Teresa encontrava-se sentada à
mesa na cozinha. Tinha vestido um leve robe de cor salmão, que deixava ver por
baixo uma fina camisa de dormir branca. Tinha na sua frente um copo de leite
quase vazio, única coisa que tinha conseguido segurar no estômago, desde há quase
quinze minutos. Toda a manhã tivera vómitos constantes, sentia-se extremamente
cansada, sem forças, nem vontade de fazer o almoço. Sabia que algumas mulheres
se queixavam daqueles sintomas, o livro também falava neles, mas ninguém a
alertara para a violência que vinha sofrendo há quatro dias.
Não sabia se devia recorrer ao
médico no Centro Clínico, não desejava fazê-lo, mas telefonara nessa manhã para
o consultório da sua ginecologista, e informaram-na que estava de férias só
regressaria na semana seguinte, e a continuar assim ela não acreditava que
conseguisse resistir até lá. Tinha já emagrecido, pois ao pesar-se nessa
manhã, a balança marcava menos quilo e meio do que na semana anterior. As
grávidas devem ganhar peso, não perdê-lo.
Terminou de beber o resto do
leite e a custo levantou-se. Levou o copo para o lava loiça e encaminhou-se
para a casa de banho. Precisava tomar um duche, tinha transpirado imenso, sentia-se
imunda. Depois do banho, apenas tinha vontade de se deitar e dormir, mas
obrigou-se a reagir. Vestiu-se, escovou os cabelos que prendeu num
rabo-de-cavalo evitando olhar para o espelho, por recear o seu próprio aspeto.
Já na cozinha, ficou indecisa
sem saber que fazer para o almoço. “Não há nada pior do que ter que cozinhar
quando nada apetece comer” pensou.
Pôs a cozer dois ovos, e água
a ferver para cozer esparguete, salteou em azeite e alho, espinafres, tomates,
e rodelas de curgete. Com todos os ingredientes fez uma salada, e sentou-se à
mesa. Pensando no bebé, forçou-se a comer mesmo sem ter vontade.
Porém pouco comeu, pois logo começaram as náuseas, pelo que guardou a comida no frigorífico, passou a
loiça por água e meteu-a na máquina, seguindo depois para a sala, a fim de se
estender no sofá.
Sobre a pequena mesa da sala
uma jarra com rosas brancas, trouxe-lhe à memória o dia de sábado passado na
companhia do empresário.
Passou a mão sobre as pétalas
aveludadas das rosas, pegou no comando da televisão, ligou o aparelho e
estendeu-se no sofá a ouvir as notícias. Cinco minutos mais tarde, a campainha
da porta tocou. Levantou-se e foi atá à porta que abriu depois de ver que se
tratava da sua amiga Inês. Cumprimentaram-se com um beijo, e seguiram para a
sala.
Inês estava impressionada com
o aspeto da amiga, e comadre. Disse assim que se sentaram:
-Aproveitei a hora do almoço
para te vir ver. Todos estamos muito preocupados contigo, já que nunca mais
apareceste na pastelaria. Por outro lado, sempre que te convido para ires
almoçar ou jantar lá a casa, como ontem dás sempre uma desculpa. Agora olhando
para ti, vejo que deves estar a passar mal e estás aqui fechada sozinha. Porque
não me disseste?
- Não estive assim até à
semana passada. Levei um mês praticamente a comer e a dormir.
-Não me digas, por isso estás
tão gorda – disse com ironia.
- É que os últimos dias têm
sido muito difíceis. Não aguento nada no estômago. Agora mesmo não sei se
conseguirei aguentar o pouco que comi ao almoço.
Vómitos matinais após o
primeiro mês, são normais em muitas grávidas, mas se acontece após almoço e jantar deves ir ao médico. Vais
começar a perder peso e não é bom para o bebé. Se quiseres vou contigo.
- O problema é que só tenho
consulta no Centro Clínico dentro de duas semanas. Telefonei para o consultório da minha
ginecologista e informaram-me que está de férias. E não acho que seja coisa
para ir ao hospital.
-Mas não podes estar assim.
Quando chegar à pastelaria, vou telefonar à minha ginecologista. Tenho a
certeza de que se não hoje, amanhã ela atende-te. Não te preocupes eu levo-te
lá, não te quero a conduzir como estás. Agora vou-me embora. Daqui a pouco já
te telefono. O pessoal manda-te um
abraço e diz que tem saudades tuas. E os clientes perguntam por ti todos os
dias. Estranham que de um momento para o outro tivesses deixado de aparecer,
perguntam-me se comprei a pastelaria.
-Não lhes digas o que se
passa. Diz que estou de férias, que fui para a aldeia, qualquer coisa, mas não
lhes digas nada da gravidez, até que passem os três meses.
Inês levantou-se, deu-lhe um
beijo, e disse:
- Não te levantes, eu sei o
caminho.
14 comentários:
Não sei porquê mas, adivinho, tormenta.
Bom noite, Elvira
Adivinha-se borrasca.
Boa semana
Coitada da Teresa, mal sabe ela que o resto dos problemas para criar e educar um filho é bem maior e mais difícil de aguentar que os enjoos da gravidez!
Também eu começo a adivinhar borrasca. Não que não tivesse, muitas vezes passado por esses incómodos, mas porque me parecem excessivos.
Abraço, Elvira.
Pobre Teresa! Esperemos o melhor pra ela e pela história! beijos, chica,linda semana!
Mais um excelente capitulo.
Um abraço e boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Por causa dos enjoos da Teresa, lá fiquei sem saber nada do empresário nem do advogado misterioso.
Acho isso demasiado enjoo. Nas minhas duas gravidezes nunca sofri enjoos nem tive apetites estranhos. Graças a Deus!
Um abraço e boa semana.
Mais um fantástico capitulo!! :)
-
Na melancolia do tempo...
-
Beijos, e uma excelente semana!
É bom ter-te de volta... Vou acompanhar a história!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Os enjoos são normais durante a gravidez. O tempo passa depressa e qualquer dia a criança nasce e os enjoos deixam de a apoquentar Teresa!
Tenha uma boa noite com saúde amiga Elvira. Um abraço.
Não é fácil, mas logo passa.
Anotei a salada...
Beijo
Boa noite Elvira,
Coitada da Teresa.
Deus queira que não seja nada de grave.
Beijinhos,
Ailime
(Estive ausente por motivos de força maior).
E haja enjoos, tomara que ela sustente esta criança!
Abraços fraternos!
Problemas do lado dele e aparentemente do lado dela... a autora não o faz por menos e agora aqui estamos, presos à história...
Enviar um comentário