- 1. O COMBOIO DE NATAL
- 2. Há muitos, muitos anos, numa terra bem distante, um ferroviário, de nome Vassil, vivia com a filha, Malina, numa pequena estação. Competia a Vassil zelar pela segurança do caminho-de- ferro que atravessava as montanhas, já que súbitas quedas de rochas podiam bloquear a linha e causar acidentes. Na tarde da véspera do Dia de Natal, Vassil estava, como de costume, a trabalhar na estação. Em casa, Malina ocupava- se da decoração da árvore e não parava de pensar no presente que o pai lhe prometera: o que seria? Estava desejosa de o ver regressar e corria para a janela constantemente, a ver se o avistava.
- 3. De repente, ouviu um ruído semelhante a um trovão. A sua cadelinha, Bella, desatou a ladrar e a arranhar a porta com força. — Deve ter sido uma queda de rochas — exclamou Malina, horrorizada, correndo para fora de casa. Com efeito, a linha de caminho-de-ferro encontrava-se bloqueada por uma enorme quantidade de rochas.
- 4. Depois do estrondo, instalara-se na montanha um profundo silêncio. Malina sentiu-se assustada: — O comboio expresso vai chegar dentro de meia hora! E agora, o que faço? O que faria o meu pai? Já sei! Tenho de avisar o maquinista. Pensou durante algum tempo. Depois, correu para casa, acompanhada por Bella, aos saltos. Malina lembrou-se do que o pai lhe tinha dito vezes, vezes sem conta: — Se a linha estiver bloqueada, coloca-te 400 metros à frente do acidente e acende uma fogueira. Depois, acena sem parar com uma lanterna para avisar o maquinista e dar-lhe tempo para travar. A menina pegou na árvore de Natal e levou-a consigo. Nem deu pelas decorações que iam caindo pelo chão. Correu pela linha abaixo em direção ao túnel, arrastando a árvore. Faltavam apenas 15 minutos para a chegada do comboio! O túnel estava escuro e silencioso e
- 5. o brilho da neve ao fundo mal se via. Malina, porém, continuou a arrastar a árvore, sem largar a lanterna acesa. Em breve saiu do túnel e começou a atravessar a ponte; agora, o expresso far-se-ia ouvir a qualquer momento. Chegou, por fim, ao local que escolhera. Estava sem fôlego devido à corrida e as suas mãos tremeram quando pegou fogo à árvore. As chamas altas que se ergueram no céu nevado mais pareciam velas gigantes. Malina conseguia ouvir o comboio a aproximar-se cada vez mais. De repente, ei-lo a sair do túnel, envolto em grossas nuvens de fumo.
- 6. Foi então que o maquinista viu a fogueira e a lanterna. Puxou imediatamente pelo travão de emergência e desligou a locomotiva. Ouviu-se o som estridente do apito. O enorme comboio tremeu, estremeceu e, lentamente, acabou por se imobilizar. Lá dentro, andava tudo aos tropeções. Os passageiros tombaram dos assentos e as bagagens caíram no chão. O caos instalou-se no vagão-restaurante: empregados, pratos, bolos e peixe viram-se, de repente, atirados ao ar. Lá fora, rodeada pela neve, Malina permanecia imóvel, a segurar a lanterna acesa e a olhar para o enorme comboio arquejante. O maquinista e o revisor saltaram do comboio e foram ter com a menina. — Olha, é a Malina! — exclamou o maquinista. — Há uma enorme queda de rochas em frente do túnel grande e eu tinha de vos avisar — disse Malina.
- 7. Os dois homens entreolharam-se com admiração. Em breve, todos no comboio sabiam da queda de rochas e de como a menina os tinha salvado. Alguém disse: — A pobrezinha deve estar cheia de frio, ali no meio da neve. E logo Malina foi conduzida ao vagão-restaurante, que estava bem quentinho e cheio de rostos que a fitavam. Percebeu que as pessoas falavam entre si e, de repente, viu-se rodeada de presentes! À entrada da carruagem, o pai observava-a. Vassil segurava nas mãos um cordeirinho branco como neve, com manchinhas negras atrás das orelhas. “Que magnífico presente de Natal!” pensou Malina, correndo para o pai. — Anda, pai, vamos para casa — pediu. — A Bella deve estar a pensar no que nos terá acontecido.
- 8. O maquinista esperava-os lá fora com uma bela árvore de Natal, que tinha ido à floresta cortar para eles. Agora, Malina e o pai já podiam celebrar o Natal como queriam. Sabem porque conheço esta história? É que, há muitos anos, quando era criança, passei um Natal nessa mesma estação de comboio, com a minha tia Malina e o meu avô Vassil…
- Ivan Gantschev The Christmas Train Harmondsworth, Viking Kestrel, 1987 (Tradução e adaptação)
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12.12.18
O COMBOIO DE NATAL
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11 comentários:
Linda e doce história de Natal! Como estás? Te cuida! beijos, chica
Um belíssimo conto de Natal, Elvira!
Uma boa parte da minha infância foi passada na casa do Dafundo, na Marginal, à beira Tejo e à beira linha da CP. Os combóios ficaram para sempre ligados a mim... ou fui eu que fiquei para sempre ligada a eles :)
Forte abraço.
Mais uma belo conto de Natal.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Um encanto este conto, tal como os outros. :)) Adorei:))
Hoje : Insano discernimento ...
Bjos
Votos de uma óptima Quarta-Feira.
Boa tarde, Elvira!
Desejo que se encontre melhor. Obrigada pelo brilhante conto!!
Beijos e uma tarde excelente!
Obrigado Amiga por partilhar connosco estes Belos Contos de Natal, que eles continuem a encantar-nos e a inspirar-nos sempre!
Como sempre, beleza de postagem, Elvira. Um conto muito bonito!
Vou já desejando um Feliz Natal e Boas Festas, entrarei em recesso até Janeiro.
Muita saúde, principalmente. A você e todos da sua família e amigos.
Um abraço carinhoso.
Que lindo conto de Natal!!! Uma daquelas histórias de encantar. Gostei muito de ler.
Beijinhos e boas melhoras do olhito....
Gostei imenso de ler este lindo conto
Bjs
Kique
Hoje em Caminhos Percorridos - A vida não está fácil...
Boa noite Elvira,
Outro conto de Natal maravilhoso.
Estou a gostar imenso desta série de contos , pois não os conhecia.
Espero que esteja melhor da sua visão.
Beijinhos,
Ailime
Doce e ternurento conto de Natal.
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