-Peço desculpa, doutora; - disse Teresa encaminhando-se para
a marquesa – está lá fora o pai. Será que ele pode assistir à ecografia?
- Pode e deve. Afinal não foi ele que assumiu a responsabilidade
de tratar de si, para que não fosse internada?
- Sandra, pode ir chamá-lo por favor, - pediu a jovem
- A vossa história é muito curiosa, -disse a médica quando
a enfermeira saiu. Nunca tive conhecimento de nenhum caso igual.
Teresa não chegou a responder pois bateram à porta e à
ordem da médica, João entrou na sala, e depois de cumprimentar a obstetra, tomou
lugar junto da jovem.
- Bom, - explicou a doutora, enquanto punha o gel na parte
visível da barriga de Teresa. - Às oito semanas não há ainda muito para os pais
verem, pois só às doze é que os bebés estão inteiramente formados, mas é
essencial para o médico ver se está tudo bem, e confirmar a idade gestacional
do embrião, que é sempre duas semanas inferior ao tempo de gravidez. Muito mais tratando-se de uma gravidez múltipla. Bom, cá estão
eles, vejam aqui, aqui e aqui, - disse, o rato apontando os locais no monitor. Vamos ouvir os seus corações.
Uns segundos depois a médica deu o exame por terminado,
desligou o aparelho e olhou-os. A jovem olhava embevecida o seu ventre como se
pudesse ver através da pele o que lá ia dentro. O homem tinha a mão de Teresa
entre as suas e os olhos semicerrados talvez para esconder a emoção que sentia.
- Está tudo bem com os bebés, a Teresa pode levantar-se, -
disse a médica dando-lhe uma toalha de papel para que limpasse o ventre. E
enquanto retirava as luvas acrescentou.
-É melhor o senhor sair agora e pedir à sua enfermeira que
entre. A consulta está quase a terminar pode aguardar na sala de espera.
- Obrigado, doutora - disse apertando a mão que a médica lhe
estendia.
João saiu e Sandra entrou. A sala de espera, ali no
corredor das consultas era pequena. Um quadrado com dez cadeiras ocupando dois
dos lados, no outro duas casas de banho. A parte que dava para o corredor sem parede. Claro,
havia a enorme sala onde estiveram anteriormente, junto à entrada, onde se
encontravam os gabinetes de inscrição, e foi para aí que ele se dirigiu, uma
vez que aquela estava cheia. Estava por demais emocionado. Desde criança sempre
fora um solitário. Mesmo na escola, nunca se aproximava muito dos outros
meninos, que chegavam sempre acompanhados pela mãe ou pelo pai. Ele ia sozinho.
Apenas nos três primeiros dias de aulas, no primeiro ano, a mãe de Olga o levou. Mas o pai soube
e logo a proibiu.
“A vizinha fica proibida de levar o rapaz à escola. Nem
você nem a sua rapariga. Se eu que sou pai, não o levo, é porque entendo, que ele
tem que aprender a desenrascar-se sozinho. Era o que me faltava, fazerem do
rapaz um maricas, sempre agarrado às vossas saias”
Ainda hoje, ele parecia estar a ouvi-lo gritar, mais do que
dizer aquelas palavras à dona Hortense.
Com medo do pai, ele começou a isolar-se. Não ia para a rua
brincar com os outros miúdos ao fim da tarde, e mesmo na escola nunca procurava
entrar nas brincadeiras dos colegas.
Encontrou uma fuga à realidade quando aprendeu a ler. Com os
livros ele viajava por terras estranhas, conhecia crianças felizes. Não como ele,
a quem a mãe tinha abandonado, e às vezes perguntava-se porque o pai não fizera
o mesmo. Afinal, também não parecia gostar dele.
Bom, verdade seja dita, nunca lhe faltou a comida, embora fosse
a D. Hortense quem fizesse as refeições, ele sabia que era o pai que atestava a
dispensa. Também nunca lhe faltou roupa, calçado e livros. Até um computador
lhe comprou quando ele tinha 12 anos.
O pior foi depois. Quando ele começou a entusiasmar-se e a não querer ir aos fins de semana para a
oficina para ficar no computador.
Naquele momento Teresa e Sandra regressaram da consulta e
ele apressou-a a ir buscar o automóvel.
Este símbolo estará no Sexta durante todo o mês para lhes lembrar isso mesmo, tal como esteve o mês passado o símbolo rosa.
17 comentários:
Muito bom, amiga Elvira. Sempre seguindo.
Bom mês de Novembro!
Beijinhos.
Boa noite Elvira,
Um episódio que apreciei bastante.
Os bebés estão bem.
A vida de João na infância muito traumatizante. Agora já está a ter a recompensa.
Beijinhos e bom novembro.
Ailime
Emocionante este capitulo.
Boa noite, Elvira
Traumas de infância do João. Mas agora a emoção desse lindo momento! Ótimo! Vale a lembrança do Novembro Azul! beijos, chica
Tudo parece estar a correr às mil maravilhas para este casal unido por uma cilada da vida...
Forte abraço, Elvira.
A isto chama-se "navegar de vento em popa", tudo corre às mil maravilhas!
Quanto ao mês de Novembro ser dos homens ... não gostei. Pensei que tinha direito a 12 meses por ano!
desconhecia o mês de Novembro azul , obrigada pela partilha|||
e a historia continua cada vez mais interessante.
grata
A passar por ca para acompanhar a historia.
Amiga Elvira
Seguindo e adorando.
boa semana.
beijinhos
:)
Os acontecimentos do passado continuam matutar na cabeça de João. Há coisas por mais que se tente. Nunca se conseguem esquecer!
Tenha uma boa tarde amiga Elvira. Um abraço.
Isto é a vida a deslizar... docemente sobre rodas.
Maravilha de capítulo.:)
Boa noite e um abraço, Elvira.
Gostei bastante deste capítulo!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Boa semana Elvira
Bem, a emoção do João chegou até aqui...
Quanto ao mês de Novembro, marido alertado!
Beijo Elvira, boa semana, protejam-se.
Estamos seguindo essa gravidez com atenção e bom é que parece vai ser lindo o momento dos bebês virem ao mundo rs o papai continua feliz.
Muito bom Elvira _ sem atropelos, por favor rsrs
beijos
Um passado com fantasmas, um presente sólido e sorridente e um futuro promissor
Muita emoção neste capítulo e lembranças que atingem o coração dele.
Abraços fraternos!
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