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22.5.20

ISABEL - PARTE VIII

                                         Estátua do rei D. Sebastião
                                                    Foto minha


Nessa mesma tarde, perto das seis, Isabel saiu de casa com intenção de dar um último passeio pela baixa da cidade. O dia, que de manhã ameaçara chuva, apresentava agora um céu limpo, onde reinava um sol intenso.
Vestia uma saia calção, de algodão azul-marinho e uma blusa branca do mesmo tecido, com um decote na diagonal que deixava a descoberto um dos  ombros. O cabelo castanho apanhado mostrava a forma longilínea do pescoço.
Óculos escuros, escondiam-lhe os olhos sem tirar encanto a um rosto onde se destacava a boca pequena e bem desenhada. Desceu a rua Cândido dos Reis em direção ao centro histórico, passou pela Praça Gil Eanes, onde um turista se deixava fotografar junto à polémica estátua do rei D. Sebastião da autoria do escultor João Cutileiro, lançou um breve olhar à estátua humana, que do outro lado, aguardava que alguém deitasse na caixa uma moeda, para esboçar um breve agradecimento e aliviar ainda que momentaneamente o corpo da incomoda imobilidade.
Seguiu por entre esplanadas até ao mercado municipal, e aí atravessou a Avenida dos Descobrimentos e foi sentar-se num banco sob a sombra de uma frondosa palmeira, junto ao canal. Encantava-se com aquela enorme avenida que corria desde o início da cidade, ao longo da ribeira de Bensafrim, até ao forte Pau da Bandeira, onde se juntava ao mar. 
Pela ribeira, que naquele sitio mais parecia um canal, passavam constantemente barcos, dos mais variados tamanhos e origens.
Grandes e luxuosos iates, que pertenciam aos turistas e se dirigiam à marina, barcos de turismo que fazem a ligação Lagos – Sagres - Lagos, traineiras que saíam ou chegavam da pesca, e os pequenos barcos a motor, sempre cheios de turistas para uma curta viagem até à Ponta da Piedade, cujas grutas marinhas e formações rochosas, são o orgulho da cidade.
Isabel retirou da bolsa um livro e tentou concentrar-se na leitura. O livro "Tsunami!" de Richard Martin Stern, contava a história de um oceanógrafo que descobriu, uma plataforma rochosa abaixo da superfície do oceano Pacífico que está prestes a desmoronar-se o que provocará uma onda aterradora e de dimensão  gigantesca  capaz de destruir por completo a cidade de Encino Beach, no sul da Califórnia. O problema é que tudo parece demasiado calmo e ninguém quer acreditar no cientista, que luta com todas as forças para convencer as pessoas a abandonar a cidade antes do desastre, sabendo que a cada hora que passa o tempo encurta e a tragédia aproxima-se.
 A leitura era interessante, mas a atenção de Isabel aos poucos foi-se afastando,  até que a memória mergulhou de novo no passado. Ultimamente recordava demasiadas vezes o passado. Não sabia porquê, mas que acontecia era um facto.
Lembrou aquela tarde em que disse aos pais que queria trabalhar. E pouco tempo depois estava a trabalhar numa papelaria. Mas o trabalho, não chegava para apagar na memória e no coração a angústia pelo que tinha acontecido. Decidiu estudar. Matriculou-se num curso nocturno. Era uma boa aluna. Terminou o Secundário. Seguiu-se a faculdade. Ela sempre gostara muito de publicidade e era muito criativa. Na hora da escolha decidiu-se pelo curso de Marketing, Publicidade e Relações Públicas. O fim do Curso foi o último dia em que teve os pais junto de si.
Fechou o livro. Olhou à volta e reparou no homem que um pouco mais à frente observava qualquer coisa na água. Encontrava-se de frente para a ribeira, com um pé em cima da muralha e a mão apoiada no joelho. Vestia calça de ganga e uma camisa branca. 
Isabel não conseguiu ver-lhe o rosto voltado para a marina, mas qualquer coisa nele lhe despertou a atenção e pensou que a figura não lhe era totalmente estranha.          

18 comentários:

noname disse...

A história ganha novos contornos :)

Boa noite, Elvira

Pedro Coimbra disse...

