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13.2.16

MANEL DA LENHA - PARTE VII


Pinhal na Seca.

Os filhos se os havia, ficavam com a mãe, se eram muito pequenos, se eram crescidos ficam separados com o progenitor do seu sexo. As "maltas" não tinham casa de banho propriamente dita. Mas os edifícios, embora distantes um do outro, estavam situados pertinho do rio e aí havia umas espécies de “guaritas” com um buraco que dava para o rio e onde o pessoal aliviava as suas necessidades fisiológicas. Aliás havia várias dessas “guaritas” estrategicamente espalhadas pela muralha que circundava o rio, para alívio do pessoal durante as horas de trabalho. Nessa época, não haviam preocupações ecológicas, ou pelo menos na Seca, ninguém se preocupava com a poluição do rio.
Marido e mulher podiam comer juntos, em qualquer um dos edifícios, mas à noite, quando o vigia, fazia soar as onze badaladas no sino da Seca, cada qual teria que estar na “malta” que lhe correspondia, sob pena de dormir ao relento. Por causa disso, os casais não podiam ter a sua intimidade normal de casados. E então levavam seis meses de abstinência? Não.
Na Seca havia um pequeno pinhal, e um extenso canavial que se estendia até à Telha. Eram esses dois sítios que os casais utilizavam como ninho de amor.
Tinham até um nome de código. Quando se ouvia alguém dizer que ia "aviar a caderneta" ou que tinha "aviado a caderneta" toda a gente sabia o que era.
 Em finais de Setembro, ou na primeira semana de Outubro, chegavam os navios, carregados de bacalhau, pescado na Terra Nova e na Gronelândia, e a Azinheira ganhava vida. Em finais de Março, quando a safra acabava, todos os trabalhadores ficavam sem trabalho, e cada um regressava à sua terra, à sua casa, e na Seca ficavam meia dúzia de pessoas, que ajudavam o gerente na manutenção, bem como os caseiros, que trabalhavam as duas quintas, e os militares da guarda-fiscal, que preenchiam a guarnição do posto que lá havia. Manuel também regressava à aldeia, voltava para o campo, na quinta do antigo patrão e ficava a contar os dias até Setembro, para voltar.
Enquanto Manuel, entrava nesta vida rotineira, Piedade recebia na terra uma carta da filha anunciando-lhe que ia ser avó, e também que o marido arranjara trabalho no Alfeite, e por isso iam viver para a Cova da Piedade.
João era agora electricista, e ficava na Seca a tempo inteiro pois era necessário manter os geradores e câmaras de refrigeração, em perfeitas condições para quando os navios regressassem. A Seca, tinha uma casa das máquinas, onde havia uns potentes motores que geravam a electricidade necessária para se auto abastecer.
Nesse ano, Manuel que tinha ficado apurado, quando fora às "sortes", é chamado para a tropa. Faz a recruta em Viseu, e vem para Campolide, para o Batalhão de Caçadores 5, em Agosto de 1939, com a Europa em convulsão, a poucos dias da invasão da Polónia, pela Alemanha de Hitler, que ditaria oficialmente o início da Segunda Guerra Mundial.


19 comentários:

Edum@nes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Edum@nes disse...

É caso para dizer. Grande seca!
com os casais separados
sem poderem juntos dormir uma soneca
para fazerem o que estavam autorizados
tinham que o fazer no canavial
até parece mentira, mas é verdade
assim os pobres viviam em Portugal
nesse tempo sem liberdade!

Tenha um bom de sexta-feira, amiga Elvira, um abraço.
Eduardo

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Tempos difíceis, gostei dos nomes de código para as satisfações do corpo.
Um abraço e bom fim de semana.

chica disse...

Barra pesada pela frente...Linda narração! bjs, chica

Janita disse...

Ao ler estes capítulos, acabo de reconhecer que já conhecia esta história de vida, Elvira.
Provavelmente, comecei a vir ao seu blog na altura em que deu início à sua narrativa e, por qualquer motivo, a interrompeu.
O início é que não devo ter lido.
Seja como for, continuarei a vir cá ler e relembrar.
Um abraço

Janita

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Que época difícil. Coitado do Manuel, vamos ver o que lhe espera!
Bom final de semana Elvira!
Abração!
Mariangela

Socorro Melo disse...

Olá, Elvira!

Estou acompanhando a história com muito gosto. Muito bom conhecer as peculiaridades e culturas de uma época diferente da nossa. Tempos difíceis,mas, pessoas tão corajosas e tão cheias de esperança. Verdadeiros heróis.

Você, com simplicidade e competência nos leva junto nessa viagem. Há momentos em que parece que vivi essa realidade, dada a riqueza de detalhes. Bravo!

Socorro Melo

Fernando Santos (Chana) disse...

Bela continuação de bela história...Espectacular....
Cumprimentos

Tintinaine disse...

Segue rapidinha a história do Manel. Vou espreitando, à espera da parte que não conheço.
Bom fim de semana!

LopesCaBlog disse...

heheh vidas antigas :)


Blog LopesCa/Facebook 

Isa Sá disse...

Acompanhando a história. bom fim de semana!

Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

Duarte disse...

Fui lendo, muito conteúdo para quem só aterra por aqui de pouco em pouco.
Gosto, claro que gosto, mas a frequência com que escreves, sempre tão activa, não me permite estar ao dia na leitura. Sabes, por outras leituras, que bem conheces.
Tu, fiel ao teu estilo, que nos encanta nas Aulas. Já sabes que estamos com a obra do Sérgio e já temos a "Paula" para o passo seguinte.
Tudo isto me aproxima aum passado que presenciei, mas que agrada.
Um grande abraço, querida amiga

Unknown disse...

Segue muito interessante a sua narrativa sobre o Manel. Elvira. Aprendo muito. Estou com saudades suas.

Beijo*

aluap disse...

Gostei voltar a 'ouvir' essa expressão "aviar a caderneta".

Beijinhos.

Elisa disse...

Já há uns dias que não acompanhava a história e já estava a sentir falta. Aqui estou ...acompanhando !
Beijinhos
elisaumarapariganormal.blogspot.pt

Zilani Célia disse...

OI ELVIRA!
CONSEGUI POR EM DIA A LEITURA E TE DIGO QUE ESTOU ADORANDO.
ABRÇS

http://. zilanicelia.blogspotcom.br/

Dorli Ramos disse...

Oi Elvira,
Adorei esse capítulo principalmente na hora do amor, por cá entram ainda nos canaviais.kkk
Não pergunte nada.
Beijos
Minicontista2

Gaja Maria disse...

Os pinhais sempre foram amigos do amantes, pelo menos antigamente, agora já não é nada assim :)

Rosemildo Sales Furtado disse...

Ai a coisa começa a complicar, e necessário se faz contar com a sorte.

Abraços,

Furtado.