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25.3.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE VIII




-Não. Ele nem sabe que vim. Mas prepara-te que hoje ou amanhã o tens aí, a  tentar convencer-te.
-E tu? Não vais fazer o mesmo?
- De modo algum. Não casei com o teu pai pelo seu dinheiro. Casei porque o amava, e amo-o hoje muito mais do que nessa altura apesar de reconhecer os seus defeitos. Não me assusta ter de trabalhar. Mas tenho a certeza de que o teu pai virá apelar para os teus sentimentos filiais, e não queria que te apanhasse desprevenida. E também queria saber se vocês se conheciam, entender porque quer ele casar contigo.
-É realmente muito estranha essa exigência a não ser que queira estender até mim o ódio que tem do meu pai.
-E que vais fazer?
- Esperar que o pai me procure e me conte o que acontece. Pode ser que descubra a razão que empurra esse homem, para essa ação. Se bem que muitas vezes não há razão nenhuma especial para esses tubarões quererem abocanhar e destruir quem os impede de aumentar mais uns quantos euros nas suas contas bancárias.
- Bom, querida, tenho que ir. Ainda tenho que fazer umas compras para o almoço. Quando puderes aparece por lá. O Miguel está sempre a perguntar por ti.
- Também tenho muitas saudades dele. Mas tenho tido muito trabalho. Tenho dias que chego a casa exausta.
- Cuida de ti, querida. Até à vista.
- Adeus Cidália. Dá um beijo por mim ao Miguel.
Quando a porta se fechou atrás da madrasta, deixou-se cair na cadeira. Era uma jovem alta, delgada, de rosto moreno, cabelos negros e grandes olhos verdes.  Perdera a mãe, quando criança e fora criada, um tanto por conta própria até aos quinze anos, altura em que o pai voltara a casar.
 Cidália era muito jovem quando casou com o seu pai. Com apenas vinte e cinco anos, dir-se-ia que não seria capaz de aceitar e cuidar de uma adolescente rebelde. Mas não foi assim. Ela impôs-se usando da autoridade necessária, mas sem descurar o carinho de que a jovem estava tão carente. E em poucos meses tinha-a conquistado por completo. O próprio pai se admirou. E foi na madrasta que Paula buscou apoio para resistir ao desejo do pai de que ao entrar na Universidade, cursasse medicina, quando não tinha nenhuma vocação para isso. Depois que terminou a licenciatura, formou a sua própria empresa, e apesar do rápido sucesso alcançado, o pai sempre considerou o seu trabalho como algo menor.  Incapaz de viver em constante conflito com o progenitor, deixou a casa paterna e foi viver sozinha.  Todavia,  tinha uma maior relação de afinidade com a madrasta com quem se encontrava e saía sempre que tinha oportunidade. Aliás muito maior do que com o próprio pai. E adorava Miguel, o seu irmão de sete anos. Abanando a cabeça, como para afastar as recordações que a tinham assaltado, abriu o portátil e escreveu o nome de António Ferreira no motor de busca.


Não vejo melhoras e estou a ficar um tanto apreensiva e desejosa de que chegue o dia 26 para fazer novos exames e ver o que diz o professor.

