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1.7.20

ISABEL - PARTE XXXVI







Nessa mesma noite, eram quase nove e meia, quando a campainha da porta tocou. Pensando ser a porteira, Isabel abriu e deparou com Luís. Tentou fechar a porta mas ele  apressou-se a colocar o pé entre esta e o batente impedindo-o.
- Desculpa Isabel, mas vou entrar. Preciso falar contigo. Depois de me escutares, se entenderes que devo sair, prometo que o faço.
Ela não respondeu. Estava espantada. Como é que ele sabia a sua morada? E se ela não lhe abriu a porta da rua como é que a porteira o deixou subir sem ao menos avisá-la? Ele entrou e fechou a porta atrás de si.
- Vem. Já vais entender tudo, - disse como se tivesse lido os seus pensamentos.
Tremente Isabel dirigiu-se à sala seguida por ele.
 - Senta-te Isabel. A conversa vai ser longa. Mas antes, deixa que te dê o livro que deixaste lá esta tarde. Tem uma dedicatória especial.
Estendeu-lhe o livro, que ela pousou sobre a mesinha. Estava pálida e os olhos apresentavam sinais evidentes de choro.
- Lê Isabel. A conversa vai ser mais fácil depois.
Ela abriu o livro e leu:
“Para a mulher da minha vida. Luís” E logo por baixo “Com muito amor. Nuno Luís Teixeira Fraga”
Olhou-o espantada.
- Esse é o meu nome completo. Quando eu era menino, e porque o meu pai se chama Nuno, toda a família me chamava de Luís. Usei esse nome até aos dezanove anos. Depois…
E então, Luís falou de Odete, da sua traição e de como esse facto influenciara a sua vida, e a sua relação com as mulheres, daí para a frente. Falou da sua vida de aventureiro, dos muitos anos vividos no estrangeiro, dos muitos países percorridos na sua auto caravana, do trabalho de jornalista independente até há bem pouco tempo, do êxito do primeiro livro, "Renascer",  da decisão de se dedicar só à sua carreira de escritor, do desejo dos pais em vê-lo de volta ao País.
Isabel quase não se atrevia a respirar. Percebia que o homem estava desnudando a sua alma para ela, e isso era tão grandioso, tão emocionante, que todas as suas dúvidas se dissiparam.
- Quando cheguei, e antes de iniciar a minha nova vida, decidi ir uns dias de férias. Nem sei porque escolhi Lagos, - continuou Luís. Naquele dia, o meu último dia de férias, por causa do nevoeiro não tinha pensado ir à praia, mas sentia-me atraído para lá como se alguma coisa me empurrasse. Quando me cruzei contigo fiquei intrigado. Mas quando tropeçaste e te segurei nos braços, não sei o que me aconteceu, que nunca mais deixei de pensar em ti. Depois, começaram a acontecer muitas coisas estranhas. Passei a encontrar-te em diversas ocasiões. Por vezes nem sequer me vias, mas eu sim. Quando naquele dia chocámos na esquina da rua, e te disse que me chamava Luís, o meu subconsciente já tinha entendido aquilo que eu, só entendi bem mais tarde. Porque hoje, eu sou Nuno para toda a gente, excepto para duas pessoas a quem muito amo. Meus pais, para quem continuo a ser o Luís.
As lágrimas rolavam silenciosas pelas faces de Isabel.
- Na altura nem me apercebi disso, mas hoje vejo que nesse momento, já estava a dar-te um lugar muito especial na minha vida. Quando me apercebi da verdade dos meus sentimentos, falei de ti aos meus pais. Eles estão ansiosos por te conhecer, especialmente a minha mãe que sempre sonhou ver-me casado. Ontem, quando saí do metro, vi-te entrar neste prédio. Espantado, bati à porta da porteira. Acreditas que eu moro no 6º C deste mesmo prédio?
- Não é possível!
- É. E nem imaginas, a minha luta ontem, para não descer e vir ter contigo. Porém tinha um plano e queria cumpri-lo. Tinhas aceitado ir almoçar comigo no Domingo. Sabes onde ia levar-te? A casa dos meus pais. E lá, com eles por testemunha, ia pedir-te para partilhares a minha vida, oferecendo-te em troca o meu amor.
Levantou-se.
-Só não esperava que aparecesses no hotel e estragasses a surpresa!
- Oh! Luís, e eu que pensei tão mal de ti. Sentia-me enganada. Perdoa-me.
Ele estendeu-lhe a mão e puxou-a para si. Apertou-a de encontro ao peito, segurou-lhe o queixo, e com a urgência de quem se buscou por toda a eternidade, aprisionou a sua boca num longo e apaixonado beijo.


