno este lisiado o tenga otra enfermedad. Y mas cuando te atreves amar. Te mando un beso.

Pedro Coimbra disse...

Chegou e fase de vencer os medos.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Mais um excelente capitulo.
Gostei.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
tenho seguido todos os episódios e embora já tenha lido este conto, não me recordava de algumas cenas mais importantes .
Vou esperar o final.

JR

Tintinaine disse...

Já estou a ver a doente a curar o médico!
Bom dia à BENFICA!!!!

chica disse...

QUAAAAAAAAAAAAAAAASE!! Agora tomara ele repense e finalmente se permitam o amor viver! beijos, tudo de bom,chica

Maria João Brito de Sousa disse...

Conforme já aventei, ambos estão física e psicologicamente marcados... Entender-se-ão mutuamente!

Um grande abraço, amiga!

noname disse...

A vida é uma complicação.

Bom dia, Elvira

Beatriz Pin disse...

Olà Elvira. Un tema que está muito presente na vida de calquera,pois são coisas que succedem. Não é fácil porque quem sufreu amputação dalgum membro não se pode sentir da mesma maneira diante da persoa amada. Hai danos psicológicos quevtraumatiçam mais que os físicos.
Obrigada pela sua partilha no meu blog.
Gostei saver que em Portugal também se conhece o dos responsos a São Antonio.
Meu abraço, amiga.

Cidália Ferreira disse...

Continua intenso!! _:))
~~
Caminhos extensos e cruéis...

Beijos. Votos de uma boa tarde.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um episódio muito bem escrito e cativante.
Decerto que ambos vão querer ser felizes e que o amor que os une os ajudará a sarar as feridas.
Beijinhos e saúde.
Ailime

teresadias disse...

Emoção, muita emoção, num diálogo corajoso.
Bjs.

Rosemildo Sales Furtado disse...

O amor é lindo. Gostando e aguardando os próximos acontecimentos.

Abraços,

Furtado

João Santana Pinto disse...

Um texto corajoso (acrescentando ao comentário acima)

Só temos uma vida e mesmo a dois, a longevidade faz com que se arrisque terminar a um e os bons momentos devem ser vividos, acredito que são esses que nos alimentam a alma e nos fazem aguentar nas alturas de maiores desafios.
O amor tem pernas para avançar, este pelo menos…
Vou continuar

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

O amor que os une será a fortaleza para eles vencerem os traumas e medos. Beijos!