- E depois? Não falaram? Não trocaram número de telefone? Não sabes como encontrá-lo?
Isabel abanou a cabeça e então contou o encontro do dia anterior, e de como ela fugira da estação de serviço de Palmela.
-Ó Isabel, tu estás irremediavelmente apaixonada - sentenciou Amélia.
- Estás louca! - Como posso estar apaixonada por um homem que mal conheço? De quem, nem o nome sei?
- Estás louca! - Como posso estar apaixonada por um homem que mal conheço? De quem, nem o nome sei?
- Sempre achei que a tua fortaleza, a tua indiferença para as coisas do coração, era mais aparente que real. És uma mulher dedicada e sensível. Basta ver como cuidaste dos teus pais. Julgaste viver um grande amor…
- Não julguei. Eu vivi um grande amor – interrompeu Isabel
- Será Isabel? Eras uma menina ingénua e sonhadora que nada sabia da vida. Aos dezoito anos, não nos apaixonamos pelo homem. Enamoramos-nos do próprio amor. O homem, vem por acréscimo. E se muitas vezes é o companheiro ideal, que nos vai acompanhar pelo resto da vida, na maior parte das vezes os príncipes não passam de sapos disfarçados, que transformam os nossos sonhos em pesadelos. Culpa deles, ou nossa? Provavelmente de ambos, não sei. Consegues olhar para ti hoje, e, comparar-te à Isabel que eras nesse tempo? Claro que não. Quem nos diz, que se o Fernando não tivesse partido, teria acompanhado a tua evolução? Ou quem sabe, não ficaria lá atrás no seu cantinho? Quem sabe se vocês, seriam hoje um casal feliz, ou se estariam divorciados? Ninguém.
Mas tu assumiste que ele era o teu grande amor e criaste à tua volta uma espécie de casulo, onde te encerraste, com a tua dor. Por causa disso afastaste todas as hipóteses de viveres um novo amor. Um amor de mulher, mais madura, que conhece a vida, os seus sonhos e as suas dores.
Isabel permanecia com os cotovelos em cima da mesa e o rosto entra as mãos. No fundo ela sabia que a amiga tinha razão. Mas custava-lhe admitir a verdade, até para si própria. Amélia passou-lhe a mão pelos cabelos, num gesto carinhoso, e acrescentou.
- Se a vida te está dando outra oportunidade não a desperdices minha amiga. Quem sabe se é a derradeira? E nada pior, do que viver o resto da vida imaginando, o que ela poderia ter sido e não foi por sermos covardes.
- Mas eu não sei nada sobre ele. Nem sequer o nome. Apenas que tem uns olhos cinzentos que parecem mergulhar dentro de nós até ao mais ínfimo da nossa alma. E uma voz rouca, sensual…
- E um corpo alto atlético e moreno, e uns braços fortes onde gostavas de te acolher – riu Amélia.
- Não sejas assim, - disse zangada. Vamos-nos deixar de conversas e trabalhar. Marca as entrevistas para quarta-feira. Uma para as dez horas a outra para as quinze. Telefona à Dulce e pergunta se a campanha do início das aulas que lhe entreguei antes das férias está pronta, quero vê-la. Como foi o Paulo que a aprovou, gostava que ele a visse. Se a gravação estiver pronta, telefona-lhe e pede para ele passar por cá para a ver.
Amélia afastou-se e levando a mão à testa, imitou o gesto do militar perante um superior dizendo:
- Sim chefe.