Telefonou pouco antes das quatro da tarde, quando estava a acabar o turno. Ela atendeu ao segundo toque.
- Sim.
- Olá, como estás?
- Esperando…
- Estou a ligar por isso, Vou sair agora. Estás na escola?
- Ouves a campainha? As aulas estão a terminar agora.
- E vais para casa?
- Vou.
- Vou lá ter contigo. Pode ser?
- Penso que fui muito clara naquele dia, Nuno.
- Está bem. Até já. Beijo.
Desligou sem esperar resposta.
Luísa ficou uns segundos a olhar para o telemóvel. Depois apressou-se a guardar o material que estivera a usar. Pegou na mala e levantou-se para sair, no momento em que a auxiliar entrava na sala para a limpeza da mesma.
Na saída saudou a outra auxiliar que ao portão impedia as crianças de saírem sem antes identificar o familiar que as viera buscar e entrou no carro.
Estava nervosa. Tinha noção de que algo na sua vida ia mudar muito em breve, fosse qual fosse a decisão que Nuno tivesse tomado. Dentro de dias, faria trinta e cinco anos. Alguns diriam que estava na plenitude da vida. Porém não era assim que ela se sentia.
A verdade, é que a vida teimara em ser para ela, como as bruxas más dos contos de infância. Tempos atrás, pensando que Nuno tivesse casado e fosse feliz, ela só pensava nas suas aulas, nas suas crianças, e era feliz. Mas o reencontro com o homem que sempre amou, o saber que ele não tinha qualquer compromisso de ordem amorosa, despoletou o vulcão adormecido no seu peito. As aulas, as crianças, as reuniões com as colegas, já nada lhe bastava. Ela precisava de algo mais que a completasse. Algo que ela pensou ter morrido, com a má experiência do passado, mas que renascia agora mais forte que nunca.
O que ele lhe contara no último encontro, chocara-a. Como não? Saber que uma pessoa, perde um membro por causa de uma mina, que os senhores da guerra deixaram esquecida como objeto inofensivo choca sempre. Mas isso não alterou em nada o que sentia por ele. Ou talvez sim, pois a admiração que sempre sentiu por ele era agora bem maior.
Mas e ele? Conseguiria algum dia livrar-se daquele sentimento de inferioridade, que a mina lhe deixou no lugar da perna?
Tantas interrogativas passavam pela sua cabeça, enquanto conduzia a caminho de casa. Precisavam fazer amor. Luísa sentia que era a única coisa que podia por tudo nos seus devidos lugares, para o bem ou para o mal. Só nesse momento intimo, ela saberia se o amor que sentia por Nuno, era maior do que o medo das lembranças que o acto em si, despoletaria. Acreditava que acontecesse o mesmo com ele.
Finalmente chegou ao estacionamento do seu prédio. Nuno já tinha chegado. Saiu do carro mal ela estacionou o veículo. Deu a volta ao carro, e abriu-lhe a porta.
- Olá, – disse saudando-a com um leve roçar dos lábios, pelos seus. - Tive tantas saudades tuas. Vim buscar-te.
- Olá. Está um trânsito infernal. Onde vamos? - perguntou abrindo a porta de casa. Sem esperar resposta, acrescentou.
- Espera-me na sala. Vou tomar um duche e mudar de roupa. Não me demoro.
- Espera-me na sala. Vou tomar um duche e mudar de roupa. Não me demoro.
Nota: Aos amigos que manifestaram o desejo de adquirir o RENASCER. O meu mail está no meu perfil.
12 comentários:
Genial relato te mando un beso.
E aqui está o tal primeiro passo de uma longa caminhada.
Vai tudo acabar bem, como diz quem tem saúde aos que têm falta dela. Por vezes acaba no cemitério, mas não está ainda provado que isso seja mau. E se a outra vida é melhor que esta?
Haja saúde!!!
Lindo e precisam mesmo dar chance ao amor...beijos, ótimo dia! chica
Um passo arriscado, mas absolutamente essencial...
Um grande abraço, querida amiga!
Mulher decidida esta ahahahaha
Boa tarde, Elvira
Boa tarde Elvira,
Um episódio emocionante, em que os sentimentos estão à flor da pele.
Aguardemos o desenrolar dos acontecimentos.
Beijinhos e saúde.
Ailime
O amor está e estará sempre acima de tudo.
Abraços, muita saúde e paz para ti e para os teus.
Furtado
Gostei bastante de ler. Beijinhos
Mulher forte, corajosa, decidida! E não são assim mesmo as mulheres? Claro que são! Tu és uma delas, Elvira! Sempre te admirei muito! Beijinhos e saúde para todos
Emilia
Um dos momentos altos deste conto. Muito bem escrito, exige uma leitura até ao fim e deixa a vontade de chegar ao próximo texto.
Por outro lado, temos alguém decidido e atual num momento de elevado interesse.
Não é anormal acontecerem comentários a brincar com os finais felizes, que no fundo são escolha de quem escreve.
Mas, num mundo já de si tão violento, já de si tão dramaticamente difícil, quem escolhe ler um romance não procura isso mesmo? Um final feliz?
Eu acredito que sim e estou a aguardar e a acompanhar um caminho que espero que termine bem. Tão bem quanto estes dois personagens merecem.
Um abraço e vou passar ao próximo texto.
Elvira, vim acabar de ler esta interessante história.
Bjs.
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