Seguidores

Mostrar mensagens com a etiqueta resgate. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta resgate. Mostrar todas as mensagens

7.5.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE XLI



-Está lá fora o senhor Jorge Maldonado para falar consigo.
António levantou os olhos e olhou a sua secretária, tão surpreso como se ela lhe anunciasse que o Papa o queria ver.
-Disse-lhe que estava muito ocupado?
-Disse. Mas ele diz que não se vai embora sem falar consigo.
-Está bem. Faça-o entrar e deixe-nos sós.
-Bom dia- saudou Jorge ao entrar no gabinete.
- A que devo a honra da sua visita? – perguntou António sem se levantar, nem corresponder ao cumprimento.
Jorge Maldonado avançou até parar em frente da secretária, meteu a mão no bolso, retirou um papel, desdobrou-o e colocou-o bem na frente do empresário.
-Vim devolver isto. Deve ter ido por engano, pois não me pertence.
-A Paula não lhe disse, que era uma indemnização pelos danos causados?
- Claro que disse. Todavia o valor do resgate que pagaste pela hipoteca cobre os prejuízos.
-A “Casa Nova” está sem fundo de maneio, para se reerguer. E eu tinha prometido um empréstimo…
- A troco da minha filha casar contigo. Ela garantiu-me que não o vai fazer. E ainda que assim fosse, quem empresta uma tal quantia, sem documentos assinados, e garantia de reaver o empréstimo? Nem o mais altruísta dos homens, quanto mais tu, que apenas desejas vingar-te pelo mal que te fiz. Não, o que pretendias era humilhar-me, continuando assim a tua vingança. Mas deixa que te diga uma coisa. Nada do que tu faças, me causará tanto dano, quanto o remorso com que a minha consciência me tem atormentado ao longo destes anos.
Sem se conter, António soltou uma gargalhada.
-Remorsos? Ora, não me faça perder tempo, que não tenho disposição para anedotas. Para alguém ter remorsos precisa ter sentimentos e isso é coisa que nunca teve. Lembra-se do modo como nos tratava a mim e aos meus colegas de trabalho? Do abandono a que votava a sua filha? Alguma vez reparou na tristeza dela? Na solidão que sentia? Meu Deus era uma menina triste, sofrida, porque sentia que o pai não a amava. Mas o senhor não reparava em nada nem em ninguém. E o que fez comigo não tem perdão. Não esperou que a polícia investigasse o roubo. Foi logo acusando-me de ficar com o dinheiro, manchando a única coisa valiosa que eu tinha. Um nome honrado. Por isso não me venha falar de remorsos. Leve o maldito cheque, ou deixe-o ficar, mas desapareça. Não quero voltar a vê-lo.
Sem uma palavra, Jorge Maldonado, virou-lhe as costas, dirigiu-se à porta e abriu-a. Porém antes de sair, voltou-se e disse:
-Custa a crer que te tivesses apaixonado por aquela miúda triste e desengonçada.
Não lhe deu tempo para responder. Saiu e fechou a porta deixando o empresário perplexo . “O homem é doido”, pensou. Só uma mente doentia podia pensar que ele, com dezanove anos se tinha apaixonado por uma menina de nove anos. Aquilo era mais uma ofensa à sua integridade moral. Ele, simplesmente tinha pena da solidão da menina. Era por pena que às vezes sentia vontade de lhe pegar ao colo e a acarinhar, tal como fazia com a sua irmã quando a sentia triste. Apaixonado por ela. “O homem é doido”, - repetiu em voz baixa. - Quem pensa ele que eu sou? Um tarado? 
Apaixonado estava desde que há cinco anos, a encontrara no banco, mas que importava isso, ela não acreditava nele.
Irritado pegou no cheque que Jorge deixara sobre a mesa, e rasgou-o em mil pedacinhos.



Atenção ao capítulo 40 que saiu ontem à noite.  E não esqueçam a informação que lá está.


