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18.4.16

MANEL DA LENHA - PARTE LIV

Antiga estação fluvial do Barreiro, obra do arquitecto Conttinelli Telmo, inaugurada a 28 de Maio de 1932, poderia ser transformada num museu, dado o seu interesse cultural e histórico, mas apesar de estar classificada como Monumento de Interesse Público degrada-se dia a dia, sem que alguém de direito tome uma resolução que evite a sua ruína total.



No início de Janeiro, o genro do Manuel parte para Moçambique, com a promessa de que logo que possível a mulher irá juntar-se-lhe.
Poucos dias depois, Marcelo faz nova remodelação no governo, e entre os novos ministros está Baltazar Rebelo de Sousa, o pai daquele que será muitos anos mais tarde o Presidente da República de Portugal.
Na seca, o trabalho não teve nenhuma alteração, tudo continua na mesma, mas o Manuel com uma filha casada, os outros dois a trabalhar, e com salário da mulher todo o ano tem agora uma vida um pouco mais desafogada, pode enfim comprar alguns electrodomésticos essenciais,  como o frigorífico e  a máquina de lavar roupa, que vêm fazer companhia ao fogão a gás e ao esquentador, comprados logo quando a filha alugou a nova casa, e que lhes tem proporcionado uns belos banhos de banheira, bem diferentes dos banhos na celha, em que era preciso ferver um panelão de água.
Marcelo Caetano, acaba com o Estado Novo e institui o Estado Social, mas a prova de que tudo continua na mesma, são as prisões de Salgado Zenha, quando se preparava para debater na Faculdade de Direito de Lisboa, o Estado Colonial e Jaime Gama também preso na mesma data.
Por essa altura, já a filha mais velha andava a tratar da viagem para Moçambique. Eram precisas autorizações do ministério, papéis e mais papéis, e vacinas.
A Gravelina não se conforma, chora todos os dias. Ele também está preocupado, mas tenta animar a mulher. Inicialmente o genro ficará no Comando Naval em Lourenço Marques, e ele acredita que por muita guerra que por lá ande, na cidade a filha não correrá perigo.
No final de Abril, a safra está a terminar, e a filha já tem o bilhete de avião e a ordem de embarque. Com ela levará apenas uma pequena mala de roupa pessoal, o enxoval segue numa mala de porão por barco.
Parte dias depois. O Manuel vai com a família despedir-se da filha cujo avião parte à meia-noite. Dez minutos depois o tempo instável, transforma-se num violento temporal, de tal modo, que o último barco para o Barreiro, que o Manuel e a família deveriam apanhar, foi cancelado e tiveram que ficar na estação do Terreiro do Paço até ao primeiro barco da manhã, para regressarem.

12 comentários:

Isa Sá disse...

a passar por cá para acompanhar a história e desejar um bom fim de semana!

Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Estou completamente de acordo aquela estação fluvial do Barreiro dava um belo museu ou um centro cultural, mas infelizmente se não deitarem a mão ao edifício penso que vai ter um fim triste apesar de ser de um grande arquitecto.
Um abraço e boa semana.

Catarina disse...

Gostei muito :)


R: Pelo menos durante esta semana não vou ter tempo para escrever , tenho andado muito ocupada...

Blog da Gigi disse...

Linda semana!!!!!!!!!! Beijos

São disse...

A Estação, de que desconhecia a autoria, deveria ser aproveitada como vi em Maiorca-


Boa semana e abraços

Edum@nes disse...

Marcelo Caetano, pôs fim ao Estado Novo, na teoria porque na prática as instituições continuavam a funcionar na mesma engrenagem. Também se compreende que o homem não podia mudar tudo de um momento para o outro. O mais difícil seria resolver o problema das Províncias Ultramarinas. Teria de decidir entre continuarem sob administração portuguesa ou a independência. No caso de optar pela primeira hipótese e guerra continuaria, sem fim à vista! Porque só a independência punho fim ao envio de tropas para a morte!
Todavia, da forma tardia e tão apressada como foi dada a independência, também não mereceu aplausos! Foi assim à maneira safe-se quem puder!

Desejo-lhe um bom dia, amiga Elvira, um abraço.
Eduardo

chica disse...

Angustiantes momentos de espera e ainda esse temporal que chega...Vamos acompanhar! bjs, linda semana,chica

Gaja Maria disse...

Uma boa semana Elvira :)

Silenciosamente ouvindo... disse...

Sigo atentamente mais esta sua interessante história.
Subscrevo as suas palavras sobre a estação da CP do Barreiro.
Durante muitos e muitos anos passava por lá todos os dias e
realmente dói ver a sua imensa degradação.
Também estive para ir para Moçambique, ter com aquele que
hoje é meu marido, mas os meus pais opuseram-se e naquele
tempo a palavra deles contava muito e acabei por não ir.
Desejo que se encontre bem.
Bjs.
Irene Alves

Marina Filgueira disse...

Hola Elvira, entonces la vida era dura tanto para Manuel y su familia como para otras mucha, historias reales como para hacer una interesante película, o un buen libro, como tu recopilando vivencias, lo harás o ya lo tendrás ya hecho.

Es muy bonita la estación, es una pena que no este mejor cuidada, como bien dices.
Ha sido un placer.
Te dejo un abrazo, mi estima y gratitud.
Feliz semana.

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Apesar de tudo que enfrentaram juntos, eram unidos. E agora se sentiam tristes pela partida da filha.
Abraços e uma boa semana!
Mariangela

Unknown disse...

Bem poderia ser um museu ou centro cultural. Amei o capítulo*
Beijo*