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8.9.18

FOLHA EM BRANCO PARTE L





Dizem que o tempo voa, mas para Mariana, os dias decorriam numa lentidão exasperante. Miguel passava os dias no estúdio, apenas descia para almoçar, sabendo que Luísa e a filha estavam em casa. À noite, não descia para jantar, e quando vinha dormir era já madrugada. Mariana, passava os dias com a amiga, que devido à época de festas que atravessavam, não tinha aulas. 
Ora saíam, ora se fechavam no quarto, ouvindo música, ou perdendo-se em longas conversas. Não era de estranhar que se tivessem tornado inseparáveis. Para Mariana, a amiga, era a única pessoa, mais ou menos da sua idade, com quem convivia desde há largos meses. Maria, admirava a amiga, pelo que ela sofrera, e pelo carinho com que sempre a tratara.
E assim se chegou ao último dia do ano, um invernoso dia de vento e chuva. Luísa e a filha, saíram a meio da tarde, em dias assim era mais difícil apanhar transportes e elas moravam no outro lado da cidade.
-Deixei o jantar preparado, menina. É só aquecê-lo no Micro-ondas, - disse antes de partir.
- Não se preocupe Luísa. Aproveitem, sair agora, parece que a chuva e o vento amainaram um pouco.
Pouco depois a chuva voltava em força.
Sete e meia da tarde, ouviu-se o primeiro trovão.
“Só cá faltava a trovoada” murmurou contrariada.
Correu os cortinados, apagou a luz e dirigiu-se à sala.
Abriu um livro, mas não conseguiu ler. A trovoada estava cada vez mais próxima, e  ela cada vez mais nervosa.
Miguel descia as escadas, quando um relâmpago, fez da noite dia, e o trovão soou ameaçador por sobre as suas cabeças, ao mesmo tempo que a luz se apagava, mergulhando a casa na escuridão.
Ela gritou assustada, e rapidamente ele estava a seu lado abraçando-lhe o corpo tremente.
Tens medo? – Perguntou baixinho
Contigo não.- Respondeu no mesmo tom.
Novo relâmpago, novo trovão, desta vez ainda mais assustador, como se a tempestade que eles traziam no peito, se tivesse  materializado lá fora, no espaço.

Ela apertou o cerco dos seu braços e pediu num sussurro:
-Beija-me, Miguel!
Ele afastou-a ligeiramente
- Não me tentes, Mariana, não me tentes!





