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2.12.17

MARIA - PARTE VI

RE-EDIÇÃO



A reviravolta

Cedo, Maria percebeu que o marido, não era o homem que ela imaginara, antes do casamento. Depois de uma semana, de lua-de-mel em Braga, regressaram para um quarto, na casa dos sogros. Tudo bem que eles se esforçaram e durante essa semana transformaram, o quarto de solteiro do filho, num bonito e confortável quarto de casal. Mas não era a sua casa. Paulo tinha-lhe prometido, que assim que chegassem, ia começar a procurar casa para eles, mas agora parecia não estar ,muito interessado nisso.
-Quando o bebé nascer, juro que trato de alugar casa. Agora é melhor ficarmos aqui, a minha mãe está atenta a qualquer coisa e eu vou trabalhar mais descansado – dizia ele quando Maria o pressionava.
Ela calava-se  mas não era feliz. A sogra era simpática, mas sempre dava um jeito, de lhe fazer ver que a casa era dela.
Em Junho, na véspera de S. João, Maria sofreu um aborto espontâneo e perdeu o bebé.
Foi um grande desgosto. Que se tornou numa dor sem tamanho quando a mãe a visitou e lhe disse:
-Foi melhor agora que mais tarde. Tinha-te avisado. Não vais poder ter filhos. E por teimosia, estragaste o teu futuro.
Nesse momento, Maria sentiu um ódio intenso pela mãe. E não se conteve.
- Pois eu juro-te que vou ter os filhos, que quiser. Porque é que tu foste mãe, e eu não posso ser? Quem julgas tu, que és? Um ser superior? Odeio-te. Põe-te na rua, e esquece que me conheces. Nunca mais te quero ver.
Elisa saiu acabrunhada. Ela era assim, parecia uma mulher seca, nunca a ensinaram a ser de outro jeito. Talvez se o marido tivesse vivido, mais uns anos, quem sabe até mais uns meses, ela seria hoje uma mulher diferente. Mas Alberto, inicialmente só se preocupou, com o ser ar de aldeã. E depois a sua morte prematura, e a necessidade de sobreviver sem ele tornou-a ainda mais seca. Porém ela amava a filha e o que queria era vê-la feliz. Talvez os métodos estivessem errados, mas Elisa não se dava conta disso.
Longe da mãe, e depois do desgosto inicial, Maria decide retomar os estudos. Mas o marido não deixa. Isso, e o facto de continuar a viver com os sogros, que apoiavam o filho e achavam que lugar de mulher casada, era em casa, fez com que a jovem "abrisse os olhos" e começasse a pensar que se tinha visto livre da "tirania" da mãe para cair num lugar onde não tinha liberdade, nem intimidade. Sentia-se enjaulada. E o sonho que tinha alimentado, de um casamento feliz, foi desaparecendo aos poucos, até que o casamento não era mais do que uma enorme desilusão, à qual ela deu fim com o divórcio, logo que fez dezoito anos.
Sozinha, Maria resolveu dar um novo rumo à sua vida. Não queria ir para casa da mãe. Nem ficar a viver na zona, para não se encontrarem. Não lhe perdoava, o não ter tido uma palavra de consolo, quando ela perdeu o bebé.
Empregou-se em Lisboa, alugou um pequeno apartamento com mais duas jovens, voltou a estudar à noite e sentiu-se enfim uma mulher livre e feliz.
Um ano depois, essa felicidade já não era tanta assim. Maria tinha muitas saudades da mãe. Disse-me um dia, em que me procurou para saber dela, que sem a mãe se sentia incompleta. Como se lhe tivessem amputado, uma parte do corpo.
"Não sei explicar, que diabo de sentimento é este. Sinto raiva, amor, saudade. E sinto ódio. Por ela, pelo carinho que nunca lhe senti, e por mim, que nunca fui capaz, de lhe cobrar esse carinho, que sempre vi nela a mulher sem erros, e sempre me senti inferior"


Continua



16 comentários:

chica disse...

