-E tu? Não vais fazer o mesmo?
- De modo algum. Não casei com o teu pai pelo seu
dinheiro. Casei porque o amava, e amo-o hoje muito mais do que nessa altura
apesar de reconhecer os seus defeitos. Não me assusta ter de trabalhar. Mas
tenho a certeza de que o teu pai virá apelar para os teus sentimentos filiais, e não queria que te
apanhasse desprevenida. E também queria saber se vocês se conheciam, entender
porque quer ele casar contigo.
-É realmente muito estranha essa exigência a não ser que
queira estender até mim o ódio que tem do meu pai.
-E que vais fazer?
- Esperar que o pai me procure e me conte o que acontece.
Pode ser que descubra a razão que empurra esse homem, para essa ação. Se bem que muitas
vezes não há razão nenhuma especial para esses tubarões quererem abocanhar e
destruir quem os impede de aumentar mais uns quantos euros nas suas contas
bancárias.
- Bom, querida, tenho que ir. Ainda tenho que fazer umas
compras para o almoço. Quando puderes aparece por lá. O Miguel está sempre a
perguntar por ti.
- Também tenho muitas saudades dele. Mas tenho tido muito
trabalho. Tenho dias que chego a casa exausta.
- Cuida de ti, querida. Até à vista.
- Adeus Cidália. Dá um beijo por mim ao Miguel.
Quando a porta se fechou atrás da madrasta, deixou-se
cair na cadeira. Era uma jovem alta, delgada, de rosto moreno, cabelos negros e
grandes olhos verdes. Perdera a mãe,
quando criança e fora criada, um tanto por conta própria até aos quinze anos,
altura em que o pai voltara a casar.
Cidália era muito
jovem quando casou com o seu pai. Com apenas vinte e cinco anos, dir-se-ia que
não seria capaz de aceitar e cuidar de uma adolescente rebelde. Mas não foi
assim. Ela impôs-se usando da autoridade necessária, mas sem descurar o carinho
de que a jovem estava tão carente. E em poucos meses tinha-a conquistado por
completo. O próprio pai se admirou. E foi na madrasta que Paula buscou apoio
para resistir ao desejo do pai de que ao entrar na Universidade, cursasse
medicina, quando não tinha nenhuma vocação para isso. Depois que terminou a
licenciatura, formou a sua própria empresa, e apesar do rápido sucesso
alcançado, o pai sempre considerou o seu trabalho como algo menor. Incapaz de viver em constante conflito com o
progenitor, deixou a casa paterna e foi viver sozinha. Todavia, tinha uma maior relação de afinidade com
a madrasta com quem se encontrava e saía sempre que tinha oportunidade. Aliás
muito maior do que com o próprio pai. E adorava Miguel, o seu irmão de sete
anos. Abanando a cabeça, como para afastar as recordações que a tinham
assaltado, abriu o portátil e escreveu o nome de António Ferreira no motor de
busca.
Não vejo melhoras e estou a ficar um tanto apreensiva e desejosa de que chegue o dia 26 para fazer novos exames e ver o que diz o professor.
Não vejo melhoras e estou a ficar um tanto apreensiva e desejosa de que chegue o dia 26 para fazer novos exames e ver o que diz o professor.