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2.3.22

ARMADILHAS DO DESTINO - PARTE XIX



O almoço decorreu com alguma animação por parte de Arminda, que adorava ter à mesa os seus dois homens, como ela costumava dizer. Filho único e tantos anos, afastado do país, Nuno sempre que tinha o fim-de-semana livre, ia almoçar com os pais. Adorava ver aquele brilho de felicidade nos olhos maternos.

Depois do almoço, pai e filho, deixavam-na entregue aos afazeres domésticos e iam até ao café, onde durante uma hora, tomavam o seu café e se entretinham numa amena conversa. Mais tarde regressavam a casa, viam um pouco de televisão, comentavam os casos mais noticiados da semana, e por fim, volta das cinco da tarde despedia-se e regressava a casa. 
Raramente saía à noite, embora naqueles dias de final de maio, com temperaturas a fazer lembrar o Verão já tão próximo apetecesse dar uma volta.

Não foi diferente naquele dia. Apesar da conversa trivial com a mãe, Nuno não conseguia esquecer o que o pai lhe contara e estava ansioso por estar a sós com ele, para tentar saber mais sobre aquele assunto. Porém não queria perguntar-lhe diretamente.
Desde criança sempre tivera uma grande ligação ao progenitor que soubera sempre impor disciplina, sem descurar o amor. Isso fizera com que além de pai, fosse amigo e confidente para o jovem. Mesmo agora, após tantos anos separados, e sendo ele já um quarentão, sentia uma grande admiração pelo pai e só confiava nele para falar do que lhe ia na alma.

O que o pai lhe contara sobre Luísa, não lhe saía da cabeça, e fazia com que se questionasse sobre as verdadeiras causas que levaram a jovem, a romper a relação que os unia. Seria o caso dela ter sido obrigada pelo pai? Podia ter acontecido já que ela era menor. Mas se assim fosse porque não confiou nele? Porque não lhe contou? Ele teria ido falar com o pai dela, teria lutado por eles, e pelo amor que os unia. Precisava saber a verdade. Ele sempre fora um homem justo. Se estava errado em relação aos factos do passado, não podia de jeito algum continuar com desejos de vingança.

- Estás muito pensativo hoje, - disse o pai quando se sentavam à mesa no café.
O empregado aproximou-se, e eles pediram apenas cafés. Depois, que ele se afastou, Nuno perguntou:
- Dissestes que dizem que a Luísa se atirou do carro. Porque é que que ela faria semelhante coisa?
- Talvez porque a primeira mulher de Álvaro Soromenho se suicidou com seiscentos e cinco, forte. Ele disse que o fez porque estava deprimida. Ora pouco antes da sua morte, a figura de Luísa assemelhava-se em muito à da falecida primeira mulher dele, por isso os vizinhos pensam que ela se tentou suicidar.  Havia tempos que ele dizia a toda a gente que a sua mulher estava com depressão. Depois, o condutor do carro que os seguia, disse que ela se atirou do carro, e que o mesmo saiu desgovernado para a outra faixa onde chocou com o camião. Foi isso que saiu nos jornais da época.

Interrompeu a conversa para corresponder ao cumprimento de um amigo. Logo que o amigo se afastou, retomou a palavra, com um aviso ao filho.
- Se não queres retomar a história onde a deixaste, esquecendo o que se passou pelo meio, tem cuidado Nuno. A vingança, é um pau de dois bicos. Acabamos muitas vezes por descobrir que a ferida que provocámos em nós, é superior à que provocámos no objeto da nossa vingança.


12 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Ouvir os mais velhos é sempre boa política.
Em tudo.

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Mais um excelente capitulo.
Um abraço e tenha um bom mês de Março.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Tintinaine disse...

Eu também tenho essa espécie de ligação com o meu filho (acho eu) que este ano completa 50 anos.
Bom dia e venha mais chuva que a que caiu ontem foi boa, mas não chega!

noname disse...

Bom dia, Elvira

Acompanhando a trama.

Beijinhos

chica disse...

Sábios e sempre oportunos conselhos do pai... beijos, lindo dia! chica

Emília Pinto disse...

Espero que com estas confissões do pai, o Nuno tente saber os motivos que a levaram a deixá-lo e esqueça a vingança. Estou intrigada com o tal acidente que ele teve, mas, tenho que ter paciência e esperar pelos próximos capitulos, não é, Elvira? Espero que os teus problemas d3 saúde estejam a ser resolvidos. Um beij8nho 3 saúde para todos aí
Emilia

Maria João Brito de Sousa disse...

Hoje fico-me pela leitura deste episódio. Estou muito, muito cansada.

Abraço, minha amiga!

Cidália Ferreira disse...

Muito bom. Gostei!
-
A janela que me acolhe...

Beijos.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
A boa relação entre pai e filho vai ajudar, decerto, a clarificar o pensamento de Nuno a respeito de Luisa.
Beijinhos e continuação de boa semana.
Ailime

teresadias disse...

Um mimo de capítulo, com um excelente final.
Beijo.

Rosemildo Sales Furtado disse...

Quem sabe, o pai o ajudará a descobrir os motivos do abandono e, assim esquecer a vingança.

Abraços,

Furtado

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

A sabedoria do pai o conduzindo e alertando!
Abraços fraternos!