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24.5.23

CICATRIZES DA ALMA - PARTE XLVI



O resto do dia de Natal passou correndo entre a ajuda à amiga, e as brincadeiras com a afilhada. De vez em quando lembrava-se da quinta e pensava como estaria Tiago a viver aquele dia tão simbólico para as famílias. Continuaria isolado no quarto, ou estaria na sala ou na cozinha, convivendo com a família?

Nos últimos dias, tinha-se estabelecido entre os dois, uma relação doente-tratadora, bem mais agradável do que inicialmente, em que detetava no doente uma agressividade latente, embora Anabela suspeitasse que era mais contra a vida e o que lhe acontecera, do que contra ela. Todavia nos últimos dias parecia menos revoltado e mais disposto a lutar pela sua cura.

Ela soube desde início de que havia alguma coisa por trás do seu desespero e da sua vontade de desistir da vida, que não apenas ter perdido o andar. Provavelmente o desgosto de ter sido abandonado pela noiva, a poucos meses do casamento.

-Estás muito calada, amiga. Saudades do teu doutor?

-Não é o meu doutor, Paula. Nem são saudades. É um doente que eu queria ver a interessar-se mais pela sua recuperação, e que temo não conseguir tratar com êxito. Há qualquer coisa nele que ainda não consegui descobrir, que lhe tirou a vontade de viver e de se esforçar pela sua reabilitação. Talvez seja o facto de a noiva o ter abandonado na cama do hospital, a poucos meses do casamento.

Estavam os três sentados na sala. Patrícia já dormia há muito tempo, e olhando o relógio, Anabela disse:

-Meu Deus, são quase onze horas e amanhã tenho de estar na quinta antes das dez para a sessão matinal de fisioterapia. Vou levantar-me cedo, e como é sábado e vocês não têm de trabalhar, é melhor eu despedir-me já.

Levantou-se e abraçou os amigos, depois disse emocionada:

-Obrigado, por me acolherem na vossa família como uma de vós, e por todo o carinho e apoio que me têm dado. Bem Hajam!

Voltou costas sem esperar resposta, pois receava começar a chorar.

Muito cedo na manhã seguinte, levantou-se, tomou um duche rápido, limpou a casa de banho e arrumou o quarto sempre procurando não fazer muito barulho para não acordar o casal, ou a afilhada. Às sete, sem tomar o pequeno-almoço, que decidiu tomar no caminho ou até na quinta, iniciou a viagem de regresso.

 

9 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Fuga ou pressa de chegar ao destino??

Tintinaine disse...

A nossa heroína já foi atingida pela seta do Cupido, ela é que ainda não sabe!
Espero que esses olhos estejam como novos, Elvira!

Janita disse...

Aguardo, com alguma ansiedade, a hora do reencontro entre doente e enfermeira.
Um abraço, Elvira.

chica disse...

A saudades faz a pressa! Espero estejas melhor! Ótimo dia! beijos, chica

noname disse...

Boa noite, Elvira, tudo bem?

Estou curiosissima, para acompanhar a reviravolta que, acho, vem por aí, nesta história.

Abraço

Jaime Portela disse...

Continuo a gostar deste seu romance.
Venham mais capítulos.
Um beijo, querida amiga Elvira.

Maria João Brito de Sousa disse...

Ontem não pude vir até cá, mas agora fico com as leituras em dia.

Outro grande abraço, Elvira!

teresadias disse...

Está linda a história.
E mais linda será a partir daqui...
Beijo.

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
A história está no bom caminho.
Estou a adorar.
Beijinhos e saúde, desejando que se encontre melhor dos seus olhos
Ailime