Pobre mulher e quantos sentimentos contraditórios carrega no peito! beijos, vamos te esperando! chica

A Nossa Travessa disse...

Querida Elvirinhamiga

Esta PARTE VI é dramática até mais não!!!

A Maria anda em bolandas - está de rastos. O ódio que "ganhou" à mãe é um sentimento que já vem de longe e é compreensível. Pode dizer-se que é como uma panela de pressão: de repente a válvula explode! :-(((((((

Até eu (que considero este meu ano o ano horribilis) quando leio a PARTE VI fico enraivecido. Querida Amiga vê lá se arranjas uma PARTE que não seja como esta...

Qjs do Henrique, o Leãozão

__________

O meu irmão está pior: já te metásteses no fígado e ontem fizem-lhe a primeira transfusão. A vida é mesmo fdp = filha da puta!!!!

esteban lob disse...

No es el primer caso de una ilusión que se pierde, cuando resulta que la persona amada no es lo imaginado. Como siempre, excelente trama.

Un beso.

noname disse...

Sentir, e não saber exteriorizar, é um tormento que vai para além da compreensão de quem julga. Maria pode sofrer com a quilo que ela acha ser falta de amor, mas Elisa também sofre.

Boa noite Elvira

Cantinho da Gaiata disse...

Estou gostando, elas ainda vão ser grandes amigas.
Bjs

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

Isabel Sá
Brilhos da Moda

Tintinaine disse...

Vou armar-me em psicanalista e dizer que aquilo que a Maria sente pela mãe é amor, mas nunca aprendeu a expressá-lo. Quando descobrir a maneira de o fazer ... estará curada.

Larissa Santos disse...

Bom dia. Lindo texto. Existem sentimentos assim. Vou continuar. Estou a gostar. :)

Hoje, um mini conto { Saudade, da nossa dança... }
Bjos
Um Sábado muito feliz.

Joaquim Rosario disse...

bom dia
realmente quando o amor e o ódio andam a par , não é fácil de digerir tamanha angustia , mas mais uma vez penso que uma boa conversa irá esclarecer as coisa entre mãe e filha .
JAFR

aluap disse...

Aplico aqui a expressão “Mãe é Mãe”.
Bom fim de semana.

Edum@nes disse...

Quizílias entre mãe e filha,
nunca deviam acontecer
verde nasce a ervilha
para depois de seca morrer!

A mãe à filha vida deu,
a filha devia agradecer
mas, por não perceber
ao contrário aconteceu!

Mãe há só uma,
o bem para os filhos quer
sendo, portanto, a única
não é objecto qualquer!

Tenha um bom fim de semana amiga Elvira, um abraço,
Eduardo.

Tais Luso de Carvalho disse...

Esse capítulo foi fundo! Tantos sentimentos que se cruzam. Morar com os sogros é um tiro no pé! Acaba a vida do casal em dois toques. Talvez não acabasse se tivessem sua casa.
Quanto à mãe, foi pouco hábil, tem coisas que vemos que até podem estar certas, mas será que convém dizer? Era a hora de dar força, de abraçar, de acarinhar.
E por outro lado o marido fez uma cena de ciúmes que foi infeliz.
Muito bom, Elvira, isso é a vida real, cheio de tramas...
Beijo, bom domingo.

Odete Ferreira disse...

Num tempinho, cá vim colocar a leitura em dia. Mais uma história que promete, um tempo que nunca é de mais lembrar.
Bjinho, Elvira

" R y k @ r d o " disse...

Lendo e acompanhando a história.
.
( https://pensamentosedevaneiosdoaguialivre.blogspot.pt/ )
.
Abraço

Os olhares da Gracinha! disse...

Nem sempre é fácil a relação entre mãe e filhos ... bj

Rosemildo Sales Furtado disse...

Espero que cada uma ceda um pouco, e ambas cheguem a um consenso, externem esse amor que têm guardado. Aguardemos!

Abraços,

Furtado