FIM


 Elvira Carvalho

20 comentários:

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Uma história linda, que me cativou desde o início e teve um desfecho feliz.
Obrigada por me ter proporcionado mais uma excelente leitura.
Beijinhos,
Ailime

noname disse...

Belo final.

Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Tudo está bem quando acaba bem.
A minha mulher e as três irmãs são todas Luiza.
Com um Z.
Foi o avô.
Sabe-se lá porquê...

Joaquim Rosario disse...

Bom dia
Mais uma historia emocionante que chegou ao fim .
A autora já nos habituou com o seu estilo muito próprio , que nos faz acompanhar os seus contos desde o início ao fim , sempre com a maior das emoções .
Mais uma vez PARABÈNS !!

J R

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história.
Isabel Sá  
Brilhos da Moda

isabel disse...

Minha querida Elvira,
Obrigada por esta linda e sentida história.
A humaninda precisa deste Amor verdadeiro para encontrar o equilibrio.
Até sempre e cuide-se

Francisco Manuel Carrajola Oliveira disse...

Um final em beleza.
Um abraço e continuação de uma boa semana.

Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros

Maria João Brito de Sousa disse...

Era inevitável, amiga. O amor entre estes dois personagens, era mesmo inevitável :)


Muita saúde e um forte abraço!

Tintinaine disse...

E acabou! E bem, pode dizer-se!
Ficamos à espera do que se segue!

chica disse...

E acabou! Passou tão rápida a leitura!Adorei! Final feliz! beijos, tudo de bom,chica

" R y k @ r d o " disse...

Bom dia:- Tudo está bem quando acaba bem.
.
Abraço poético

Cidália Ferreira disse...

Mais um belo conto terminou. Parabéns, Elvira por nos encantar com os seus romances! 🌹
**
Luar em silenciada noite.

Beijo e um dia muito feliz!

Fá menor disse...

Gostei muito, amiga Elvira. Não esperava um final já, assim tão de repente, mas foi muito bonito. A Elvira tem o dom de saber bem construir os enredos que nos cativam. Parabéns!

Beijinhos.

Fernandinha disse...

A história teve um final muito feliz!! Venho agradecer-te o comentário que me fizeste no meu poema número um,fico contente que tenhas gostado do que escrevi!! Como disse no início do meu comentário aqui,em relação a esta tua história,teve um final feliz,é disso que eu gosto!! Muitos beijinhos e boa continuação de semana,feliz mês de Julho para ti!!

Edum@nes disse...

Grande Luis, assim mesmo é que se prova a tua paixão por Isabel. Talvez, a estas horas, muito felizes em viagem de lua-de-mel, pelo mundo ainda continuarão?

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Ana Freire disse...

Um final surpreendente, emocionante, e tão romântico!... Gostei imenso!
Adoro finais felizes!... Para tragédias... já basta o mundo, que nos chega, pelos meios de comunicação, e com bem poucas boas notícias...
Um beijinho grande! E parabéns, por mais capitulo formidável, que me foi dado a apreciar... e a admirar a sua talentosa escrita, Elvira!
Tudo de bom!
Ana

aluap disse...

Tudo está bem quando acaba bem.

Bom fim-de-semana.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Já se esperava, assim o final.
Gostei muito de seguir este conto.
Bom fim de semana.
beijinhos
:)

Rosemildo Sales Furtado disse...

Mais uma história/estória que se finda deixando aquele gostinho de quero mais. Adorei Elvira!

Abraços,

Furtado

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

A história em todo seu contexto foi linda, romântica e cheia de emoções, esse capítulo final foi a prova real do quanto é encantador esse conto.
Abraços fraternos!