Acordou tarde e com a cabeça pesada. O sono fora povoado de sonhos esquisitos, em que via um homem com o rosto encoberto, envolto em neblina. Ela sabia que o homem era Fernando era o seu corpo, o seu jeito, mas quando o rosto se tornava visível era um desconhecido com uns profundos olhos cinzentos. Depois o rosto ia-se esfumando e ficava de novo encoberto e ela voltava a ter a certeza de que era o falecido, mas então a neblina desaparecia e ela via uma figura masculina com um pé em cima de uma muralha, o corpo inclinado para a frente e o rosto voltado para o lado contrário. Era o mesmo desconhecido? Ou era outro? Ela não sabia. Mas de uma coisa tinha certeza. Não era Fernando. Mas então o homem endireitava-se e afastava-se e embora ela não lhe visse o rosto, sabia que era o falecido marido.
Levantou-se, tirou uma mala que estava em cima do armário e colocou-a sobre a cama. Depois abriu o roupeiro e escolheu umas calças de ganga e um top sem mangas para a viagem. Dobrou cuidadosamente o resto da roupa e meteu-a na mala.
Abriu uma gaveta separou duas peças de roupa intima meteu as restantes num saquinho de algodão florido, atou com a fita de cetim rosa e guardou-a igualmente na mala.
De seguida dirigiu-se à casa de banho e meteu-se no duche. Deixou que a água lhe resvalasse pelo corpo esbelto durante alguns minutos tentando afastar da mente a recordação do sonho esquisito que tanto a inquietava. Inutilmente. A água acalmava o corpo mas não o espírito.
Pensou em Paulo. Que diabo lhe teria acontecido para pedir transferência? Paulo era o director comercial de uma grande superfície. Era também o encarregado das campanhas publicitárias da empresa e fora o seu primeiro cliente. Ele acreditara no talento de uma jovem inexperiente, e dera-lhe a oportunidade que a maioria dos jovens não tem. Foi um risco para ele e uma bênção para ela.
Graças a esse primeiro trabalho bem sucedido viera uma boa carteira de clientes. Paulo era um homem a rondar os cinquenta anos, completamente apaixonado pela esposa. Tinha uma única filha. Maria uma jovem que ia agora entrar para a Universidade. Ele era além de um bom cliente, também um grande amigo. E agora? Decerto a empresa continuaria a trabalhar com ela. Pelo menos até ao fim do ano, data em que terminaria o actual contrato.
Graças a esse primeiro trabalho bem sucedido viera uma boa carteira de clientes. Paulo era um homem a rondar os cinquenta anos, completamente apaixonado pela esposa. Tinha uma única filha. Maria uma jovem que ia agora entrar para a Universidade. Ele era além de um bom cliente, também um grande amigo. E agora? Decerto a empresa continuaria a trabalhar com ela. Pelo menos até ao fim do ano, data em que terminaria o actual contrato.
O telemóvel tocou. Isabel fechou a água enrolou-se na toalha e dirigiu-se ao quarto. A meio do corredor o aparelho calou-se e ela pensou que quem quer que fosse ligaria de novo, e voltou para a casa de banho.
Espalhou pelo corpo uma camada de creme hidratante com gestos automatizados pelo hábito, enquanto o pensamento lhe fugia para o sonho. Que grande confusão. Seria um aviso do seu subconsciente? E se era, o que quereria dizer-lhe? Porque é que o rosto de Fernando não era visível como em sonhos tantas vezes aparecera ao longo de muitos anos? E porque é que no fim ele se ia embora? E aqueles olhos cinzentos? Porque é que lhe apareciam no sonho, se apenas os tinha vislumbrado durante segundos?
"Esquece Isabel", murmurou sacudindo a cabeça e começando a vestir-se.
Fechou a mala e colocou o saco com os sapatos em cima.
O telemóvel tocou de novo.
- Bom dia. Está tudo bem? – perguntou Amélia
- Bom dia. Sim, está. E contigo? Alguma coisa urgente? Vi que ligaste quando estava no banho.
- Queria saber a que horas chegas. O Paulo telefonou-me. Quer que vamos a um jantar de despedida esta noite em sua casa.
- Está bem. Chego cedo. E ele? Disse se já tem substituto?
- Diz que sim, mas que o substituto ainda não chegou. Parece que é um filho de um amigo dele. Mas diz que não conhece, parece que há muitos anos vive fora do país.
- Está bem. Logo falamos. Estou a acabar de arrumar as coisas. Dentro de uma hora mais ou menos, estou a caminho.
- Então até logo. Boa viagem.
-Obrigado.
E estamos a duas dezena dos 47000 comentários. Quem será que vai virar o milhar?
16 comentários:
Bem, então agora temos 2 lados. Ou o substituto do Paulo ou, os olhos cinzentos :))
Acho que li este post sem ler o outro... é da hora :))
Um abraço :)
Vem aí um encontro surpreendente...
Abraço
A passar por cá para acompanhar a história!
Isabel Sá
Brilhos da Moda
E nós sabemos do desconhecido de olhos cinzentos de que Isabel já se não recorda, ou se recusa a consciencializar...
Abraço, Elvira.
Ora cá vai o meu comentário para ajudar na campanha.
Conforme vou lendo a novela, vou recordando o que já tinha esquecido. Ainda bem que não recordo o desfecho!
Muito bom, e vamos te acompanhando com as surpresas sempre reservadas! beijos, chica
Cada vez mais empolgada nesta historia mimha querida Elvira
Acho que o substituto é o homem dos olhos cinzentos !
beijinhos
:)
Estou curiosa para saber o que vai acontecer!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Estou curiosa para saber o que vai acontecer!
Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube
Ummm :) ansiosa para saber mais desta história.
Será que o homem dos olhos cinzentos é que vai substituir o Paulo?
Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.
Mais uma brilhante episódio! :))
-
"Sete anos, de janela aberta para o mundo"... 🥂
Beijos e uma excelente noite! :)
Que poder descritivo, Elvira! O texto "pegou-me" tão completamente que quase perdi o fôlego. Que venha o próximo capítulo.
Abraço
Boa noite Elvira,
Colocando em dia a minha leitura.
Desta vez atrasei-me,mas estou a gostar imenso.
Beijinhos,
Ailime
Capítulo bem escrito, detalhado e com promessas de grandes emoções!
Abraços fraternos!
Enviar um comentário