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9.2.22

ARMADILHAS DO DESTINO - PARTE XI

 





Nuno entrou em casa, acendeu a luz e fechou a porta atrás de si. Despiu o casaco e jogou-o com displicência para um cadeirão na sala. Foi até ao bar e serviu-se de uma bebida. Sentou-se no sofá e cerrou as pálpebras. Mentalmente reviu a figura de Luísa. Já não era a jovenzinha que ele tanto amara, e que lhe destroçara o coração. Era uma mulher muito bela.
 O amadurecimento tinha-lhe dado um outro encanto. E apesar da raiva que o consumira durante aqueles dezasseis anos, a sua presença mexeu tanto com ele que teve de fazer um enorme esforço para aparentar uma naturalidade, tão falsa como ela própria.
Namoravam há dez meses e ele tinha a certeza do seu amor. Recordou o dia em que a pediu em casamento. Os planos, para um futuro próximo. As juras de amor que ela lhe fizera. Parecia tão sincera, tão apaixonada. Ele estava tão feliz, que deixara de lado o sonho de ir para África. 

Uma semana foi o tempo que durou a sua felicidade. Uma semana e as juras de amor foram quebradas, com a desculpa de que era muito jovem, e não estava preparada para assumir um compromisso sério. 
Devastado, com a atitude da mulher que amava, a tal ponto que estava disposto a renunciar aos seus sonhos, com a alma em farrapos, Nuno partiu para o Zimbabwe, onde esteve durante três anos.

 Foi lá que recebeu a carta do pai que lhe anunciava o casamento de Luísa, com um homem que quase podia ser seu pai. Não tinham passado nem seis meses depois da sua partida. Amaldiçoou-se pela dor que sentia, por não conseguir esquecê-la. E fez uma jura a si próprio, de que mulher alguma no mundo ia voltar a ter poder sobre ele. Nunca mais ia deixar que o seu coração se prendesse.
Integrado numa equipa de Médicos Sem Fronteiras, Nuno tinha chegado a Chitungwiza, nos subúrbios de Harare, a capital do Zimbabwe. Da mesma equipa, fazia parte a doutora, Helena Santos, que desde o início mostrou sentir grande atração por Nuno, apesar de ele nunca ter demonstrado qualquer outro sentimento que não o saudável companheirismo de dois colegas de profissão. Apesar disso Helena mantinha esperança. De tal modo que quando a missão do grupo acabou, e Nuno decidiu ficar, ela fez o mesmo, talvez pensando que acabaria por o conquistar.

Nuno continuou dedicado de corpo e alma às suas crianças, até que farta de esperar, Helena decidiu tomar a iniciativa e declarar-se ao colega. Sentindo-se incapaz de corresponder ao sentimento dela, Nuno despediu-se dos seus pacientes, e rumou ao Bangladesh, onde permaneceu durante dois anos.
Findo esse tempo voltou a África, tendo passado pela República Centro Africana, Eritreia, Burundi,  e Angola, para acabar por voltar ao Zimbabwe,  onde permaneceu até ao maldito acidente.

 Depois foi uma longa batalha consigo mesmo, até vencer as suas limitações e voltar a ser o médico, conhecido e estimado.
O acidente porém causara grande preocupação aos seus pais, que sentindo-se na reta final da existência , temiam não voltar a ver o filho.
Daí, que quando finalmente recebera alta do hospital da Universidade Técnica de Munique, para onde fora enviado após o acidente e onde estivera mais de três meses, regressou a Portugal  onde se candidatou a um lugar num hospital em Lisboa, e se mudou, para um apartamento não longe da casa dos pais. E quando pensava que tinha enfim encontrado a paz de espírito eis que encontrava Luísa e com ela regressava todo o passado. A dor e o ódio, que o acompanharam ao longo de dezasseis anos.

10 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Quando se pensa que uma pedra tomou o lugar do coração há sempre surpresas.
Como eu sei isso!!!

chica disse...

E nós vamos acompanhando e gostando...beijos, chica, ótimo dia!

Maria João Brito de Sousa disse...

Nunca é fácil ultrapassar o ódio... Este reencontro vai ser atribulado.

Forte abraço, amiga!

noname disse...

A vida, tanto dá como tira. Quem sabe, está na hora de dar de novo :)

Bom dia, Elvira

Janita disse...

Isto de se ser contista não é moleza, não.
Nós, vamos entusiasmados lendo cada palavra, cada frase, locais e cidades, países e continentes por onde a vida levou os nossos personagens, e nem nos ocorre pensar na pesquisa que o escritor/a teve de fazer para não meter o pé na poça.
É obra! Tudo isso a par do enredo, da história, quanto mais intrincada mais absorvente se torna.

Por tudo isto parabenizo a nossa contista e amiga blogueira.
E hoje, fico por aqui. O resto vai vir devagarinho ao sabor da história romântica.

Um abraço.

Cidália Ferreira disse...

A vida dá muitas voltas. Umas boas e outras más! Vamos seguindo!
-
A força da mente não me deixará ter frio
*
Beijos, e um excelente dia :)

Ailime disse...

Boa noite Elvira
Um episódio lindo muito bem escrito e que adorei.
Parabéns pelo seu excelente trabalho.
Beijinhos e saúde.
Ailime

teresadias disse...

Belo capítulo, Elvira.
Pelo conteúdo e pela escrita fluente.
Gostei,
Beijo.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

O amor vai vencer todos os desgostos pelos quais, ambos, passaram!
Abraços fraternos!

João Santana Pinto disse...

Há muito trabalho de casa feito (sorrisos)
E uma vez mais… mais um tema dentro de outros… a importância do papel do médico que tudo deixa para trás por forma a ajudar quem mais necessita colocando em risco, senão a sua vida, o conforto de uma vida normal.

Dois personagens principais, duas vidas separadas, mas igualmente duras. Um nunca recuperou do coração partido, nunca se permitiu a voltar a amar e ela chegou a tentar por termo à própria vida.
Personagens apresentadas, penso que a trama vai avançar em reencontros…
Abraço e bom fim de semana