Duas
semanas depois, os médicos decidiram que era chegada a hora de fazerem Mariana
nascer. Estava com trinta e duas
semanas, tinha boas hipóteses de sobreviver sem qualquer sequela, e a situação
no útero da mãe começava a tornar-se mais complicada à medida que a situação materna
se ia deteriorando.
Gil
fora avisado de véspera e por isso logo de manhã, dirigiu-se ao hospital com a
mala de roupa que preparara com a ajuda da Celeste, pois a falar verdade não
tinha a noção do que devia escolher entre a quantidade de roupinhas que enchiam
as gavetas da cómoda, no quarto que seria o da filha.
No
hospital, foi-lhe dada autorização para assistir à cesariana, e para isso teve
de se despir e vestir a bata esterilizada bem como a touca e sapatos cirúrgicos que a
enfermeira lhe deu.
E
foi com enorme emoção e algum receio que segurou a filha quando uma enfermeira
lhe desapertou a bata e lhe encostou o recém-nascido e minúsculo corpo da
menina ao seu próprio peito nu. Nada nem ninguém podia ter preparado Gil para a
intensa emoção que acelerou os seus batimentos cardíacos, e lhe pôs um nó na
garganta que lhe impediu qualquer palavra. Limitou-se a segurá-la com carinho,
e a tentar fazer-lhe sentir toda a força do seu amor, através do bater
acelerado do seu coração.
Como
se isso a tornasse mais forte e mais apta a sobreviver. Mas logo a enfermeira a
levou, para a pesar, vestir, ser vista pelo médico e levada para a incubadora,
até que lhe fosse dada alta.
Mil anos que ele vivesse, jamais esqueceria a
emoção que sentira no momento em que pegou na filha recém-nascida ao colo e
sentiu o frágil bater do seu pequeno coração
Pouco
depois, uma enfermeira fê-lo sair do bloco de partos, enquanto o informava que
as máquinas que mantiveram Sara artificialmente viva, iam ser desligadas. O
médico iria passar a certidão de óbito, e ele poderia iniciar com a agência
funerária os trâmites para o funeral.
Um
pouco mais tarde, já vestido abraçava o irmão, que chegara ao hospital, no
momento em que ele ia para o bloco operatório, e aguardara na sala de espera, por notícias.
- Foi
emocionante, Marco – disse Gil respondendo à muda interrogação dos olhos do
irmão. – Segurar nos braços aquele pedacinho de carne, sentir o seu coraçãozinho
bater no meu peito, nem consigo descrever o que senti.
- Ela
está bem de saúde? E o que vai acontecer agora? – perguntou o irmão.
-É
muito pequenina, mas fisicamente é perfeita e tem bons pulmões. Se visses como chorou
enquanto a limpavam. Agora vai ser examinada por um pediatra e levada para a
incubadora.
Uma enfermeira virá
avisar quando a Mariana esteja na incubadora. Vais comigo, vê-la?
-Posso?
- Segundo me informaram, só vamos vê-la através de um vidro. O médico acabou de me informar que vão desligar as máquinas que mantinham a Sara em vida artificial. Tenho que telefonar ao pai dela, e saber se a família vem
despedir-se dela, e se assim for, conseguir passagens de avião para eles.
despedir-se dela, e se assim for, conseguir passagens de avião para eles.
- Vamos
tratar de tudo juntos, não te preocupes. Enquanto telefonas para o teu sogro eu vou ligar para
a Laura.
13 comentários:
Estou a adorar esta história.
Boa noite, Elvira
Uma sobrevivente que chega ao Mundo enquanto a luta de outra sobrevivente termina?
Bfds
Bom dia
Um dos momentos mais emocionantes deste conto , que parece ser mais uma realidade .
JAFR
Um capítulo com muita emoção... Bj
A passar por cá para acompanhar a história!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Beleza, emoção o que vi aqui! Adorei! beijos, chica
Estou a gostar.
Um abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Historia, Elvira, que representa en plenitud las penas y alegrías que dan y a que obliga la vida.
Abrazo.
Vai começar uma nova fase na vida do nosso herói. Ser pai também tem a sua piada!
Gostei deste episódio! Nasce uma vida e perde-se outra, é assim ...
Do nosso Poeta - Gil António-:-Luz de amor e vida
Bjos
Votos de uma óptima Sexta- Feira :))
Este episódio fez-me lembrar aquela moça que esteve ligada às máquinas até ter o Bebé salvador! Triste realidade...
-
Pensamentos que voam ...
Beijo e uma boa noite!
Já nasceu a Mariana, agora é aguardar que ela saia da incubadora. Onde tem de passar o tempo que os médicos entendam ser necessário!
Bom fim de semana amiga Elvira. Um abraço.
Quando se retrata a vida os textos podem ser "duros" e provocar as nossas emoções e é impossível ficar indiferente a este texto ao mesmo tempo que celebra a vida, retrata a parte final de um grande drama.
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