6.5.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE XXXIX





-Não te preocupes. António nunca teve intenção de casar comigo. Foi só mais uma maneira de atormentar o pai.
-Isso é que eu não entendo. Se ele odeia o Jorge e se queria vingar dele, porque não o fez? E depois há o cheque de cem mil euros. É uma exorbitância. Eu sei que ele é um homem muito rico, mas ainda assim continua a ser muito dinheiro. Quando disse ao Jorge que salvaria a empresa se te casasses com ele, também lhe disse que lhe faria um empréstimo para voltar a erguê-la. Mas nos documentos não vem referenciado nenhum empréstimo e estamos preocupados. Porque o fez? Ou que fizeste tu, para que ele o fizesse?
- Não sei porque o fez, disse-me que era uma indemnização pelos prejuízos que causou ao pai. E não se preocupem, a única coisa que fiz foi uma festa de aniversário de casamento para a sua irmã.
-Não tem lógica. O resgate da hipoteca ao banco seria a indemnização lógica. Um empréstimo, também seria aceitável, assim não. Não podemos aceitar o cheque. Venho entregar-to e pedir que lho devolvas.
Paula estremeceu. Ir vê-lo depois do que tinha acontecido? De modo nenhum.
-Não posso fazer isso. Se vocês pensam assim, o pai que vá ao seu escritório e lho entregue. Além do mais eu estou exausta, tenho trabalhado sem descanso, quase dia e noite, de há três meses até agora. Parto de férias amanhã logo pela manhã.
- Teu pai não o fará. É muito orgulhoso, tu sabes.
- Mas se é verdade que está arrependido, e se quer devolver o cheque, é ele quem deve fazê-lo. Já vai sendo tempo de reconhecer que o orgulho não leva a lado nenhum. E se realmente reconhece que errou, tem mais é que proceder de acordo com isso. Eu no  teu lugar, aconselhava-o a ter uma conversa franca com o António Ferreira. Pelo pouco que conheci dele, é uma excelente pessoa, que sofreu uma injustiça e se sente magoado, daí o seu desejo de vingança, mas como vês não conseguiu levá-la adiante.  Se ele soubesse o que me contaste, decerto ia entender e quem sabe, perdoar. Era bom para os dois. Eu não me meto nisso, e a tua participação também não deve ser outra, senão a de aconselhares o pai. De qualquer modo, eu parto amanhã como te disse.
- E para onde vais?
-Não sei. Vou por aí, à descoberta do país. Onde me sentir bem, fico. De qualquer modo vou telefonando para saber como vocês estão. Gostava muito de levar o Miguel comigo, mas as aulas ainda não terminaram e eu não aguento mais.
- Mas passas lá por casa para te despedires?
- Esta noite depois do jantar.
-E porque não vais jantar connosco? Tenho a certeza de que o Jorge ficaria feliz. E o Miguel nem se fala. Adora-te.
- Se me convidas com tanto entusiasmo, convite aceite. Espero que tenhas razão em relação ao meu pai.
-É claro que tenho. Bom, sendo assim vou-me embora. Vemo - nos logo. 
Levantou-se e Paula não resistiu a abraçá-la. Sempre gostara de Cidália, que desde que casou com o pai e foi viver com eles, sempre foi para ela como a mais carinhosa das mães.
-Gosto muito de ti,- disse
-E eu de ti. Não duvides disso.
Saiu e a jovem ficou à porta até vê-la entrar no elevador.

6.4.19

UM HOMEM DIVIDIDO - PARTE XVIII


- Não conheço a tua irmã, mas vou dar o meu melhor, para que seja uma festa memorável.
-Quer isso dizer que voltas a confiar em mim?
- Será difícil de entender, que embora pareça, que me conheces bem, eu não me lembro de ti? Meu pai disse-me que o tinhas arruinado, e que exigias casar comigo para o tirar do buraco onde tu mesmo o tinhas metido. Tu apareces na minha empresa, e dizes que só lhe fizeste semelhante proposta, porque sabias que eu não ia aceitar. O que me leva a pensar que era uma nova forma de te vingares dele, por algo que te fez e que não me contas. Dizes que porás de parte a vingança a troco da realização da festa da tua irmã. Confiante aceito fazer a festa, e três dias depois, executas a hipoteca. Parece um jogo do gato e do rato, sendo eu o rato. Estou muito cansada, tenho trabalhado, quase noite e dia. Põe-te no meu lugar e responde à tua própria pergunta.
- Não confias, mas sendo a profissional responsável que és, farás a melhor das festas que fizeste até hoje.
Abriu uma gaveta, retirou um envelope grande, e estendeu-lho:
- Vê o que há nesse envelope.
Ela retirou do envelope uma série de documentos e analisou-os. Tratava-se de toda a documentação da “Casa Nova”.
-São os documentos que meu pai te entregou?- Perguntou encarando-o.
- Como vês estão aí todos, inclusive o resgate da hipoteca do teu pai, ao Banco. Com ela na mão a empresa volta a ser do teu pai, pois possuí-la, prova que a dívida foi paga. Pois bem se me prometes que não lhos dás antes da festa da Gabi, são teus.
-Quer dizer que se eu te fizer essa promessa os posso levar?
-Exatamente isso.
-E quem te diz, que não vou sair por aquela porta, entregar os documentos ao meu pai e desistir de fazer a festa da tua irmã?
-Acredito na tua palavra. Sei que cumprirás o que me prometeres.
Ela voltou a guardar todos os documentos no envelope e estendeu-lho.
- Podes voltar a guardá-lo. Entendi a lição. Desculpa o destempero com que entrei aqui, e a minha dúvida. Não voltará a acontecer. Tenho que ir. Estou a acabar os pormenores de uma festa para depois de amanhã, no Estoril. No dia seguinte, entro em contacto contigo para que me digas onde se realizará a festa, já que no “email” que mandaste não especificaste o local, e só depois de o ver posso organizar tudo.
- Muito bem. Fico há espera. Enviei – te o número do meu telemóvel pessoal.  
Levantaram-se os dois ao mesmo tempo. Ela estendeu-lhe a mão, que ele apertou entre as suas, como se a acariciasse. Ela corou e apressou-se a retirar a mão. Voltou-lhe as costas, dirigindo-se à porta e saiu fechando-a suavemente atrás de si.
Pensativo António voltou a sentar-se. Cada dia gostava mais da jovem. Dava parte da sua fortuna, para que ela sentisse por ele, a mesma emoção que lhe despertava. Tinha elaborado aquela estratégia com a intenção de ganhar a sua confiança. Sabia que ela estava desiludida com os homens. Sabia que  fora traída. E isso devia ser um espinho cravado no seu peito. Para ganhar o seu amor tinha que ganhar primeiro a sua confiança.