Abriu a porta da rua, e João já
se encontrava de pé junto do seu automóvel. Vestia umas calças pretas e uma
camisa branca de mangas arregaçadas. Ao vê-la puxou os óculos escuros para a
testa, e aproximou-se. Indecisa sobre como cumprimentá-lo, numa sociedade onde
quase toda a gente usava o beijo social, mas não se sentindo à vontade para o
fazer, aguardou que ele tomasse a iniciativa, e João estendeu as mãos e segurou
as dela.
- Bom dia, como estás?
- Bem e tu? – retorquiu
sentindo que a voz lhe tremia, nervosa com o calor que as mãos dele estavam a
provocar no seu corpo. Que era aquilo? Nunca tinha sentido nada igual, só podiam
ser as suas hormonas descontroladas com a gravidez.
-Eu estou bem, mas vamos para
o carro, está muito calor – disse largando-lhe as mãos e pegando-lhe no braço.
Acompanhou-a ao carro,
abriu-lhe a porta e esperou que se sentasse para a fechar, puxar os
óculos escuros para os olhos, dar a volta ao carro e sentar-se ao volante.
Ligou o motor e arrancou, ao mesmo tempo que lançava um olhar rápido sobre a
sua companheira. Reparou que também ela tinha colocado os óculos escuros, tinha as
mãos no colo, uma apertando a outra, e uma postura rígida, como se não estivesse
à vontade ou temesse algo. Sorriu.
- Pensei que, dado que estamos
no verão, seria agradável almoçar à beira-mar. Reservei mesa no Albatroz em
Cascais. Conheces?
-Não.
- O serviço é bom, o ambiente estupendo e a vista espetacular. Acredito que vais gostar.
- Tenho a certeza que sim.
O silêncio que se seguiu foi quebrado quando ele disse:
-Não te conheço bem, mas em relação à última vez que te vi, acho-te abatida. Tens passado mal?
- Até agora não. Apenas tinha
muito sono. Mas esta manhã começaram os enjoos, e levei mais de duas horas com
vómitos.
- E quando vais ao médico?
-Mês que vem, dia seis. Faço
oito semanas, e vou fazer a primeira ecografia. Parabéns pela tua festa. Vi a
reportagem nas notícias, ontem, parece que foi um sucesso - disse para mudar o rumo da conversa, pois não
se sentia à vontade para falar da sua gravidez com ele. Era certo que era o pai
do seu bebé e que ela lhe tinha prometido que ele faria parte da vida da criança,
mas isso não impedia que falar do seu estado, fizesse com que o seu rosto parecesse
um tomate e sentisse vontade de se esconder, onde ele não a visse, pelo menos
até ao nascimento do bebé. Percebendo ou não o que se passava com ela, João
disse:
- Olha Teresa, acredito que
esta situação seja difícil para ti; e de certa forma também o é para mim. Afinal
somos dois desconhecidos que por um erro médico se vêem obrigados a conviver. Todavia
somos os dois adultos, ambos queremos essa criança, e por ela estamos dispostos
a lutar. E como sabes neste caso há duas
formas de luta. Ou lutamos um contra o outro, com todos os inconvenientes que isso acarreta, especialmente para a
criança, ou lutamos lado a lado para que cresça num ambiente de amor e
respeito.
Tinham chegado ao parque do
restaurante, ele estacionou o carro e levantou os óculos escuros, voltando-se
para ela, que desapertava o cinto. Esticou o braço e tirou-lhe os óculos. Uma
lágrima desprendeu-se dos olhos femininos e deslizou-lhe pelo rosto. Num movimento suave
com o dedo grande ele limpou-a.
-Confia em mim, Teresa.
Juro-te que não te farei mal, se fores leal comigo. E agora põe um sorriso
nesse rosto bonito e vamos entrar que está na hora.
16 comentários:
Ia tudo tão bem e no final estragou tudo com uma única frase:
"Juro que não te farei mal se fores leal comigo"
Raios e coriscos!! O que entenderá ele por lealdade ou falta dela?
E que necessidade ele tinha de mostrar a sua superioridade em relação à jovem futura mãe? Foi como se lhe colocasse uma espada sobre a cabeça...mas isto sou a pensar!!!
Veremos o seguimento da conversa, que isto está para lavar e durar.
Boa noite. Elvira.
Uma situação ingrata a dela. Eu, acho que emigrava :-)
Boa noite, Elvira
Um relacionamento que começa muito conturbado.
Lia e lembrei que a minha mulher NUNCA teve enjoos na gravidez.
Abraço
A passar por cá para acompanhar a história.
Isabel Sá
Brilhos da Moda
Está a ficar interessante.
Um abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Puxa, que situação agora instalada...Quase uma faca no pescoço, pela gravidade da "ameaça", cobrando e forçando lealdade...
beijos, tudo de bom,chica
Interessante....
:)
uma "estória" muito bem contada,
procurarei acompanhar, com todo o gosto
beijo
Muito bom, este capitulo!:)
-
Sonhava ser ...
-
Beijos, e um excelente dia
Concordo com a Janita, a frase do Miguel não foi simpática.
Espero que a Teresa não a tenha ouvido...
Beijo.
Aquele "se fores leal comigo" acho que foi "da boca para fora".
Um abraço.
Boa noite Elvira,
Apreciei a forma como João falou com Teresa.
A história está a tomar um rumo que me está agradar;))!!
Um beijinho,
Ailime
É, eles tem que manterem uma relação de companheirismo e confiança, pensando, sempre, no bem da criança.Gostei da firmeza dele.
Abraços fraternos!
Com certeza, com o diálogo e a compreensão, tudo dará certo. Aguardemos!
Abraços,
Furtado
Prometi e cumpri!
Hoje fico-me pela leitura deste capítulo. Amanhã, tentarei ler mais dois ou três.
O meu INR está perigosamente baixo, mas já seria de esperar, com estes mexidelas todas e e com o facto de, no dia da cirurgia dentária, não ter podido fazer nem a picadela de Enoxaparina...
Grão a grão, esta galinha acabará por acompanhar as novas publicações em tempo real :)
Forte abraço, Elvira.
A última frase dele é de alguém habituado a ter poder e a contar só consigo, mas terá dificuldades em conquistar o coração de uma mulher independente...
Acredito que ele não a disse com intenção, trata-se de dois personagens com muitas questões por resolver.
Uma boa escolha de restaurante, vamos ler o próximo
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