24.8.18

FOLHA EM BRANCO - PARTE XXVIII

Com tudo arrumado, sentou-se na cama. Gostava da casa. Era bonita. Ouviu vozes no estúdio. O arrastar de qualquer coisa. Percebeu que deviam ser os caixotes com as telas. Uma voz desconhecida que se despedia, uma porta que se fechava, e os passos fortes de Miguel. Gostava de saber que estava  por perto. Sentia-se protegida.
Mariana tinha perdido aquela angústia dos primeiros tempos. Claro que continuava, apreensiva e um pouco angustiada. Como não havia de estar, se continuava sem saber quem era. Mas, já não era aquele aperto no peito, que quase a sufocava, dos primeiros tempos. De vez em quando, sem razão aparente, vinha-lhe à memória, uma frase, um rosto, uma rua. Uma coisa tão fugaz que surgia e desaparecia tão rápida quanto um relâmpago. Seria a sua memória a forçar o regresso? Estava ansiosa por voltar ao médico. É que ultimamente sentia-se muito estranha. Sonhava que em breve ia ficar boa, recuperar a memória, voltar para a sua casa, e para a normalidade da sua vida. Ficava tão feliz! Mas quando se sentia no píncaro da felicidade, deslizava de novo para o vale da amnésia.
Voltar para a sua vida, era deixar de viver com Miguel, de o ver a toda a hora, de conversar com ele, de sentir o seu carinho e protecção. E isso causava-lhe uma angústia quase tão grande, quanto não saber quem era. O ideal, seria recuperar a memória e continuar junto de Miguel. Ali, no Algarve, ou em qualquer parte do mundo. Mas isso não era possível. Ela devia ter família, que reclamaria a sua presença! E Miguel certamente, ficaria contente, por se ver livre dela e retomar a sua vida, Sentiu um nó na garganta e as lágrimas deslizaram silenciosas, pela sua face atormentada. Que se passava com ela? Porque era tão complicada? Ensimesmada, nem reparou, que a noite ia descendo de mansinho, o seu negro manto, sobre a cidade. Acendiam-se as luzes na rua. Mas na cabeça e no coração de Mariana continuava a reinar a escuridão.
Perdida, algures em si mesma, nem ouviu as batidas na porta do quarto, quando Miguel voltou duas horas depois.
Ele chamou ao mesmo tempo que batia de novo;
- Mariana!
Sobressaltou-se a jovem.
- Entra. Está aberta.
- Que fazes às escuras? Estou cheio de fome. Afinal de contas, nem lanchámos. Vamos sair?
- Não me apetece nada!
- Podíamos encomendar uma pizza, mas sinceramente, hoje não me apetece pizza.  Vá lá, a noite está muito bonita. Um bocadinho fria, mas nada de especial. Vestes um casaco e pronto. Anda,- e estendia-lhe a mão, - não aceito uma recusa. E depois do jantar, damos uma volta, pelo bairro. Vais gostar. E demais, aproveitamos o tempo para combinarmos algumas coisas.
- Pronto, convenceste-me!



27.11.15

FOLHA EM BRANCO - PARTE L.





Dizem que o tempo voa, mas para Mariana, os dias decorriam numa lentidão exasperante. Miguel passava os dias no estúdio, apenas descia para almoçar, sabendo que Luísa e a filha estavam em casa. À noite, não descia para jantar, e quando vinha dormir era já madrugada. Mariana, passava os dias com a amiga, que devido à época de festas que atravessavam, não tinha aulas. 
Ora saíam, ora se fechavam no quarto, ouvindo música, ou perdendo-se em longas conversas. Não era de estranhar que se tivessem tornado inseparáveis. Para Mariana, a amiga, era a única pessoa, mais ou menos da sua idade, com quem convivia desde há largos meses. Maria, admirava a amiga, pelo que ela sofrera, e pelo carinho com que sempre a tratara.
E assim se chegou àquele dia 30 de Dezembro, um invernoso dia de vento e chuva. Luísa e a filha, saíram a meio da tarde, em dias assim era mais difícil apanhar transportes e elas moravam no outro lado da cidade.
-Deixei o jantar preparado, menina. É só aquecê-lo no Micro-ondas, - disse antes de partir.
- Não se preocupe Luísa. Aproveitem,  ir agora, parece que a chuva e o vento amainaram um pouco.
Pouco depois a chuva voltava em força.
Sete e meia da tarde, ouviu-se o primeiro trovão.
“Só cá faltava a trovoada” murmurou contrariada.
Correu os cortinados, apagou a luz e dirigiu-se à sala.
Abriu um livro, mas não conseguiu ler. A trovoada estava cada vez mais próxima, e  ela cada vez mais nervosa.
Miguel descia as escadas, quando um relâmpago, fez da noite dia, e o trovão soou ameaçador por sobre as suas cabeças, ao mesmo tempo que a luz se apagava, mergulhando a casa na escuridão.
Ela gritou assustada, e rapidamente ele estava a seu lado abraçando-lhe o corpo tremente.
Tens medo? – Perguntou baixinho
Contigo não.- Respondeu no mesmo tom.
Novo relâmpago, novo trovão, desta vez ainda mais assustador, como se a tempestade que eles traziam no peito, se tivesse  materializado lá fora, no espaço.

Ela apertou o cerco dos seu braços e pediu num sussurro:
-Beija-me, Miguel!
Ele afastou-a ligeiramente
- Não me tentes, Mariana, não me tentes!