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27.11.19

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XIX



Minutos mais tarde, Laura voltava acompanhada de Inês.
-Boa-noite - saudou olhando preocupada o homem que do outro lado da secretária se pôs em pé quando as duas entraram.
-Boa-noite, Inês. Sente-se e diga-me. Como encontrou hoje a minha filha? Recebeu alguma informação? Sabe quando ela terá alta?
- Falei com o médico. Ele disse-me que apenas quer repetir uns exames e depois lhe dará alta. Perguntei quando faria esses exames, e disse-me que no dia dezanove, e se tudo estiver bem como lhe parece, o mais tardar dia vinte e um terá alta, e já passará em casa o dia de Natal.
- Que bom - disse Laura indo abraçar o irmão.
Durante alguns segundos permaneceram enlaçados na mesma emoção, como se não lembrassem que não estavam sozinhos.
Por fim, Gil afastou a irmã, voltou costas e foi de novo sentar-se à secretária. Exercendo todo o seu controlo sobre os sentimentos, quando falou a sua voz soou serena.
- Obrigado. E diga-me, Inês. Está contente com o seu emprego?
- Estaria mais contente se a menina estivesse aqui, é uma bebé adorável, de quem vou cuidar com muito gosto. Mas sim estou muito feliz com o emprego.
-Contudo a sua expressão não demonstra essa felicidade.
- A minha expressão não vai influir em nada os meus cuidados com a sua filha senhor. Ela estará sempre acima de qualquer preocupação que me atormente. Juro-vos.
Os seus olhos rodavam preocupados, de um para outro dos irmãos, como se temesse que a fossem despedir. Gil notou o brilho húmido e receou que a jovem fosse começar a chorar.
- Tenho a certeza disso. Acalme-se, só queremos ajudá-la - disse Laura sentando-se a seu lado e segurando-lhe nas mãos. Estavam geladas.
Gil esperou uns segundos, para que a jovem se acalmasse e depois retomou a palavra.
- Não vou denunciar a fonte, mas ficámos a saber, o que se passou consigo, a razão do seu divórcio, bem como da existência do seu filho.  Eu e a minha irmã conversámos sobre isso e chegamos à conclusão, de que uma vez que vai ficar a viver aqui, deve trazer para cá o seu filho. Amanhã vou mandar pôr um divã no seu quarto, e depois com mais tempo poderá decorar o quarto a seguir ao seu para ele. A minha irmã vai ajudá-la.
Laura abraçava a jovem que chorava copiosamente, sem saber que dizer, nem como lhes agradecer.
Gil não gostava de ver uma mulher chorar. Levantou-se da cadeira e dirigiu-se à porta dizendo à irmã:
- Tenho que ir ao quarto buscar uns documentos. Combinem a hora a que podem ir buscar o menino de manhã, uma vez que de tarde a Inês terá que ir ao hospital.
Fechou a porta e subiu. Não porque precisasse de ir buscar algum documento, mas porque tinha de digerir a emoção, que o facto de saber que em breve tinha a filha em casa lhe proporcionara. Saber que dentro de dias ia poder abraçá-la, dava-lhe um aperto no peito, e punha-lhe os olhos brilhantes.  Podia compreender a angústia de Inês, tendo que viver longe do filho. E sentia-se satisfeito pela decisão que tomara de trazer o miúdo para junto da mãe. Aquela casa estava demasiado triste. Duas crianças iam decerto ser como um raio de sol que rompe a escuridão e ilumina tudo à sua passagem.

  

13 comentários:

noname disse...

Caramba, a história está cada vez melhor.

Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Tenho duas filhas que adoro mais que a própria vida.
Vida que nem sequer imagino sem elas.
Abraço

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
É realmente um conto cheio de emoções e brevemente também com muito romancismo .

JAFR

Tintinaine disse...

Faz bem e não olhes a quem, ditado que o nosso herói está a seguir á risca.

Os olhares da Gracinha! disse...

Uma decisão acertada que irá trazer alegria... Bj

Larissa Santos disse...

Faz muito sentido a atitude que teve o Gil. Tenho a certeza que vai correr tudo bem:))
Bom dia.
Hoje : Queria viver no teu silêncio

Bjos
Votos de uma óptima Quarta - Feira

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Está a ficar emocionante.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

" R y k @ r d o " disse...

A Estória está a ficar muito excitante. Gostando de ler e acompanhar a saga dos irmãos e da criança que há-de chegar

Um dia feliz

Cidália Ferreira disse...

Acho que depois de tudo estar mais calmo vai nascer um romance... Hummm! :)

Beijos e um excelente dia

Edum@nes disse...

Gil sente-se feliz, por ajudar quem precisa de ser ajudado. Homens como o Gil, no mundo são raros!

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Mar Arável disse...

Que nunca lhe doam os dedos
nem as mãos que falam por gestos

Pedro Luso de Carvalho disse...

Olá, Elvira!
Gosto de ler as suas narrativas por estarem dentro de nossa realidade e também pela fluência e naturalidade da sua prosa. Com este capítulo não foi diferente. Também gostei.
Um abraço, Elvira.

João Santana Pinto disse...

Ter várias personagens e cenários, num movimento constante, é tão difícil... e este seu conto tem tudo isso na quantidade certa, nos ritmos certos e com a emoção certa.

Mais um texto onde os sentimentos são chamados a aplaudir.

Abraço e boa inspiração