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27.5.20

ISABEL - PARTE XI



Acordou tarde e com a cabeça pesada. O sono fora povoado de sonhos esquisitos, em que via um homem com o rosto encoberto, envolto em neblina. Ela sabia que o homem era Fernando era o seu corpo, o seu jeito, mas quando o rosto se tornava visível era um desconhecido com uns profundos olhos cinzentos. Depois o rosto ia-se esfumando e ficava de novo encoberto e ela voltava a ter a certeza de que era  o falecido, mas então a neblina desaparecia e ela via uma figura masculina com um pé em cima de uma muralha, o corpo inclinado para a frente e o rosto voltado para o lado contrário. Era o mesmo desconhecido? Ou era outro? Ela não sabia. Mas de uma coisa tinha certeza. Não era Fernando. Mas então o homem endireitava-se e afastava-se e embora ela não lhe visse o rosto, sabia que era o falecido marido.
Levantou-se, tirou uma mala que estava em cima do armário e colocou-a  sobre a cama. Depois abriu o roupeiro e escolheu umas calças de ganga e um top sem mangas para a viagem. Dobrou cuidadosamente o resto da roupa e meteu-a na mala.
Abriu uma gaveta separou duas peças de roupa intima meteu as restantes num saquinho de algodão florido, atou com a fita de cetim rosa e guardou-a igualmente na mala.
De seguida dirigiu-se à casa de banho e meteu-se no duche. Deixou que a água lhe resvalasse pelo corpo esbelto durante alguns minutos tentando afastar da mente a recordação do sonho esquisito que tanto a inquietava. Inutilmente. A água acalmava o corpo mas não o espírito.
Pensou em Paulo. Que diabo lhe teria acontecido para pedir transferência? Paulo era o director comercial de uma grande superfície. Era também o encarregado das campanhas publicitárias da empresa e fora o seu primeiro cliente. Ele acreditara no talento de uma jovem inexperiente, e dera-lhe a oportunidade que a maioria dos jovens não tem. Foi um risco para ele e uma bênção para ela. 
Graças a esse primeiro trabalho bem sucedido viera uma boa carteira de clientes. Paulo era um homem a rondar os cinquenta anos, completamente apaixonado pela esposa. Tinha uma única filha. Maria uma jovem que ia agora entrar para a Universidade. Ele era além de um bom cliente, também um grande amigo. E agora? Decerto a empresa continuaria a trabalhar com ela. Pelo menos até ao fim do ano, data em que terminaria o actual contrato.
O telemóvel tocou. Isabel fechou a água enrolou-se na toalha e dirigiu-se ao quarto. A meio do corredor o aparelho calou-se e ela pensou que quem quer que fosse ligaria de novo, e voltou para a casa de banho.
Espalhou pelo corpo uma camada de creme hidratante com gestos automatizados pelo hábito, enquanto o pensamento lhe fugia para o sonho. Que grande confusão. Seria um aviso do seu subconsciente? E se era, o que quereria dizer-lhe? Porque é que o rosto de Fernando não era visível como em sonhos tantas vezes aparecera ao longo de muitos anos? E porque é que no fim ele se ia embora? E aqueles olhos cinzentos? Porque é que lhe apareciam no sonho, se apenas os tinha vislumbrado durante segundos?
"Esquece Isabel", murmurou sacudindo a cabeça e começando a vestir-se.
Depois olhou-se no espelho do roupeiro. Por momentos ficou indecisa entre uns ténis brancos e uns sapatos rasos, azuis, tipo sabrinas. Acabou por escolher estes e juntou os ténis ao restante calçado, num saco de lona azul com riscas brancas.
Fechou a mala e colocou o saco com os sapatos em cima.
O telemóvel tocou de novo.
- Bom dia. Está tudo bem? – perguntou Amélia
- Bom dia. Sim, está. E contigo? Alguma coisa urgente? Vi que ligaste quando estava no banho.
- Queria saber a que horas chegas. O Paulo telefonou-me. Quer que vamos a um jantar de despedida esta noite em sua casa.
- Está bem. Chego cedo. E ele? Disse se já tem substituto?
- Diz que sim, mas que o substituto ainda não chegou. Parece que é um filho de um amigo dele.  Mas diz que não conhece, parece que há muitos anos vive fora do país. 
- Está bem. Logo falamos. Estou a acabar de arrumar as coisas. Dentro de uma hora mais ou menos, estou a caminho.
- Então até logo. Boa viagem.
-Obrigado.




E estamos a duas dezena dos 47000 comentários. Quem será que vai virar o milhar?

16 comentários:

Alexandra disse...

Bem, então agora temos 2 lados. Ou o substituto do Paulo ou, os olhos cinzentos :))

Acho que li este post sem ler o outro... é da hora :))

Um abraço :)

Pedro Coimbra disse...

Vem aí um encontro surpreendente...
Abraço

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!
Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Maria João Brito de Sousa disse...

E nós sabemos do desconhecido de olhos cinzentos de que Isabel já se não recorda, ou se recusa a consciencializar...

Abraço, Elvira.

Tintinaine disse...

Ora cá vai o meu comentário para ajudar na campanha.
Conforme vou lendo a novela, vou recordando o que já tinha esquecido. Ainda bem que não recordo o desfecho!

chica disse...

Muito bom, e vamos te acompanhando com as surpresas sempre reservadas! beijos, chica

Isabel disse...

Cada vez mais empolgada nesta historia mimha querida Elvira

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Acho que o substituto é o homem dos olhos cinzentos !

beijinhos

:)

Teresa Isabel Silva disse...

Estou curiosa para saber o que vai acontecer!

Bjxxx
Ontem é só Memória | Facebook | Instagram | Youtube

Teresa Isabel Silva disse...

Estou curiosa para saber o que vai acontecer!

Bjxxx
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Gaja Maria disse...

Ummm :) ansiosa para saber mais desta história.

Edum@nes disse...

Será que o homem dos olhos cinzentos é que vai substituir o Paulo?

Tenha uma boa noite amiga Elvira. Um abraço.

Cidália Ferreira disse...

Mais uma brilhante episódio! :))


-
"Sete anos, de janela aberta para o mundo"... 🥂

Beijos e uma excelente noite! :)

AC disse...

Que poder descritivo, Elvira! O texto "pegou-me" tão completamente que quase perdi o fôlego. Que venha o próximo capítulo.

Abraço

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Colocando em dia a minha leitura.
Desta vez atrasei-me,mas estou a gostar imenso.
Beijinhos,
Ailime

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Capítulo bem escrito, detalhado e com promessas de grandes emoções!
Abraços fraternos!