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5.12.15

AMANHECER TARDIO - PARTE VI



Foto do google

Isabel sentiu que o chão lhe fugia debaixo dos pés, e de repente tudo à sua volta desapareceu e ter-se-ia estatelado não fora a pronta assistência de um dos médicos.
Acordou estendida na marquesa, com a médica debruçada sobre si.
-A cirurgia terminou? – Perguntou entre soluços.
- Deve estar a terminar - respondeu a médica estendendo-lhe um comprimido e um copo de água.
- Vai ter que ser corajosa. As primeiras 72 horas serão determinantes, - disse o médico que a recebera. O seu marido é jovem, mas não lhe podemos esconder que o estado dele é realmente muito grave.
- Hoje não poderá vê-lo. Deve ir para casa descansar mas não deve ir sozinha. Está muito nervosa. Podemos avisar alguém? – Perguntou a médica. Ela não se recordava de ter dado o número do telefone dos pais, mas decerto o tinha feito já que pouco depois o pai estava junto dela.
Também não se recordava de ter ido para casa. Decerto o calmante era bastante forte.
O tempo estava a aquecer a praia a encher-se de gente e Isabel continuava vestida. Começava a sentir calor e a desejar chegar rápido junto da toalha para se despir. Passou a mão pela testa, como se quisesse com esse gesto afastar as lembranças que se tinham instalado na memória.
Porém elas continuavam lá como se tivessem sido gravadas a fogo.
No espaço de três dias toda a sua vida desabou. Isabel tinha completado há pouco 19 anos, era uma mulher feliz, cujos sonhos eram sempre a dois. De repente um acidente estúpido acabou com a vida de Fernando e quase acabou com a sua. Reviveu o momento em que acompanhada pelo pai foi ao hospital na esperança de uma boa notícia e foi informada de que o marido não tinha sobrevivido e se encontrava em fase de morte cerebral. Lembrava-se vagamente do médico explicando-lhes que a pancada na cabeça fora muito forte, o cérebro sofrera um grande inchaço e a pressão exercida pelo capacete dera origem a hemorragia cerebral. Foi-lhe pedida autorização para o desligar das máquinas que o mantinham artificialmente vivo. Ela não se recordava bem do que se seguira. Foi o seu pai que tratou de todos os trâmites para o funeral. Fernando já não tinha pais apenas os tios de Albufeira que foi preciso avisar.  Isabel esteve sempre acompanhada pelos pais e sob o efeito de fortes calmantes. Talvez por isso, ela não se recordava do derradeiro momento, aquele em que se despediu do marido no cemitério.



13 comentários:

Zé Povinho disse...

A vida nem sempre é clemente com os humanos, e resitir é sempre difícil, por muito fortes que sejamos.
Abraço do Zé

Odete Ferreira disse...

Amiga: há dias em que não tenho tempo para ler episódio a episódio mas também me sabe a pouco se assim fizer. Prefiro ler logo alguns. Estou a gostar muito do conto e com muita curiosidade sobre a trama.
Bjo, Elvira :)

Isa Sá disse...

Por aqui vou acompanhando a história. Bom fim de semana.

Isabel Sá
http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

A vida é mesmo assim de um momento para o outro tudo se altera à nossa volta.
Estou a gostar da história.
Um abraço e bom fim de semana.

Anete disse...

Elvira, boa continuação da história de Isabel.
Experência trágica que requer paciência e tempo. Superações, traumas pedem o "passo a passo"/processo para que a vida ganhe um novo rumo.
Um bom sábado. Bj

Vera Lúcia disse...



Que triste! Uma dura experiência para uma pessoa tão jovem e cheia de sonhos. A vida é mesmo uma caixinha de surpresas e nunca sabemos quando ela vai virar de cabeça para baixo, deixando-nos sem teto.
Izabel há de superar e reconstruir sua vida. Tomara!

Ótima e envolvente narrativa. Estou gostando muito de acompanhar.

Beijo.

Edum@nes disse...

Só acontece o que tem de acontecer,
quem tudo determina será o destino
não haverá nada que se possa fazer
contra a quem nos indica o caminho?

Tenha amiga Elvira, um bom fim de semana, um abraço,
Eduardo.

São disse...

Pasmo com quem faz cirurgias sem necessidade

Bom fim de semana e abraços

Socorro Melo disse...


Uma experiência muito forte. Muito triste. Deixa marcas pro resto da vida mesmo. Mas, é assim que a vida é...

Laura Santos disse...

Que tristeza!...O destino tem destas coisas.
xx

Dorli Ramos disse...

Oi Elvira
Muito triste essa parte do conto
A morte prematura deveria não existir
Beijos
Minicontist2

Portuguesinha disse...

Nossa!
Continuam a ser histórias com muito a acontecer em pouca linhas.
Vou já ler para trás porque ainda só li o começo (falta-me o recheio, rsss).

Rosemildo Sales Furtado disse...

São os altos e baixos da vida.

Abraços,

Furtado.