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5.12.17

MARIA - PARTE XI

RE-EDIÇÃO



 Medo do futuro


Um silêncio pesado incomodativo instalou-se entre nós. Maria parecia perdida, sabe-se lá em que labirintos do seu passado. E eu não me atrevia a dizer nada. A história que acabava de ouvir, era difícil de escutar, quanto mais de viver. Levantei-me e preparei um café para as duas.
-Obrigada – disse pegando na chávena. Depois continuou. Levei nesta vida quase  dois anos. Entretanto continuava as consultas de psiquiatria, começava a fazer o desmame de alguns medicamentos e tinha perdido peso. Encontrava-me muito melhor, a minha roupa de antigamente já me servia, começava de novo a ganhar gosto pela vida. Um dia telefonei à “Nani” e perguntei-lhe quem tinha as chaves da casa da minha mãe. Era tempo de ir ao encontro do passado. Era uma gaveta, que continuava desarrumada na minha memória e precisava arrumá-la antes de dar novo rumo à minha vida. Ela disse-me que as chaves estavam com o tio Carlos e eu fui buscá-las.
Não sabe como sofri quando entrei lá em casa. Fui sozinha. Percorri cada canto com lágrimas nos olhos e um aperto no coração. Senti pena por “ela” e por mim. Tudo podia ter sido tão diferente. Depois tomei uma resolução. Vendi a casa e comprei um pequeno apartamento para mim. Queria recomeçar a minha vida, num lugar que não me trouxesse lembranças. Comprei poucos móveis, só o indispensável e comprei um computador. Há tempos que não mexia num, que não ia à internet. E era uma companhia. Como tinha algum dinheiro, resolvi procurar um novo emprego, qualquer coisa onde me sentisse mais realizada.
Comecei a passar horas no “PC” em chats de conversação fazendo amizades virtuais. Não sei se sabe mas a Internet é um mundo que nos vicia, tanto ou mais que qualquer droga. Mas é um mundo ilusório. Em breve tinha dezenas de amigos e alguns deles começaram a insistir para nos conhecermos. O desejo de sair da solidão em que me metera, após o último internamento, fez com que fosse  cedendo a vários encontros. Encontrei gente muito boa e verdadeiros trastes. Nada que a vida real não tenha. Mas quando olhamos o nosso interlocutor no olho, é mais difícil enganarem-nos. Encontrei “amigos”que só queriam favores sexuais, outros que só queriam vigarizar-me. Mas também encontrei bons amigos e amigas, dispostos a ajudar sem nada pedir em troca.
Um destes últimos, arranjou-me emprego numa imobiliária, outro conseguiu na oficina de um amigo, um carrinho em segunda mão em óptimo estado.
Agora estou bem. Tenho alguém que jura que me ama e quer casar comigo. O Américo tem quarenta e oito anos, é viúvo e não tem filhos. Parece ser um bom homem, é trabalhador, e não sabe mais o que fazer para me agradar, mas apesar de gostar da sua companhia, eu não sinto aquela emoção, aquele tremelicar de pernas que sentimos, quando a pessoa que amamos se aproxima. Por isso tirei uns dias de férias e vim em busca do meu passado. Para pôr a cabeça em ordem e deixar o coração vir à superfície.  A solidão pesa-me. Mas e se aceito casar e depois continuo “sozinha”? Se não consigo corresponder ao seu amor? Não me sinto capaz de suportar um casamento assim. Não depois de ter experimentado uma história de amor, como a que vivi com o Artur. E não pense que eu gostaria de voltar para o Artur. Actualmente somos amigos, ele já me perdoou, encontrou outra pessoa , refez a sua vida e é feliz. Aliás hoje quando o vejo, já não sinto nada, daquela emoção que me abrasava, quando casámos. O que acha que devo fazer?

Continua



12 comentários:

chica disse...

Dúvidas e confusões em sua cabeça que ela deve resolver ...Vamos esperar pelo melhor! bjs, chica

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Continuo a acompanhar esta interessante história.
Uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Larissa Santos disse...

Bom dia. Se ela já não sente nada, e se não for prejudicada, podem ficar amigos. Digo eu. ;)


{Hoje no nosso blogue:-Até que a vida nos separe.}

Bjos
Óptima Terça-feira

Tintinaine disse...

Ufa! Parece que a tempestade já passou.
Pode ser que a nossa heroína acabe por encontrar um porto seguro, após ter navegado num mar tão agitado.
Com a ajuda da amiga Elvira, claro.

Os olhares da Gracinha! disse...

Quando a solidão pesa ... tudo vira desconforto!!!bj

António Querido disse...

Navegar, navegar, até encontrar o porto iluminado de amor e ternura!

Uma ótima semana.

noname disse...

Depois da tempestade vem a bonança, quem sabe, a dela, não está a chegar.

Bom dia Elvira

Diana Fonseca disse...

Um grande dilema.

Joaquim Rosario disse...

Boas
um bom conselho é sempre uma grande ajuda , sendo dado por uma pessoa que o saiba dar . acho que isso vai acontecer até porque ela merece uma vida melhor apesar de todas as adversidades que a vida lhe proporcionou .
JAFR

Edum@nes disse...

Depois do temporal. Está de volta a acalmia. Todo o tempo perdido jamais o recuperará Maria. Depois de tanto ter sofrido. Seja feliz o resto da sua vida.
Tenha uma boa tarde amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Cantinho da Gaiata disse...

Que cabeça tão cheia de recalcamentos.
Precisa mesmo de um espaço calmo e sereno para colocar as ideias em ordem.
Bjs

Rosemildo Sales Furtado disse...

Colher o fruto que plantou.

Abraços,

Furtado