31.3.18

2.12.17

MARIA - PARTE VI

RE-EDIÇÃO



A reviravolta

Cedo, Maria percebeu que o marido, não era o homem que ela imaginara, antes do casamento. Depois de uma semana, de lua-de-mel em Braga, regressaram para um quarto, na casa dos sogros. Tudo bem que eles se esforçaram e durante essa semana transformaram, o quarto de solteiro do filho, num bonito e confortável quarto de casal. Mas não era a sua casa. Paulo tinha-lhe prometido, que assim que chegassem, ia começar a procurar casa para eles, mas agora parecia não estar ,muito interessado nisso.
-Quando o bebé nascer, juro que trato de alugar casa. Agora é melhor ficarmos aqui, a minha mãe está atenta a qualquer coisa e eu vou trabalhar mais descansado – dizia ele quando Maria o pressionava.
Ela calava-se  mas não era feliz. A sogra era simpática, mas sempre dava um jeito, de lhe fazer ver que a casa era dela.
Em Junho, na véspera de S. João, Maria sofreu um aborto espontâneo e perdeu o bebé.
Foi um grande desgosto. Que se tornou numa dor sem tamanho quando a mãe a visitou e lhe disse:
-Foi melhor agora que mais tarde. Tinha-te avisado. Não vais poder ter filhos. E por teimosia, estragaste o teu futuro.
Nesse momento, Maria sentiu um ódio intenso pela mãe. E não se conteve.
- Pois eu juro-te que vou ter os filhos, que quiser. Porque é que tu foste mãe, e eu não posso ser? Quem julgas tu, que és? Um ser superior? Odeio-te. Põe-te na rua, e esquece que me conheces. Nunca mais te quero ver.
Elisa saiu acabrunhada. Ela era assim, parecia uma mulher seca, nunca a ensinaram a ser de outro jeito. Talvez se o marido tivesse vivido, mais uns anos, quem sabe até mais uns meses, ela seria hoje uma mulher diferente. Mas Alberto, inicialmente só se preocupou, com o ser ar de aldeã. E depois a sua morte prematura, e a necessidade de sobreviver sem ele tornou-a ainda mais seca. Porém ela amava a filha e o que queria era vê-la feliz. Talvez os métodos estivessem errados, mas Elisa não se dava conta disso.
Longe da mãe, e depois do desgosto inicial, Maria decide retomar os estudos. Mas o marido não deixa. Isso, e o facto de continuar a viver com os sogros, que apoiavam o filho e achavam que lugar de mulher casada, era em casa, fez com que a jovem "abrisse os olhos" e começasse a pensar que se tinha visto livre da "tirania" da mãe para cair num lugar onde não tinha liberdade, nem intimidade. Sentia-se enjaulada. E o sonho que tinha alimentado, de um casamento feliz, foi desaparecendo aos poucos, até que o casamento não era mais do que uma enorme desilusão, à qual ela deu fim com o divórcio, logo que fez dezoito anos.
Sozinha, Maria resolveu dar um novo rumo à sua vida. Não queria ir para casa da mãe. Nem ficar a viver na zona, para não se encontrarem. Não lhe perdoava, o não ter tido uma palavra de consolo, quando ela perdeu o bebé.
Empregou-se em Lisboa, alugou um pequeno apartamento com mais duas jovens, voltou a estudar à noite e sentiu-se enfim uma mulher livre e feliz.
Um ano depois, essa felicidade já não era tanta assim. Maria tinha muitas saudades da mãe. Disse-me um dia, em que me procurou para saber dela, que sem a mãe se sentia incompleta. Como se lhe tivessem amputado, uma parte do corpo.
"Não sei explicar, que diabo de sentimento é este. Sinto raiva, amor, saudade. E sinto ódio. Por ela, pelo carinho que nunca lhe senti, e por mim, que nunca fui capaz, de lhe cobrar esse carinho, que sempre vi nela a mulher sem erros, e sempre me senti inferior"