Quando ele tirar os óculos será que tem olhos cinzentos??
Bjs

Isa Sá disse...

A passar por cá para acompanhar a história!

Isabel Sá  
Brilhos da Moda

Maria João Brito de Sousa disse...

Muito interessante, este capítulo que, em pormenor, nos dá a conhecer alguns pontos turísticos de Lagos, sem perder de vista a jovem protagonista.

Forte abraço, Elvira.

Janita disse...

Tenho fortes suspeitas sobre as razões que levam Isabel a essa atração (fatal?) pelo homem desconhecido; mas não digo! E não tem só a ver com o facto de ser o mesmo homem da praia, não!! :)

Um abraço, Elvira.

chica disse...

Ela terá alguma surpresa/ Tá muito legal te ler! bjs, chica

" R y k @ r d o " disse...

Será que esse homem é um amor antigo?
.
Cumprimentos
Cuide-se

Cidália Ferreira disse...

Acho que o melhor estará para vir!:)
-
Versos em branco, de gratidão.

Beijinhos e um excelente fim de semana! :)

Alexandra disse...

Adoro os contornos que a Elvira faz com a escrita e as imagens.

A Isabel, anda por aí às voltas com as sincronicidades da vida...

Mais um capítulo, Elvira, vá lá!! :))

Um abraço e saúde.

ps: lembro-me vagamente da inauguração da estátua de D. Sebastião. Mas lembro-me muito bem da "polémica" que levantou. Na altura, as pessoas não estavam preparadas para este tipo de escultura, e o Mestre João Cutileiro sempre esteve muito à frente, felizmente. Mais uma informação, se a Elvira não souber. A face de D. Sebastião teve como influência o rosto do filho mais novo de João Cutileiro. Sei-o de fonte segura, mas como andei na escola com o filho dele, nem preciso da fonte. É tal e qual! :))

Alexandra disse...

E eu voltei também. :)) Para lhe dizer que o próprio confidenciou ao meu Pai a característica do rosto da estátua. Quem não conheceu João Cutileiro, naquela terra?! Tenho algumas histórias engraçadas com ele. Talvez venha a fazer postes. Quem sabe?

Imaginei que fosse o seu mais-que-tudo. :))

Obrigada pelas suas presenças que são sempre gratificantes.

Um abraço e as melhoras.:)

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

Hum.
DEve ser o homem da praia, só pode ser.
Acompanhando.
bom final de semana.
beijinhos
:)

Edum@nes disse...

Esse homem será aquele dos olhos cizentos, ou será outro?

Bom fim de semana amiga Elvira. Um abraço.

Manuel Veiga disse...

muito bem!
escreves com muita vivacidade~
beijo

Lúcia Silva Poetisa do Sertão disse...

Magnífico capítulo! Vamos adiante para as surpresas da história!
Beijos!

aluap disse...

Um D. Sebastião muito diferente da estátua da Estação do Rossio e que presentemente está numa Sala do edifício onde trabalho, no Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto, embora há quem diga que não é a mesma, que é uma segunda estátua feito pelo mesmo escultor. Os próprios especialistas não são unânimes.
Quanto à história de Isabel, talvez daqui para a frente seja parecida com a da novela brasileira "De Corpo e Alma" que abordou o tema de transplante e doação de órgãos. Para mi, o novo Director Comercial terá recebido algum orgão do Fernando e talvez por isso Isabel se apaixone por ele, como a Paloma (Cristiana Oliveira) se apaixonou por Diogo (Tarcisio Meira).
Bom fim de semana Elvira.

AC disse...

A Elvira melhorou muito nas descrições e, principalmente, na utilização correcta da pontuação. Os meus parabéns.

Abraço

Ailime disse...

Boa noite Elvira,
Um episódio muito bom, me prendeu à leitura do princípio ao fim.
Beijinhos,
Ailime

João Santana Pinto disse...

O nosso passado está muitas vezes presente, quer por saudade, quer por solidão ou mesmo quando algo de bom acontece e nos faz ter vontade de partilhar com alguém distante.

A vida é feita de "cruzamentos" quem podem fazer acreditar no poder do destino e parece-me estar a acontecer... vamos aguardar