Viera sem fitas. Viera sem rótulos. Viera sem
embalagens, caixas ou sacos.
Cismou tanto que a sua máquina de cismar
ficou cansada.
Então, o Grinch pensou em algo que nunca
tinha pensado antes.
E se o Natal não viesse de uma loja.
E se o Natal significasse um pouco mais…
Dr. Seuss
Tenho muitas memórias felizes do Natal de quando era
criança, mas há duas em particular que se destacam das outras. A primeira
ocorreu quando eu estava no sexto ano; a segunda, um ano mais tarde.
Depois de termos ido para a cama na véspera de Natal, o
meu pai alinhou cinco cadeiras da cozinha na sala, uma para cada um dos filhos.
De cabides de roupa fez ganchos e pendurou-os nas costas de cada cadeira; em cada
um, pendurou as grandes meias de Natal vermelhas e verdes que a minha mãe tinha
tricotado para cada um de nós. Os presentes demasiado grandes para caber nas
meias foram colocados em cima ou por baixo das cadeiras.
Nessa manhã de Natal em particular, os meus pais estavam
sentados no sofá, numa das extremidades da sala de estar, a ver-nos arrancar os
embrulhos. Gritos entusiasmados de “Vejam o que eu recebi!” juntavam-se à
balbúrdia que fazíamos, enquanto brincávamos com cada brinquedo por breves
momentos, antes de o largar e atacar outro presente. Não me lembro dos
presentes que recebi, mas não foram eles que tornaram aquele Natal memorável.
Tínhamos acabado de abrir o último presente quando o
John, o meu irmão mais novo, e eu, olhámos por acaso para os nossos pais, que
estavam ainda sentados no sofá. As caras de ambos estavam iluminadas por
sorrisos radiantes.
— Mãe e Pai, porque estão a sorrir? — perguntou, confuso,
o meu irmão. — Vocês não receberam nada.
Na altura, não dei muita atenção à pergunta do meu irmão
ou às reações dos meus pais. Afinal de contas, eu tinha recebido o que queria.
Tudo estava bem no mundo, e eu esperava que os futuros Natais — por causa dos
presentes que iria receber — me trouxessem ainda mais alegrias.
A quadra festiva seguinte começou como todas as outras.
Os meus amigos e eu recordávamos uns aos outros, diariamente, quanto tempo
ainda faltava para o Natal. As semanas transformaram-se em dias, até que por
fim chegou a véspera de Natal. Era o dia antes do “Grande Dia.” Nessa noite,
fui para a cama empolgado como nunca. O pensamento de todas as preciosidades
que iria receber em breve enchia-me totalmente a cabeça. No entanto, lá
consegui forçar-me a dormir.
Por fim, chegou a manhã de Natal. Sendo o mais velho,
senti que era minha obrigação solene liderar a correria até aos presentes — e
assim fiz. O rasgar dos papéis era pontuado pelos habituais guinchos excitados
de felicidade e os gritos de “Vejam o que eu tive!”, enquanto os meus irmãos e
irmãs exibiam com algazarra os seus presentes novos acabadinhos de abrir.
Estava eu a rasgar o embrulho do meu segundo presente,
quando senti que algo estava errado. Fiz uma pausa e dei-me conta de que a
minha excitação febril da noite passada tinha desaparecido. Afinal de contas, o
primeiro presente tinha sido a habitual lata de amendoins dada pelo meu pai.
Talvez o presente que estava a abrir agora trouxesse de volta o meu entusiasmo.
Encorajado por esse pensamento, acabei de abrir o
embrulho. Lá dentro estava um foguetão de plástico. Podia-se encher
parcialmente com água, pressurizar com a bomba de plástico já incluída, depois
lançá-lo ao ar a cerca de 9 metros. O John, o meu irmão mais novo, estava
praticamente a salivar de inveja, mas eu nem sequer queria aquilo…
Um terceiro e último presente provou ser igualmente
desinteressante. Aborrecido, peguei nos meus brinquedos e levei-os para a mesa
da sala de jantar.
