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15.11.19

OS SONHOS DE GIL GASPAR - PARTE XIV






Duas semanas depois, os médicos decidiram que era chegada a hora de fazerem Mariana nascer.  Estava com trinta e duas semanas, tinha boas hipóteses de sobreviver sem qualquer sequela, e a situação no útero da mãe começava a tornar-se mais complicada à medida que a situação materna se ia deteriorando.
Gil fora avisado de véspera e por isso logo de manhã, dirigiu-se ao hospital com a mala de roupa que preparara com a ajuda da Celeste, pois a falar verdade não tinha a noção do que devia escolher entre a quantidade de roupinhas que enchiam as gavetas da cómoda, no quarto que seria o da filha.
No hospital, foi-lhe dada autorização para assistir à cesariana, e para isso teve de se despir e vestir a bata esterilizada bem como a touca e sapatos cirúrgicos que a enfermeira lhe deu.
E foi com enorme emoção e algum receio que segurou a filha quando uma enfermeira lhe desapertou a bata e lhe encostou o recém-nascido e minúsculo corpo da menina ao seu próprio peito nu. Nada nem ninguém podia ter preparado Gil para a intensa emoção que acelerou os seus batimentos cardíacos, e lhe pôs um nó na garganta que lhe impediu qualquer palavra. Limitou-se a segurá-la com carinho, e a tentar fazer-lhe sentir toda a força do seu amor, através do bater acelerado do seu coração.
Como se isso a tornasse mais forte e mais apta a sobreviver. Mas logo a enfermeira a levou, para a pesar, vestir, ser vista pelo médico e levada para a incubadora, até que lhe fosse dada alta.
 Mil anos que ele vivesse, jamais esqueceria a emoção que sentira no momento em que pegou na filha recém-nascida ao colo e sentiu o frágil bater do seu pequeno coração
Pouco depois, uma enfermeira fê-lo sair do bloco de partos, enquanto o informava que as máquinas que mantiveram Sara artificialmente viva, iam ser desligadas. O médico iria passar a certidão de óbito, e ele poderia iniciar com a agência funerária os trâmites para o funeral.
Um pouco mais tarde, já vestido abraçava o irmão, que chegara ao hospital, no momento em que ele ia para o bloco operatório, e aguardara na sala de espera, por notícias.
- Foi emocionante, Marco – disse Gil respondendo à muda interrogação dos olhos do irmão. – Segurar nos braços aquele pedacinho de carne, sentir o seu coraçãozinho bater no meu peito, nem consigo descrever o que senti.
- Ela está bem de saúde? E o que vai acontecer agora? – perguntou o irmão.
-É muito pequenina, mas fisicamente é perfeita e tem bons pulmões. Se visses como chorou enquanto a limpavam. Agora vai ser examinada por um pediatra e levada para a incubadora.
Uma enfermeira virá avisar quando a Mariana esteja na incubadora. Vais comigo, vê-la?
-Posso?
- Segundo me informaram, só  vamos vê-la através de um vidro. O médico acabou de me informar que vão desligar as máquinas que mantinham a Sara em vida artificial. Tenho que telefonar ao pai dela, e saber se a família vem 
despedir-se dela, e se assim for, conseguir passagens de avião para eles.
- Vamos tratar de tudo juntos, não te preocupes. Enquanto telefonas para o teu sogro eu vou ligar para a Laura. 








13 comentários:

noname disse...

Estou a adorar esta história.

Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Uma sobrevivente que chega ao Mundo enquanto a luta de outra sobrevivente termina?
Bfds

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Um dos momentos mais emocionantes deste conto , que parece ser mais uma realidade .

JAFR

Os olhares da Gracinha! disse...

Um capítulo com muita emoção... Bj

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

chica disse...

Beleza, emoção o que vi aqui! Adorei! beijos, chica

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Estou a gostar.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

esteban lob disse...

Historia, Elvira, que representa en plenitud las penas y alegrías que dan y a que obliga la vida.

Abrazo.

Tintinaine disse...

Vai começar uma nova fase na vida do nosso herói. Ser pai também tem a sua piada!

Larissa Santos disse...

Gostei deste episódio! Nasce uma vida e perde-se outra, é assim ...

Do nosso Poeta - Gil António-:-Luz de amor e vida

Bjos
Votos de uma óptima Sexta- Feira :))

Cidália Ferreira disse...

Este episódio fez-me lembrar aquela moça que esteve ligada às máquinas até ter o Bebé salvador! Triste realidade...

-
Pensamentos que voam ...
Beijo e uma boa noite!

Edum@nes disse...

Já nasceu a Mariana, agora é aguardar que ela saia da incubadora. Onde tem de passar o tempo que os médicos entendam ser necessário!

Bom fim de semana amiga Elvira. Um abraço.

João Santana Pinto disse...

Quando se retrata a vida os textos podem ser "duros" e provocar as nossas emoções e é impossível ficar indiferente a este texto ao mesmo tempo que celebra a vida, retrata a parte final de um grande drama.