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4.2.22

ARMADILHAS DO DESTINO - PARTE IX






O registo dos dois meses seguintes, está nas múltiplas cicatrizes, provocadas pelo cigarro aceso, espalhadas pelo peito, nádegas e ventre. Luísa não aguentava mais. Sabia agora o que levara a primeira mulher de Álvaro ao suicídio. Sabia, porque ela estava decidida a fazer o mesmo. Cada dia essa ideia lhe aparecia mais sugestiva, mais libertadora. Mas o marido, não a deixava sair de casa sozinha.

E em casa ela não via como fazê-lo. Só se utilizasse uma faca da cozinha. Mas tinha que ter força para aplicar um golpe certeiro que lhe desse a morte rapidamente. Mas... e se o golpe não fosse mortal e em vez de a socorrer o homem se entregasse aos seus prazeres libidinosos e sádicos?

A ocasião surgiu num dia em que fora à cidade com o marido. Fingindo-se distraída, ela não apertou o cinto de segurança, e esperou pelo momento certo para saltar do carro em movimento.
A determinada altura, quando se viu numa estrada longe da quinta, abriu a porta e atirou-se para a estrada, esperando que o carro que vinha um pouco  atrás lhe passasse por cima e lhe desse finalmente descanso.
Contaram-lhe depois no hospital, que a velocidade do carro, aliado ao seu impulso, fez com que o seu corpo rolasse até à valeta, sem ser atingida pelo automóvel que vinha atrás,  enquanto o marido, surpreendido, perdera a direção do carro, saíra da sua faixa, e colidira brutalmente com um camião que vinha em sentido contrário.

Tivera morte imediata. E ela tivera muita sorte, pois além duma luxação no ombro, e fratura do úmero e do rádio, do braço direito e de várias escoriações nas pernas, provocadas pela fricção do corpo no alcatrão, não tinha sofrido mais nada. Mas o médico queria saber que marcas eram aquelas no seu corpo, algumas ainda recentes e a precisar de serem desinfetadas e pensadas. Luísa limitou-se a chorar, envergonhada de mais para contar ao médico o inferno de onde saíra.

 Porém o médico, deve ter percebido, porque umas horas depois, Luísa recebeu a visita de uma psicóloga.
Com carinho e paciência, ela conseguiu que Luísa contasse o tormento em que vivera durante os catorze meses que durou o seu casamento.
Ainda no hospital, recebeu a visita de Marta, uma jovem de quem fora muito amiga nos tempos de estudante e de quem se tinha afastado depois do casamento, uma vez que o marido a impedia de se relacionar com qualquer pessoa, com medo que ela contasse o que se passava. Marta estava muito assustada pelo que Luísa tinha feito, e esta contou-lhe a razão para aquele ato desesperado. A amiga ofereceu-se para a ajudar em tudo o que fosse preciso. 

Quinze dias depois saía do hospital. Tinham-lhe dado alta hospitalar, com a indicação de que devia ser seguida pela psicóloga, e apresentar-se três semanas depois, para retirar o gesso, e fazer uma radiografia.
Luísa não tinha coragem de voltar para a quinta, entrar naquela casa onde fora tão infeliz. Mas precisava fazê-lo. Lá tinha as suas roupas e documentos, e como única herdeira do marido aquela casa era agora sua.






11 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Saber que esse HORROR é real e ainda existe é que é o mais assustador.
Bfds

Tintinaine disse...

O sádico deve estar a arder no Caldeirão do Saraiva e bem arrependido do que fez, mas agora é tarde para arrependimentos!
Bom fim de semana!

chica disse...

Graças à Deus esse diabo se foi! CREDO! Já foi tarde!!!E que ela saiba a vida recomeçar... Naquela casa, melhor fogo colocar pra apagar tudo! beijos, chica

Maria Dolores Garrido disse...

Infelizmente há muitas pessoas que partilham o mesmo espaço, mas nada as une. O melhor seria mesmo a separação, embora só cada um(a)saiba julgar a sua vida.
Um abraço, Elvira, e bom fim de semana.

Maria João Brito de Sousa disse...

O inocente propunha terminar com a sua própria vida e a sorte ditou que fosse o carrasco a morrer...

Forte abraço, Elvira!

Ailime disse...

Boa tarde Elvira,
Realmente continuo impressionada com a vida desta mulher, sabendo que na realidade há tantos casos como este.
Que ela tenha coragem para enfrentar a vida que tem pela frente.
Beijinhos e bom fim de semana.
Ailime

noname disse...

Ele há dias de sorte :-)


Boa tarde, Elvira

Janita disse...

Há peçonhas que só terminam com a morte do bicho...
Agora é respirar de alívio.

Boa noite, um abraço.

teresadias disse...

Elvira, aplaudo a morte do bicho. Só faltou algum sofrimento...
Beijo.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Glória a Deus, o sádico morreu!!! Embora as marcas no corpo e na alma fiquem por muito tempo.
Abraços fraternos!

João Santana Pinto disse...

Traumatizada para a vida, algo assim não se ultrapassa nem com ajuda. A personagem tem marcas para lá da pele.
Uma hipótese de refazer a vida, de voltar a ser livre e descobrir quem é… vamos continuar