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11.9.20

CILADAS DA VIDA - PARTE XXXI





Teresa gostou realmente do restaurante. O edifício situado na marginal, com o bar e a esplanada estendendo-se pela rocha, como que entrava no mar delimitando a fronteira entre as praias da Rainha e da Conceição. A sala de refeições era muito agradável, com largas janelas para a praia. A mesa que lhes estava reservada situava-se precisamente junto a uma dessas janelas, donde se podia observar o vai e vem das ondas, transmitindo uma sensação de calma que acabou descontraindo a jovem.

-Preferes carne ou peixe? - perguntou João enquanto consultava a carta. A especialidade aqui são os pratos à base de peixe ou marisco, mas o Bife Tártaro do Mâitre, ou o Carré de borrego assado com maçãs, também são uma delícia.

- Vou escolher o Robalo no forno à Portuguesa, pois receio que os pratos mais elaborados de carne me enjoem e te faça passar vergonha.

- Muito bem, vamos para o robalo. E entradas? Gostas de Ostras?

- Não sei, nunca comi, mas também não será hoje que vou experimentar. Além do receio de enjoar, habitualmente não como muito e se começo com as entradas receio já não comer mais nada. Mas tu, pede o que te apetecer, não tens que te preocupar comigo.

-Desculpa, mas não estou de acordo. És a convidada, portanto a pessoa mais importante nesta mesa. Se receias enjoar com a carne ou com as entradas então não as pedimos. Desejo que relaxes e saboreies a refeição.  E se possível, que te esqueças do papel, que ambos desempenhamos nesta peça, em que a vida nos meteu. Imagina que sou um amigo de longa data, que não vias há muito tempo. Será mais fácil para os ti.

Os olhos de Teresa tinham um brilho húmido, como se estivesse a reter as lágrimas. João estendeu a mão e apertou a dela. Recordou que ela lhe dissera estar sozinha na vida, e sentiu toda a sua fragilidade como se fora a sua própria. Sabia bem o que era sofrer, e não sentir o consolo de um abraço, ou simplesmente uma palavra de ânimo de pai ou mãe. Em silêncio jurou a si mesmo, que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para a proteger.

O empregado chegou, eles fizeram o pedido, e durante breves segundos mantiveram-se em silêncio observando o vai vem das ondas, cada um perdido sabe-se lá em que mundo, presos de que fantasmas. Depois Teresa levantou-se dizendo:

-Desculpa, tenho que ir à casa de banho.

E afastou-se. Mais do que uma necessidade fisiológica, própria do seu estado, Teresa queria esconder dele as lágrimas que não conseguia reter por mais tempo. Precisava dois minutos de solidão para lavar o rosto e recompor-se da emoção que aquele homem lhe provocara. Era aquele o homem, que Gonçalo e o médico do Centro Clínico, lhe descreveram como um homem duro, capaz de tudo para atingir os seus fins? A ela parecia-lhe mais o Príncipe de um conto de fadas. Enxugou o rosto e abanou a cabeça. Não! Não se deixaria iludir. Os Príncipes não existiam na vida real. O que existia eram sapos, capazes de boas representações.

Regressou à mesa no momento em que o empregado se aproximava com o pedido

 

14 comentários:

noname disse...


Ai ai, que o diabo anda à solta :-)

Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

O sapo transformou-se em príncipe e a princesa desconfia.
Bfds

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Todas as fases da vida têm o seu valor , mas a fase destes dois neste momento vai ser crucial para um futuro a médio prazo .

JR

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história.

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Tintinaine disse...

A foto que acompanha a publicação parece ter sido escolhida a preceito. O restaurante sofre os efeitos da pandemia, está às moscas.
Bom fim de semana!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Continuo a acompanhar com interesse.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

chica disse...

Ela percebe a mudança e sente medo de vê-la realmente...beijos, lindo fds! chica

Janita disse...

Este capítulo sim, encheu-me a alma. Gostei muito.
Porém, a jovem que não exagere. O empresário é somente um homem, com qualidades e defeitos.
Nem carrasco nem príncipe encantado! :)

Um abraço e bom fim de semana.

Cidália Ferreira disse...

Mais um episódio que gostei de ler! :)
-
Será o destino mais forte do que o pensamento
.
Beijos, e um excelente fim de semana. :)

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Ai! Ai! Que isto promete!
Muito bem escrito e bem engendrado.
beijinhos Elvira
:)

teresa dias disse...

Sapo ou príncipe, há que esperar para saber.
Mas custa!!!
Beijo Elvira, bom fim-de-semana.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Muito interessante, amando!
Abraços!

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um episódio lindo!
Gostei bastante.
Um beijinho e bom fim de semana.
Ailime

João Santana Pinto disse...

Ele claramente á altura da personagem que ela é... um belo momento