Os meus pais aperceberam-se do meu olhar cabisbaixo.
— Terry — disse o meu pai — falta-te ver um presente.
Está debaixo da tua cadeira.
Sem qualquer entusiasmo, abri uma caixinha branca,
quadrada, de cerca de cinco centímetros. Dentro estava um relógio de bolso da
marca Westclox. Embora nunca tivesse tido um relógio antes, continuei muito
desapontado.
Estava a tentar aceitar este vazio inexplicável quando,
de repente, me lembrei da pergunta que o meu irmão tinha feito aos meus pais no
Natal anterior: “Porque é que estão a sorrir? Vocês não receberam nada.”
Então algo aconteceu dentro de mim. Olhei de relance os
meus pais, que continuavam sentados no sofá. O mesmo sorriso radioso de antes
mantinha-se nas suas caras. Talvez eles soubessem algo que eu desconhecia.
Caminhei até ao sofá e sentei-me ao lado deles.
E observei.
Naquele momento, um tipo diferente de Natal começou para
mim. Dei por mim a sorrir pelo encanto que um dos meus irmãos ou uma das minhas
irmãs mostravam ao abrir um presente. Senti-me particularmente satisfeito
quando uma pequena prenda que eu tinha comprado para um deles era mais
apreciada do que efetivamente merecia. Senti orgulho quando um deles se
aproximou a pedir-me ajuda para montar um brinquedo ou um jogo.
Naquele ano, tal como o Grinch do Dr. Seuss, descobri que
o Natal nem sempre vem dentro de uma caixa. Naquele ano, o Natal chegou para
mim através dos olhos brilhantes e dos sorrisos felizes dos meus irmãos e irmãs
mais novos. A minha única pena era que eles não pudessem ver o que eu estava a
ver da minha posição no sofá.
Eles nem imaginavam o espetáculo que estavam a perder!
Terry Tippets
Jack Canfield &
Mark Victor Hansen
Chicken Soup for the Soul – Christmas Cheer
Chicken Soup for the Soul Publishing, LLC, 2008
(Tradução e adaptação)
Chicken Soup for the Soul – Christmas Cheer
Chicken Soup for the Soul Publishing, LLC, 2008
(Tradução e adaptação)
Como vocês sabem vou hoje fazer uma cirurgia ao "farol" direito. Se puder venho pôr aqui uma pequena mensagem de como correu, mas durante dois três dias não devo ficar aqui muito tempo pelo que não vos visitarei. As histórias de Natal continuarão a sair pois estão programadas.
Boa semana
9 comentários:
Que corra tudo bem com a cirurgia, quanto ao resto a gente espera!
Bom dia:- Que a cirurgia seja um sucesso. Tudo de bom para você.
.
Deixando cumprimentos poéticos
.
= Paixão e Amor = Vulcão, e Fresca Maresia =
Beleza de conto!
Sucesso na cirurgia e te cuida, não abusa!!rs... beijos, chica
Mais um belo conto.
Quanto à cirurgia, que tudo corra pelo melhor e, sobretudo, não se esforce a seguir a ela. Há que respeitar o curto período de convalescença que todas as cirurgias oftalmológicas impõem, Elvira.
Forte abraço
Antes de mais nada... que corra tudo muito bem e o "farol" em breve cumpra a sua missão :)))
Este conto de Natal é particularmente bonito.
Passarei por cá sempre que possível, ainda que não deixe rasto... como tantas vezes acontece.
Aproveito para desejar Boas Festas e Feliz Natal.
Votos de uma semana feliz
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Mais um belo conto minha amiga.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Mais um interessante post! Divino!
Que tudo corra como o deseja!
A vida passa por mim, deixa saudades. (Poetizando e Encantando)
Beijos e uma excelente semana
Gostei de refletir no conto. O sentido do verdadeiro Natal é lindo...
Torcendo pela sua cirurgia e recuperação...
Bjs
Boa noite Elvira,
A seleção de contos é lindíssima.
Obrigada por partilhar.
Beijinhos
Ailime
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