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10.7.20

CILADAS DA VIDA - PARTE IV



Desde muito nova, Teresa sempre sonhou ser mãe, e depois que completou vinte e nove anos o sonho tornou-se cada dia mais premente. Porém, não queria envolver-se em nenhuma relação. A sua desconfiança em relação ao sexo masculino era genética. E a  única experiência sexual que tivera durante o tempo da Universidade, não fora de modo algum gratificante, ao ponto de desejar repetir o ato. De modo que depois de muito pensar, e apesar da opinião contrária de Inês, que se esforçara para a convencer, a iniciar uma relação, inclusive apresentando-lhe alguns amigos, ela decidira-se pela produção independente e recorrer à Procriação Medicamente Assistida,  a fim de conseguir engravidar. 
Falou com o seu médico assistente, que lhe indicou os passos a seguir e então dirigiu-se ao Centro Clínico especializado nesse método, e marcou consulta com um dos médicos, desse centro médico.
Depois de várias consultas, entrevistas e exames médicos, físicos e psicológicos, foi considerada como tendo o perfil necessário, para se submeter à Inseminação Artificial, e marcado o dia do procedimento, para o seu próximo período fértil
Isso acontecera na semana anterior, faria no dia seguinte dez dias, que o procedimento ocorrera, e esse era o prazo, que o médico lhe dissera, ser necessário, para saber se tinha ou não conseguido engravidar. Claro que o clínico tinha-a avisado, de que embora a percentagem de sucesso fosse bastante alta, a gravidez não era garantida. A maioria das mulheres engravidava, a primeira vez que recorria ao processo mas outras só o conseguiam em duas ou mais tentativas.
Todavia Teresa era uma mulher de fé e acreditava que tudo iria dar certo. Por isso, quisera passar aquele fim de semana, na casa onde nascera, e onde vivera grande parte da sua vida. Antes da viagem, comprara na farmácia dois testes, e estava desejando o nascer do dia seguinte, a fim de saber, se as suas esperanças se tinham ou não concretizado.
 Preparava o almoço, quando o telemóvel tocou. Atendeu
- Olá aldeã, já tens notícias? - perguntou Inês.
- Bom dia, Inês.  Só amanhã farei os dez dias e os testes. Até lá continuo convencida de que estou grávida. E vocês como estão? E o meu afilhado?
- O Martim está cada dia mais rabugento. Agora deu em acordar de noite, a chorar. Tem dois dentinhos a nascer, a minha mãe diz que é disso, não sei. E de resto estamos tão bem quanto possível.
- O que queres dizer com isso? Brigaram?
- De modo algum. Mas o Gustavo tem cada dia mais trabalho, tem dias que pede à secretária que lhe vá buscar qualquer coisa ao restaurante que fica perto do escritório, e nem vem almoçar a casa. E eu não nasci para fada do lar. Sinto falta de um emprego. Afinal fartei-me de estudar para nada. Mas não te preocupes isto passa. Telefona-me logo que tenhas feito o teste. Estou ansiosa por saber o resultado.
- Claro, mulher, a quem mais telefonaria? És a minha melhor amiga!
-Sou? Olha que honra, nem sabia que tinhas outras. – disse rindo Inês. Até amanhã então. Tenho que desligar, o teu afilhado já acordou. Beijo
Desligou sem esperar resposta.
Teresa terminou a salada fria que estava a fazer, e colocou-a na mesa, sentando-se em seguida para almoçar
Pensou na sua mãe, e no que ela pensaria, se fosse viva e soubesse da sua decisão. Tinha a certeza que tentaria demovê-la da sua ideia. Iria dizer-lhe que se queria uma criança, fizesse uma adoção. Afinal  as instituições estavam cheias de crianças abandonadas, ansiosas por alguém que as amasse. 
 Esse tinha sido também o argumento do Mário e da esposa. E ela tê-lo-ia feito se o seu organismo fosse estéril. Mas não era o caso. Queria sentir a sensação de carregar um filho no ventre, amá-lo muito antes de sentir a alegria e a emoção de o apertar nos braços  após o parto. Eram emoções que não conheceria numa adoção, embora tivesse a certeza de que iria amá-la muito. Depois ela também sabia que a menos que optasse por uma criança já com alguns anos, teria que entrar numa lista de espera e esperar talvez anos para ter um bebé por adoção.
Depois do almoço. lavou a loiça e foi para a sala. Sentou-se num sofá e abriu o livro que tinha em cima da mesa “O grande livro da Grávida” e pouco depois adormecia com o livro no colo.


18 comentários:

noname disse...

Uma boa temática esta. Vamos ver onde a Elvira nos leva :-)

Boa noite

Pedro Coimbra disse...

Conheço pessoalmente casos semelhantes.
Que acabaram em felizes adopções.
Bfds

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
É sempre uma decisão muito complexa , mas não deixa de ser valiosa , principalmente para alguém que quer muito ser mãe e não tem intenção de constituir família através do casamento .
Vamos esperar para ver como tudo vai evoluir .

J R

Jaime Portela disse...

Até aqui, a vida da Teresa, apesar da perda de toda a família, que era pequena, nem correu nada mal.
Estou a gostar imenso da história e da maneira como é contada. Tem ritmo...
Bom fim de semana, querida amiga Elvira.
Beijo.

Tintinaine disse...

Não tarda nada está aí o Luis a tratar do assunto!
Bom fim de semana!!!

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um belo capitulo, gostei.
Um abraço e bom fim-de-semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Gaja Maria disse...

Elvira, com a ausência perdi-me nas leituras mas quis visitá-la e desejar-lhe um bom dia e um abraço.

Maria João Brito de Sousa disse...

A ver vamos se a vida prega, ou não, uma cilada à protagonista desta história.

Abraço e um bom fim-de-semana, amiga!

chica disse...

E lá vamos nós esperar pra ver mais e mais.Tá muito legal te acompanhar e ver os enredos...Gostando muito! bjs, chioca

Cidália Ferreira disse...

Será que vai ficar gravida? Humm vamos esperar!
.
Sinto as fragrâncias de uma outra primavera

Beijo e um excelente fim de semana

" R y k @ r d o " disse...

Vamos ver como vão decorrer os próximos capítulos.
.
Cumprimentos

Leninha Brandão disse...

Muito interessante a história que nos prende do princípio ao fim... vamos aguardar esta cilada para ela programada pelo destino.
Gostei muito de seu conto.

Janita disse...

Leio, cismo e calo...Aceitarei o que a Senhora do Destino, nestas histórias fictícias, decidir.

Um abraço e bom FDS.

Edum@nes disse...

Cada pessoa decide o que pode e deve fazer na vida, para bem de si mesma.

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

aluap disse...

Este tema dos nascimentos é interessante, há casos e casos, e por vezes é mesmo necessária esta solução.
Se não estiver grávida e se apaixonar tudo muda.
Bom fim de semana.

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Muito relevante o abordar dessa temática!
Abraços fraternos!

teresa dias disse...

Hum, não gostei da Inês. Espero mudar de opinião pois a Teresa não merece uma desilusão.
Beijo

João Santana Pinto disse...

Um grande tema... acompanhado dos sentimentos de quem quer muito ter um filho.

Válido para o caso da personagem principal... como para o de muitos casais que pelos mais diversos motivos acabam por recorrer.

Muito pertinente como tema.

Há neste momento um início do perfil psicológico da personagem, estou curioso, ainda não consigo adivinhar o desenrolar da história.