Continua



18.3.14

MARIA - V - O CASAMENTO DE MARIA




O casamento de Maria


Foi neste ambiente de dor e raiva que Maria veio ao mundo.
Quando lhe pegou ao colo pela primeira vez, Elisa jurou que a sua filha não ia ser um joguete do destino como ela fora. A sua menina ia estudar, ter uma carreira, ser independente. Foi o seu primeiro erro. Ela não se dava conta que a estava a traçar para a filha, a vida que ela quisera ter.
Ao fim e ao cabo com uma meta diferente, mas estava a cometer o mesmo erro que tinham cometido com ela.
Com o dinheiro que o marido lhe deixara, alugou uma casa, montou um ateliê e começou a costurar para várias lojas. O trabalho cresceu, as suas criações fizeram sucesso e em breve tinha duas ajudantes no ateliê, e contratava uma ama para a filha já que lhe faltava o tempo e a disposição para ela. Foi o segundo erro. A filha ia sentir esse afastamento como uma rejeição.
Maria era a criança mais bem vestida do bairro. A mãe sempre estava fazendo belos vestidos para a filha que mais parecia uma boneca, que menina rica se entretivesse a mudar de roupa a todas as horas. Pouco depois de completar 4 anos ficou doente.
Vários médicos e muitos exames depois foi detectado uma doença óssea. Elisa foi aconselhada a levar a filha para Londres onde havia um médico especializado nessa doença. Ela contactou um dos irmãos que emigrara para lá cinco anos antes e contou o que acontecia com a filha. Recebeu como resposta, as passagens de avião e algumas libras, bem como a afirmação de que as esperava no aeroporto.
Partiram as duas e um mês depois Elisa regressou sozinha. Não podia estar tanto tempo longe do ateliê, e o irmão ficava com Maria até que ela estivesse curada.
Mais uma vez Maria sentiu que não era muito importante para a mãe.
Um ano depois Elisa voltou a Londres para buscar a filha. Segundo os médicos uma cirurgia resolveu o problema da malformação óssea das mãos, e dos pés, e com a medicação esperavam que não surgissem novos problemas com o crescimento. Porém Maria nunca poderia vir a ser mãe, porque a sua bacia não aguentaria as transformações de uma gestação.
Custa a crer à luz da medicina atual, que um médico dissesse "nunca". Porém Elisa sempre repetiu isto ao longo dos anos, tantas e tantas vezes, que a filha foi crescendo revoltada consigo mesmo por se achar inferior. Lembro-me perfeitamente da primeira vez que comentamos esta história. Ela disse-me. "Eu vou ser mãe. Ela vai ver que eu sou capaz" Raras vezes Maria se referia à mãe como tal. Quase sempre dizia "ela".
Elisa era muito exigente com a filha. Ela sonhava a filha como um modelo de perfeição, e definitivamente ela era uma criança normal, uma adolescente igual a tantas outras.
E assim Maria foi crescendo com uma relação muito difícil com a mãe. Sentia-se incapaz de ser como a mãe desejava e isso amargurava-a. Para se "vingar"estava sempre a contrariar a mãe. Se esta lhe dizia para vestir umas calças, ela vestia saia, se lhe dizia para vir direta da escola para casa, ela ia para casa de uma amiga.
Maria era meiga com a sua ama. Também comigo. Até mesmo com a professora. Mas não com a sua mãe. Era uma relação estranha, como se estivessem sempre medindo forças entre si.
Porém quando a mãe chorava, Maria refugiava-se no seu quarto e chorava também. Era uma estranha relação de amor-ódio que durou muito para além da infância e adolescência. Eu diria até que durou toda a vida.
Quando fez 17 anos começou a namorar, e aí "caiu o Carmo e a Trindade" como soe dizer-se. A mãe não consentia o namoro. E ameaçou manda-la estudar para Londres, telefonou ao irmão para sondar a hipótese de ele receber lá a sobrinha. Resultado? Maria ficou grávida e decidiu que ia casar. A mãe repetiu o que sempre disse sobre uma possível gravidez. E disse mais. Que não ia haver casamento nenhum, que ela ia fazer um aborto, que era uma menina que tinha que estudar, ir para a universidade etc...etc. ...
A jovem não se convenceu. Disse que se a mãe não autorizasse o casamento fugia de casa e nunca mais ia saber dela. E mais, ameaçou a mãe de ir à polícia denunciá-la por querer obrigá-la a fazer um aborto.
Casou-se num Sábado à tarde. Era o mês de Maio de 1975.


Continua

(direitos reservados)


Bom amigos a boa notícia é que há quatro dias não tenho nenhuma crise de falta de ar, a sinusite, otite e conjuntivite já se foram e a tosse está quase. Ou seja. Com a graça de Deus e muitos medicamentos estou quase totalmente recuperada. 
Um curiosidade.
A foto acima, é a minha no dia do meu casamento religioso em Nampula no ano de 1971. Estava já casada há mais de 3 anos pela lei dos homens. Atenção que só usei a foto porque achei que se enquadrava no tema. A história é ficção nada tem a ver comigo que tenho um casamento de 46 anos graças a Deus muito feliz.